Estou sentada ao sofá, encostada e de pernas cruzadas. Bebo um chá de camomila feito pelo meu companheiro, o meu amor. A caneca negra combina com o meu grande medo de algum dia ficar sozinha.

A minha alma entorpecida e mordida pela ansiedade, deixa-me receosa. Tento pensar em algo bom, abraçar as boas coisas e esquecer a doença por alguns minutos.

Olho para trás e espreito a cozinha, ele está de costas e distraído com a limpeza. Volto a endireitar-me, olho para o chá e imagino uma folha a flutuar no líquido morno. Era bom conseguir ver a minha sina neste bom chá, ao menos ficaria mais aliviada em saber que tudo poderia ficar bem...

Dou um golo e inspiro fundo... Penso, talvez até esteja a pensar demasiado.

Até posso pensar em coisas que não quero e ficar sem dizer nada, mas uma coisa eu desejo, que ele fique comigo.

Sei que já tivemos os nossos contratempos, porém não esqueço os nossos bons momentos.

Apesar de o meu coração estar a ser enrolado por picos de rosas, este ainda consegue bater por ele, porque é ele que me dá a esperança.

Um dia de cada vez, diz ele sempre que necessito de recuperar o ar.

Está tudo bem, diz ele quando me vê em baixo.

Tu tens força para lutar, ele comenta comigo para me levantar.

As mãos dele estão sempre lá para me suportar, para demonstrar que por mais que o mundo se vire contra mim, que eu consigo confrontá-lo e ganhar.

Eu não sei se vai ficar comigo para sempre, tenho medo de o perder, de que se canse dos meus altos e baixos e que se vá embora. Eu quero ficar aqui com ele, neste canto do mundo, abraçada pelos seus longos e mornos braços, sentir o seu respirar calmo e escutar o batimento harmonioso. Preciso de dele para sentir o chão debaixo de mim e ver as estrelas a acima de nós.

Enquanto eu luto contra a vozes dentro da minha cabeça, eu tento escutar as palavras dele, por favor faz-me lembrar de quem eu era pois eu não consigo recordar-me. Sinto que estou dividida em várias partes e que aos poucos se vão espalhando, perdendo-se á medida que os dias vão passando.

Em mim eu não vejo nada, mas ele diz o oposto. Quando diz que eu sou forte, eu vejo-me como um ser fraco, diz que eu sou amada, mas tenho dificuldades em sentir isso, demonstra que eu estou segura, que há um porto seguro onde me posso firmar, porém sinto que caiu e só me consigo agarrar por uma corda velha e fraca.

Na minha mente, tudo que para ele é simples de entender, eu complico. Não o faço de prepósito, no entanto não consigo evitá-lo.

Sem ele eu perco-me...

Dou outro golo no chá e suspiro. Escuto os passos dele aproximarem-se e observo-o a sentar-se a meu lado. Entrega-me um bolinho de chocolate e sorri para mim.

- Vais ficar bem amor. - Ele diz num tom carinhoso e eu pego no bolo. - És forte e nós dois juntos vamos conseguir lidar com a depressão.

Pouso o bolo e a caneca no braço do sofá, aninho-me nele. Aqui está ele, a minha iluminação que me diz palavras doces para não desistir. Quando menos espero, ele aparece e faz a noite se tornar dia.

- Amo-te coração. - As palavras são baixas e ditas ao meu ouvido. Suavemente deposita-me um beijo nos lábios e de seguida na testa. Olha-me nos olhos... Sei que ele quer dizer mais, mas não encontra as palavras certas para transmitir o que sente, a sua íris reluz e eu esboço um pequeno sorriso.

- Também te amo. Ficas comigo?

- Sempre amor, não tenhas dúvidas disso.

E eu acredito.

Desabafos de uma depressivaOnde histórias criam vida. Descubra agora