Barcelona e Ele

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Há duas semanas em Barcelona, Jungkook pintava em ruas as construções grandiosas e belas, casais apaixonados, crianças bonitas e sorria como se a vida fosse doce. Seu chapéu preto, seu cardigã preto, suas botas pretas, o colar prateado em seu pescoço e as argolas em suas orelhas, as tatuagens de seus braços, o copo de bebida descansando no parapeito na janela enquanto com um pincel e tintas ele tingia folhas em branco e as tornava arte. Seu sorriso estava sempre aberto, doce e leve, seus olhos de jabuticaba castanhos possuíam aquele brilho tão gostoso que fazia todas as garotas da cidade suspirar e querer perder-se em suas tatuagens e encontrar-se em seus tons amarelos e alaranjados que a lembravam as cores de tangerinas. Arabella andava pelas ruas exalando confiança, as passarelas abriam se para vê-la passar, em suas botas pretas que continham desenhos de flores azuis que Jeon desenhou aquela noite em que bebiam vinho na varanda enquanto Arabella dizia que gostaria de andar por um caminho de flores. Sua boina preta, seu casaco longo preto que ia até a metade de suas coxas e os anéis em seus dedos, o sorriso irradiante e olhos brilhantes, todos sabiam: Azul e roxo era a cor que permeava sua alma.

Arabella fizera amigos com facilidade, e apresentada todos a seu amigo, Jeon, e em uma manhã ensolarada receberam convites para irem a um pub a noite onde um garoto muito talentoso iria tocar e cantar, e tomada por ferta euforia aceitará, fazendo com que seu amigo a acompanhasse, mesmo que não estivesse tomado por toda a alegria de Ara.

Arabella tomou um banho demorado enquanto cantarolava "My happines" do seu cantor predileto Elvis Presley
"Se o céu está cinza ou azul
Qualquer lugar do mundo vai estar
Só enquanto eu estiver com você
Minha felicidade".

Arabella decide usar um vestido vermelho e um colar de pérolas, fez em seus cabelos loiros cachinhos e em seus lábios pintou um tom também vermelho, ela adorava a maneira como essa cor reluzia nela.

Jungkook estava com uma jaqueta de couro preta dobrada deixando a mostra as tatuagens em seu braço, seus cabelos penteados com gel deixando a mostra sua testa e uma calça jeans com um cinto de fivela, Arabella riu imaginando a noite agitada que o garotinho teria, por mais que o mesmo não se deixasse levar por garotas bonitas e quentes.

Juntos saíram de casa, ao chegar no local foram recebidos por seus novos amigos e logo Arabella já estava com uma taça de vinho em suas mãos, ela percorreu os olhos pelo salão analisando os convidados e deixou que seu corpo acompanhasse calmamente o ritmo da música que tocava no rádio, Steve Wonder, ela reconheceria a voz em qualquer lugar. Jogou conversa fora com os amigos da roda e começaram a gargalhar sobre assuntos leves e divertidos, ela sentia-se bem e gostou do ambiente e o globo em meio ao salão, pessoas bonitas e bem arrumadas dançavam e bebiam, meninos tiravam algumas belas garotas para dançar e a noite fluía. Em meio a uma canção louca e alegre, Arabella adentrou a pista de dança. Seu corpo ritmizava com a música e seus quadris, pés e mãos balançavam conforme a música, todos reuniram se no salão e dançavam a mesma coreografia em meio a risadas e músicas agitadas. Ela sentia o suor pingando em sua testa, decidiu buscar uma bebida, e avistou um garoto adentrando o palco para finalmente ter música ao vivo.

Ele estava perto do bar onde encontravam-se as bebidas e Arabella pode notar sua jaqueta de couro preta, sua calça preta e seus cabelos negros caindo sob seus olhos que rapidamente a atraíram como um ímã. Aquelas orbes escuras emanavam intensidade, melancolia e sentimentos que ela não soube decifrar. Seus olhos abrigavam um universo inteiro a dispor apenas daquele garoto. Sua pele branca, quase pálida refletia-se sobre os tons azuis e roxos do globo de festas, suas mãos entrelaçaram o microfone e uma voz rouca, grave e viciante percorreu o salão. Naquele exato momento, não houve mais nada que cativasse sua atenção, seus sentidos estavam aguçados decifrando a canção que aquele garoto cantava, seus olhos cravados em suas orbes negras e varrendo cada parte do seu corpo, cada detalhe, tentando estuda-lo, mas nitidamente o admirando como uma escultura viva, como um daqueles quadros bonitos que Jungkook pintava, seus ouvidos atinham-se ao som de sua voz tão agradável e rouca ricocheteando sua mente, e por fim percebeu o que a letra dizia "Após o amanhecer, dois de nós recebemos a manhã juntos
Não solte a minha mão para sempre
Eu também não vou deixar a sua".

Perplexa, viva e com uma sensação estranha em seu coração, ela simplesmente não conseguia desviar o seu olhar, tudo o que ela queria era observa-lo cantar até que sua voz silenciasse as milhões de perguntas que percorriam sua mente. Ao final da canção, ele esboça um sorriso gengival que abrigava o calor de mil sóis, a beleza das estrelas e a imensidão do céu. Era lindo, hipnótico e único. Arabella nunca tinha visto alguém como ele, nunca ouviu nada como sua canção, ela não sabia que ritmo era aquele, mas já se encontrava extasiada. Ao seu redor, percebeu garotas risonhas e soltas admirando-o como se ele fosse algum tipo de Deus da mitologia grega, algo a fez perceber que ela também estava agindo como essas garotas. Rapidamente, fechou seu semblante e disse a si mesma "Arabella você nunca agiu dessa maneira, hoje não, aqui não, eu lhe digo atentamente: Não."

O garoto desceu do palco e foi cumprimentado calorosamente por seus novos amigos, os mesmos que a convidaram para a festa e como se percebendo como ela estava atenta em seus gestos, os garotos apontaram para ela enquanto disseram algo que fez o menino desviar o olhar em sua direção, ela pensou em desviar o olhar, mas nunca havia feito isso antes, então encarou fixamente seu universo castanho, olhinhos puxados, ele era asiático. Ela sentiu algo borbulhar dentro de si, e pela primeira vez em sua vida seu coração pulsou por um homem. Seu estômago abrigou milhões de borboletas e estrelas invadiram sua alma, ele abriu um sorriso doce e dentro de si uma nova flor nasceu.

Ele era lindo. Não do tipo de beleza que vemos todo dia, mas belo da maneira que te encanta, te prende e te cativa. Belo o suficiente para ser perigoso e com uma beleza única que transparecia uma galáxia. Ele poderia ser considerado um deus, a religião suprema, flores, pitoresco o suficiente para ser pintado por Jeon, artístico o suficiente para se tornar arte, mas assim que os garotos aproximaram-se e ele disse "Olá, como vai?" Ela incrivelmente o achou simplista e natural demais para ser algo divino. Não possuía um traço subliminar, egocêntrico ou que o tornasse grandioso. Era puro, simples e belo. Ainda sim, irreal. Sua alma precisava de mais daquilo, mas sua personalidade dizia que era melhor afastar-se, caras como ele podem marcar, e Arabella era serena demais para manter cicatrizes em sua pele.

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