Senti minha força minguando enquanto tentava entender qual era o propósito daquele lugar. Viver novamente valia tanto a pena? Havia algo que fizesse sentido em algum lugar?
Eu estava tão esgotada, tão cansada daquelas perguntas.
Tão cansada daquela cidade. Tão cansada para continuar...
À minha frente, Daniel levantou-se e tentou me ajudar.
― Precisamos seguir em frente, Elie.
Com muito esforço me obriguei a levantar e seguir ao lado dele até a porta de um estabelecimento próximo sem nem mesmo tentar ver que tipo de lugar era, ele entrou primeiro, mas eu parei em frente a porta.
― Você não vem? – ele perguntou do outro lado.
― Eu não sei mais o que realmente quero, Daniel.
Ele esperou que eu continuasse.
Tudo estava desmoronando dentro de mim.
― Você pode continuar procurando suas recordações – eu disse a ele. – Mas eu não consigo mais. Eu... só não quero mais continuar fazendo isso. Talvez a segunda saída não seja para mim.
Daniel voltou para a rua, fechando a porta do estabelecimento atrás de si, e sorriu com a metade da face que ainda possuía.
― Você não entende, não é? Eu também nunca me importei com qual saída tomaríamos, eu só quero ficar com você, seja qual for o caminho que você siga.
Eu poderia ter voltado a chorar, mas até para isso não tinha mais forças, todas as lágrimas haviam secado.
― Por quê?
― Eu... eu não sei... eu só... me sinto uma pessoa melhor quando estou com você.
Eu assenti levemente e fiz um gesto para que viesse comigo.
E assim voltamos para o meio da rua e caminhamos em linha reta, lado a lado, eu queria poder tocar a mão dele, senti-lo, mas os servos já tinham levado isso também. Daniel já não tinha metade do rosto, ambas as mãos e metade do tórax, como alguém que tivesse tudo isso amputado e ainda assim sobrevivesse.
Não houve nenhum som enquanto caminhávamos, e até minha mente estava silenciosa, o foco de tudo era a longa rua que se estendia à nossa frente. Os postes lançavam sua luz fria de cada lado.
Nenhum servo apareceu, porque o motivo pelo qual eles nos perseguiam já não existia. Também não havia nenhum despertado além de nós, e me senti grata por isso, não havia a mínima vontade de interagir com outra pessoa.
Nenhum estabelecimento chamava nossa atenção, apesar de haver construções de tamanhos e formas variadas. A verdade sempre esteve ali fora.
A cidade se adaptava aos cidadãos que recebia e era um reflexo do mundo e da vida que havíamos deixado para trás, e não havia nada que representasse isso melhor do que uma caminhada sem sentido por uma rua infinita, onde desaparecíamos aos poucos e não deixávamos nada para trás.
E assim nós vagamos pela rua sem fim sob a noite eterna.
Acima de nós, o olho gigante nos observava, julgando constantemente, tal qual o olho do leitor de um livro qualquer, ansioso para julgar os atos dos personagens e fazer o papel blasfemo de um deus. Nós o ignoramos. Eu não tinha a mínima vontade de atender às expectativas de qualquer entidade, fosse ela divina ou não.
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A Cidade do Silêncio
ParanormalElie está morta, só ainda não sabe disso. Sem memória sobre quem foi ou como chegou naquela boate estranha, ela mal repara que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo enquanto dançam. Mas algo de sua antiga vida a chama. Um chamado que, para el...