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Pov Daniel

Passaram-se algumas semanas desde aquele dia, onde segurei meu vizinho e encarei seus olhos. E olha que maravilha, aqueles malditos olhos brilhantes ainda atormentam a minha mente. Por algum motivo, não consigo apagá-los da minha memória.

( ... )

Quarta-feira. 19:00h. Estou exausto, esperando o elevador, depois de mais um dia de trabalho. Ele finalmente chegou. Entrei e apertei o botão do meu andar. As portas estavam prestes a fechar, porém uma mão as impediram. Um homem entrou apressado. Não qualquer homem. O meu vizinho irritante.

"Mas que inferno! Nós não tínhamos combinado de nunca pegarmos o elevador juntos?" pensei irritado. Apesar de estar cansado, resolvi ir de escada, contudo quando fui sair, as portas fecharam-se. Ótimo. Soltei um longo suspiro e encostei-me na parede, bem longe dele. Quer dizer, não tão longe, afinal estamos dentro de um quadrado minúsculo.

Passados alguns segundos em completo silêncio, de repente senti o elevador parar bruscamente. Me assustei, e acredito que ele também. Troquei de lado, indo para a parede onde estão os botões. Apertei o botão de emergência, conseguindo falar com o porteiro.

Desculpe, senhores. Vou resolver isso o mais rápido possível. – o porteiro disse. Falei apenas um 'ok', voltando para a outra parede. Com tanta gente para ficar preso no elevador, eu tinha logo que ficar preso com esse cara?!

( ... )

Acredito que passaram-se uns 5 minutos. Longos e demorados minutos de total silêncio. Ainda bem que não tenho claustrofobia. Encarava os botões do elevador, até que senti um olhar pesado em mim. Virei meu rosto, encontrando o homem me olhando.

─ Perdeu alguma coisa aqui? – perguntei impaciente.

─ Nossa, você é tão gentil. – falou em tom de deboche. – Só estava pensando se não queria... sei lá, conversar, pra passar o tempo.

Olhei incrédulo para ele. É sério isso?

─ Cara, não estou interessado em ter uma amizade com você. – falei.

─ Por que não? – perguntou. Eu respirei fundo.

─ Cara, nós temos somente UMA COISA EM COMUM. – comecei, dando ênfase no final. – Nós nos odiamos de uma forma que nem dá pra demonstrar com raiva. Isso é maior que todas as palavras. Não seremos amigos.

─ Sabe, concordo com você... – ele dizia. – Mas outro dia estava pensando... Como posso odiar uma pessoa sem ao menos saber o nome dela? Me diz pelo menos o seu nome, assim poderei te odiar. – finalizou, olhando-me cinicamente. Eu revirei meus olhos.

─ Sou Daniel. Agora vamos ficar em silêncio até essa droga voltar a funcionar.

─ Não quer saber o meu nome? – perguntou, obtendo como resposta o meu silêncio. – Vou falar mesmo assim, sou Elídio. – disse. Não consegui evitar que uma pequena risada escapasse pela minha boca. – Não entendi a graça. – Elídio falou, com os braços cruzados.

─ Nada não... É só que é um nome bem esquisito... Assim como você. – falei, sorrindo sarcasticamente.

Elídio me olhava seriamente, com a cara fechada.

─ E você é um insuportável! – exclamou.

─ E você tem um péssimo gosto musical! – exclamei no mesmo tom que o dele, aproximando-me dele.

─ Babaca! – falou, aproximando-se de mim.

─ Idiota! – retruquei, chegando mais perto.

─ Grosso! – falou. Nós estávamos perto... demais.

─ Irritante! – gritei, fazendo Elídio encostar na parede com o espelho. Eu estava na frente dele, prendendo-o. Estávamos tão perto, que sentia a respiração dele bater no meu rosto.

─ Eu te odeio. – ele disse após longos segundos. Nós continuávamos frente a frente.

─ Eu te odeio mais. – falei, e nesse momento, encarei seus olhos profundamente.

Nossos rostos estavam muito próximos. Meu olhar estava conectado ao dele. Eu estava nervoso, e sentia Elídio tenso. Por um milésimo de segundo, notei que ele desviou o olhar para minha boca, mas logo voltou a me encarar.

Eu estava novamente hipnotizado por aqueles olhos, em uma espécie de transe. Nossas respirações estavam exaltadas. A boca do homem a minha frente estava entreaberta, com a respiração cortada.

Não sei o que aconteceu comigo. Não sei o que deu em mim. Em um breve momento de insanidade, sem pensar em nada, colei nossas bocas, beijando-o ferozmente. E ele correspondeu.

Sem parar de beijá-lo, apertei sua cintura, grudando nossos corpos. Quando fiz essa ação, senti Elídio colocar suas mãos nas minhas costas, puxando-me para si. Explorava toda sua boca com minha língua. Beijava-o de forma quente, molhada. E ele retribuía na mesma intensidade.

Senti uma movimentação no elevador, fazendo nós nos separarmos bruscamente. Elídio continuava encostado na parede, enquanto eu fui para a outra. Nós respirávamos com certa dificuldade. Eu estava totalmente sem fôlego. Que beijo foi esse?!

O elevador tinha voltado a funcionar. Ele subiu, parando no nosso andar. As portas abriram-se, e imediatamente saí. Com certa dificuldade, pois estava meio desnorteado com o que acabou de acontecer lá dentro, consegui pegar minha chave. Encaixei-a na fechadura da porta e a abri. Antes de entrar em casa, olhei para trás. Elídio estava com a porta do seu apartamento aberta, olhando-me. Essa troca de olhares deve ter durado uns 3 segundos, pois fiquei nervoso e rapidamente entrei em casa, fechando a porta e escorando-me nela.

"O que foi isso?!" pensei, passando uma mão pelos meus cabelos.

Vizinho IrritanteOnde histórias criam vida. Descubra agora