| Dois |

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Nickolas Lefebvre

Eu sou o tipo de homem que já viu de tudo e mais um pouco na vida.

Vi o mais carrasco dos homens chorar. Assisti a mulher cujo eu acreditava ser o amor da minha vida em um tipo de ménage, e até mais assustador: um homem perder a mão. Como? Eu prefiro não dizer. Meu estômago não aguentaria a explicação.

Mas nada, absolutamente nada do que eu já presenciei me preparou para encontrar aquela bela francesa de olhos ametistas.

Eu jamais poderia esquecê-la. Esquecer sua beleza única, seu sorriso iluminado e sua inteligência que me tirava o chão.

Um mês. Tudo o que vivemos naquele único mês em que estivemos juntos desapareceu quando ela me abandonou sem ao menos dizer adeus.

Eu nunca mais a vi. Mesmo a procurando por toda Bordeaux, ela desapareceu como um fantasma. Como ela mesma dizia ser.

Belle.

Eu jamais esqueceria seu nome e a sensação de tê-la em meus braços em nossos dias contados. Há muito tempo, já havia me conformado de não encontrá-la novamente. Três anos se passaram desde o nosso último dia juntos. O destino não me daria tal sorte novamente. Era o que eu pensava.

Veja bem, eu não sou do tipo de homem supersticioso. Eu acreditava em destino? No momento custava a acreditar, mesmo que visse os exemplos todos os dias na minha frente. Mas se tinha algo que meu coração jamais deixaria de desejar, era reencontrar Belle

Todos os dias essa sensação me invadia.

E todos os dias eu tentava matá-la antes que ela me levasse a loucura.

Entretanto, o dia finalmente chegara. E eu não imaginava que bem ali, naquela floricultura pequena e simples em uma rua da região sul de Bordeaux, escondida dos meus olhos pelos últimos anos, estaria ela.

Mon trésor.

O meu tesouro finalmente havia sido encontrado, e o X que marcava seu local estivera oculto até aquele dia. Por uma coincidência.

Eu não conseguia acreditar no que meus olhos viam. E ela parecia da mesma forma. Os olhos violetas pareceram cintilar na minha direção, percorrendo meu corpo dos pés a cabeça, incrédulos, como se não acreditassem no que via.

Eu sorri.

Sorri de alívio, de raiva, de saudade, dor... Todos os sentidos embaralhados dentro de mim enquanto meus pés me guiavam na sua direção.

Eu não queria parar. Queria contornar aquele maldito balcão que nos separava. Queria segurá-la em meus braços e ver que era realmente real, não um sonho. Que Belle Edmond finalmente estava diante de mim novamente. Contudo, refreando todos os meus sentimentos, estaquei a sua frente do outro lado do balcão. Me vi dizendo um bonjour e a assisti estremecer bem diante dos meus olhos.

Paralisado, eu sequer conseguia formular uma palavra coerente sem que fosse algo idiota para dizer.

Talvez o imbécile dentro de mim quisesse dar o ar da graça e esbravejar com a mulher na minha frente, exigindo uma explicação após três anos.

Só que, o que eu poderia exigir? Na época não tínhamos nada concreto. Estávamos apenas nos conhecendo. Enfer! Eu não tenho o direito de exigir nada em relação à Belle.

— Eu posso ajudá-lo, monsieur? — Eu a ouvi questionar.

Sua voz doce e calma ecoou pela floricultura vazia, repercutindo em meu corpo. Senti-me inebriado, ao mesmo tempo em que engolia em seco, refreando o desejo de pular aquele maldito balcão de mogno que nos separava.

Sob Os Vinhedos de Bordeaux #2 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora