Isaac
Acordei na mesma escuridão de sempre, mas aquela escuridão parecia que tinha mais cor. O sabor de Ben ainda continuava em meus lábios mesmo depois de eu dormir. Seu cheiro estava em meu corpo mesmo depois de eu ter tomado um belo banho com ele. Eu estava feliz e nada poderia me atrapalhar.
Era sábado de manhã e meu pai estava para chegar de viagem, então Ben já havia ido para casa de seu ex-marido terminar de vez aquele relacionamento abusivo e vir ser feliz comigo. Para isso acontecer eu tinha que enfrentar meu pai e estava disposto a fazer isso assim que ele chegasse.
Eu estava sentado sobre as minhas pernas em minha cama. Eu estava com um dos fones em meu ouvido, deixando o outro ouvido livre para ouvir tudo o que estava acontecendo em minha volta. Estava lendo mais um livro e agora era um romance gay. Havia comprado pela internet e tinha chegado no dia anterior. Era um romance brasileiro e eu estava ficando apaixonado a cada página que eu passava. Um Gay Suicida em Shangri-La . Esse era o nome do romance.- Isaac. - disse meu pai, entrando em meu quarto. - Posso entrar?
- Claro. - disse, fechando o livro e tirando o fone do ouvido.
- Como você está hoje? - perguntou ele e eu sorri.
- Eu estou ótimo, pai. - disse.
- Aconteceu alguma coisa para ti está assim? - perguntou ele e eu respirei fundo.
Aquela era a hora. Eu estava com a oportunidade nas mãos. Meu coração estava acelerado e minhas mãos trêmulas. Meu pai se sentou perto a mim e colocou a mão em meu ombro.
- Tu quer me contar algo? - perguntou ele.
- Não. - disse, deixando uma lágrima escorrer.
- Tem certeza? - perguntou com uma voz chorosa e eu afirmei com a cabeça. - Tudo bem. Quando quiser conversar tu sabe onde estou.
Meu pai depositou um beijo em minha testa. Ele se levantou e saiu de meu quarto. Eu sou um covarde e não conseguia nem conversar com meu pai sobre algo que está acontecendo comigo.
Depois que ele saiu, eu me deitei na cama e comecei a chorar silenciosamente. Fiquei assim por um bom tempo. Quando consegui me acalmar, peguei meu celular e fui mandar uma mensagem.
- Enviar mensagem para Benjamin. - disse e o telefone correspondeu. - Ben, preciso de ti. Está tudo bem ai?
Enviei a mensagem para ele, mas não tive respostas. Tinha perdido o interesse pela leitura e nem ouvir musica estava me distraindo. Fiquei a manhã toda sem notícia de Benjamin e estava me preocupando. Lenita tinha chegado em minha casa e antes mesmo de chegar em meu quarto já tinha caçado confusão com Ítalo, como sempre.
- Ele me irrita, Isaac. - disse ela. Ela estava andando de um lado para o outro no meu quarto e isso estava me deixando mais aflito. - O olhar de superioridade e de deboche que ele lança sobre mim me faz querer voar no pescoço dele.
- Dá para tu calar a boca e se sentar? - disse de forma rude.
- Que isso, Isaac? Por que está falando assim comigo? - perguntou ela.
- Desculpa, Lenita. Eu estou nervoso, porra! E tu fica ai andando de um lado para o outro e falando sobre o Ítalo, como se tivesse um amor enrustido por ele. - disse e Lenita ficou alguns segundos calada.
- Tu nunca me ofendeu tanto quanto agora dizendo que eu pareço apaixonada pelo Ítalo. - disse ela e eu ri. - Principalmente enrustido, pois o único enrustido aqui é ti.
- Eu fiquei sem coragem de falar com meu pai. Comecei chorar e meu coração apertou. Eu não consegui.
- Tu não está sozinho nessa. - disse ela, se sentando ao meu lado na cama. - Não se sinta pressionado a fazer nada que não esteja pronto.
- Eu quero fazer isso, mas tenho medo. - disse e ela segurou em minhas mãos.
- Quer conversar com o seu pai agora? Eu vou contigo e te apoio no que precisar.
Apertei as mãos de Lenita e ela me abraçou. Meus olhos lacrimejaram. Ela estava ali comigo e estava sendo meu porto seguro. Então me levantei e segui para o escritório de meu pai e de braços dados com Lenita.
- Pai, posso conversar com o senhor? - perguntei antes de entrar em seu escritório.
Meu pai não estava sentado, pois eu conseguia ouvir seus passos nervosos de um lado para o outro.- Isaac, precisa ser agora, meu filho? - perguntou ele. Sua voz mostrava que ele não estava bem e nervoso. Podia dizer que aparentava que ele estava a ponto de chorar.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntei e ele não respondeu. Então eu entrei em seu escritório e fiquei se frente a ele, sentindo sua respiração em meu rosto. - Aconteceu alguma coisa, meu pai?
- Senta ai, Isaac. - disse ele, segurando em meu braço e me guiando até a poltrona. - Brenda me ligou alguns minutos atrás e disse que o Benjamin está no hospital em estado grave.
Não tive reação nenhuma. Estava em choque e minha única reação foi chorar. Um choro silencioso e dolorido. Aquele homem maldito tinha machucado o meu Benjamin.
- Isaac! - disse meu pai, segurando em meus ombros e me balançando. - Isaac, fala comigo, porra.
- Eu vou matar o Tiago. - disse e não estava brincando.
- Fala isso nem de brincadeira. - disse meu pai, me envolvendo em um abraço. - Ele quase matou o Benjamin, Isaac. Ele bateu tanto nele e fugiu, deixando ele para morrer. Se a Brenda não tivesse chegado o Ben estaria morto.
- É tudo minha culpa. - disse.
- Tu não tem culpa de nada, Isaac. - disse Lenita. - Benjamin está nessa ja faz anos e uma hora ou outra ia acontecer isso.
- Mas não tinha que ser justo no dia que ele iria se livrar daquele monstro. - disse. - Eu deveria ter ido com ele.
- Seriam dois no hospital agora. - disse Lenita. - Tu viu o tamanho do cara, Isaac.
Eu não estava bem e não ficaria enquanto Ben não estivesse ao meu lado e conversando comigo. Peguei minha bengala e sai daquele escritório sem falar nada. Me tranquei em meu quarto e por lá fiquei chorando por horas seguidas. Se eu perdesse Benjamin eu não sei o que seria de mim.
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Isaac e os Olhos do Coração |Romance Gay|
Roman d'amourBenjamin é um cara vítima de agressões constantes de seu marido Tiago, um Policial Militar de Santa Catarina. A 5 anos ele é totalmente dependente financeiramente de seu marido agressor, que nunca permitiu que ele trabalhasse, mas sua amiga consegue...