UM | MARIA CLARA

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       — Meu Deus! Você é muito louca. E se o Fernando descobrir? — Leticia curvou-se diante da tela do notebook vendo a planilha que eu construía. Tinha que entregar ao advogado do noivo dela ainda essa tarde. Era uma corrida contra o tempo.

As coisas pareciam se apertar como um labirinto confuso. Eu estava no meio me sufocando, sem tempo para raciocinar.

E quer saber? Eu mesma não sabia onde eu estava com a cabeça de roubar um dos fazendeiros mais ricos e famosos do país. Minha mão tremia diante da minha ousadia.

— Ele não vai descobrir. — Falei tentando tranquilizar a mim. Interiormente, repeti: "ele não vai descobrir." Meus olhos quase parados nos números.

— O smoking de quatro mil você colocou nove e quinhentos? Maria Clara? Ele vai foder com nossa vida.

— Calada! Você me colocou nessa, não vou sair sem nada.

Eu jamais seria tão cara de pau a ponto de criar uma planilha superfaturada e torcer para que o homem abrisse a carteira sem questionar. Não era nenhuma santa, já aplicara outros golpes, mas não um contra alguém tão abastado.

Com esse casamento milionário, esperado pela sociedade e mídia há meses, eu já estaria com a vida totalmente ganha. Bastava criar um espetáculo e então minha agenda estaria lotada de contatos dos famosos. Todo mundo iria desejar o casamento igual ao do Fernando Capello. A pequena e novata empresa de organização de festas a qual sou sócia, ocuparia um lugar de respeito no hall da fama.

E eu só tive essa sorte porque a noiva é minha amiga. Eliana, a dona da empresa e eu quase morremos de gritar quando Leticia me procurou. E foi sorte dela ser secretaria do cara e ele se interessar pela novata. E parecia que estava mesmo muito interessado. O partidão cobiçado por 90% do público feminino nunca tinha colocado uma aliança no dedo, mas com Leticia, estava disposto a fazer um show de matrimonio.

Todavia, para meu desespero, vi meu sonho caindo feito castelo de cartas. Leticia apareceu com a ideia mirabolante de fugir com um peão gostoso funcionário de Fernando. E ela estava firme nessa decisão. Quase fiquei de joelhos implorando para ela fazer isso depois do casamento, mas quem pode mandar no coração?

Ele cancelaria todos os preparativos e eu não seria lembrada nunca mais. Ao contrário, o nome da nossa pequena empresa estaria na lista negra dos ricaços, e o meu nome como a cerimonialista pé frio.

Com contas para pagar, um pai alcoólatra e uma mãe doente morando em uma casa hipotecada, a melhor solução era reviver meu lado pilantra e tirar um pouco do bolso do fazendeiro e torcer para dar certo.

Voltei aos valores do smoking e abaixei para cinco mil. Não poderia colocar valores exorbitantes, para não levantar desconfiança.

— O que você acha de colocar sete mil em cada presente dos padrinhos? Custou três. — Olhei para Leticia mesmo sabendo que ela não me daria essa resposta.

— Eu não sei. Quero estar bem longe quando a bomba explodir. Eliana vai querer te matar, pois a empresa que vai ficar com a culpa.

— Fique tranquila, Ely disse que está pensando em dar uma pausa e tentar outra coisa. Vou aconselhar ela a fechar por uns tempos. E eu estarei bem longe. — Recostei na cadeira e repassei meu plano infalível. — Vou pagar a hipoteca dos meus pais e fugir para São Paulo, ficar uns meses por lá. — Eu tinha ciência que poderia dar uma merda gigantesca se ele descobrisse e resolvesse processar a empresa de eventos. Mas ele não vai descobrir, na verdade ele só dá a ordem para liberar o valor, quem está a frente de tudo é o advogado, que por sua vez, não me pergunta muito sobre meus atos, apenas libera os depósitos.

[AMOSTRA] DOCE DOMÍNIO | Dinastia Capello 01Onde histórias criam vida. Descubra agora