Capítulo Três

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Olívia Turner:


Não era desconfortável estar nos braços daquele desconhecido, mas, se alguém passava e me visse naquela situação abraçada a um completo desconhecido poderiam ter pensamentos impróprios então eu apenas o afastei.
— Desculpe-me. – Desculpou-se ele me encarando com os olhos tão tristes que eu me senti péssima com aquilo, parecia que o meu coração estava sendo partido em milhões de pedaços. — Perdão, você apenas me lembrar alguém que eu amei muito, mas, ela se foi.
— Está tudo bem. – Garanti estendendo novamente o cartão que ainda estava nas minhas mãos. — O senhor deixou cair seu cartão, acho que vai precisar dele, está bem longe do seu hotel, aconselho a voltar antes que os restaurante comecem a fechar, Tunes é perigosa durante a noite, principalmente para os turistas.
— Obrigado. – Agradeceu ele pegando o cartão das minhas mãos e um arrepio percorreu o meu corpo quando os nossos dedos se tocaram, aquilo parecia tão familiar que chegava ser estranho. — Me desculpe pelo meu comportamento inapropriado. Eu sou Matteo, Matteo Callegari.
— Olívia Turner. – Apresentei-me segurando a sua mão delicadamente. — Não se preocupe, deve ser muito triste para você se lembrar de alguém que se foi. Foi um prazer conhecer você Matteo, mas, eu preciso ir, minha amiga está a minha espera e o nosso jantar já deve estar gelado.
— Me deixe acompanhá-la. – Pediu ele e isso fez com que eu arregalasse os meus olhos. — Você disse que é perigoso andar na rua sozinha a esse horário, você é uma mulher sozinha e desacompanhada.
— Eu moro aqui perto. – Falou ela me encarando e sorrindo. — Nos prédios ali na frente e eu sei me defender sozinha, mas, obrigado pela preocupação. Adeus Matteo.
Sorri e segui o meu caminho sentindo o meu coração doer, parecia que eu tinha um buraco dentro do peito desde que eu virei as minhas costas para aquele homem e segui o meu caminho, balancei a minha cabeça negativamente e cumprimentei o porteiro subindo as escadas rapidamente sentindo o celular vibrar no bolso da minha calça.
— Pensei que você tinha se perdido no caminho. – Resmungou ela quando eu coloquei as duas porções sobre a mesa de centro enquanto ela fechava a porta. — Você demorou tanto no caminho de volta que eu estava quase ligando para o restaurante e perguntando se você já tinha retirado o nosso pedido.
— Tive um pequeno imprevisto na rua. – Contei enquanto lavava as minhas mãos no banheiro e ela estava me encarando ansiosamente quando eu voltei para casa como se quisesse saber o que tinha acontecido. — Vi um turista perder o cartão de um hotel e fui atrás dele para entregar o cartão, mas, ele me confundiu com outra pessoa e tivemos um momento um pouco constrangedor.
Ela arqueou a sobrancelha como se quisesse mais detalhes sobre o que tinha acontecido.
— Ele me abraçou e depois me disse que eu parecia com alguém que ele conhecia e partiu, não entrou em detalhes, mas, pelos seus olhos acho que ela morreu. – Contei pegando uma coxa de galinha, eu estava morrendo de fome. — Depois ele se desculpou e pediu para me acompanhar até aqui, mas, eu disse que eu morava perto.
— Era bonito? – Perguntou ela fazendo com que eu me afogasse com o pedaço de frango que tinha comigo. — Pela sua reação ele deveria ser lindo, vamos me conte mais sobre isso, estou realmente curiosa sobre esse assunto, ele deve ter ficado interessado, já que pediu para lhe acompanhar até em casa.
— Acho que ele estava apenas tentando ser educado depois da situação constrangedora que vivemos. – Falei a encarando e suspirando. — Ele era muito bonito, tinha olhos verdes, lindos olhos verdes, seu rosto era masculino, mas, não chamativo, seus cabelos são negros e a barba bem-feita lhe deixava mais sexy, ele também é alto e tem o corpo atlético, mas, é gostoso estar nos braços dele.
— Não me diga que se apaixonou por ele. – Alfinetou ela fazendo com que eu balançasse a minha cabeça negativamente. — Eu nunca vi você falar sobre um homem dessa maneira, seus olhos chegam até a brilhar quando as palavras saem da sua boca.
— É claro que não, eu o encontrei apenas uma vez e nunca mais irei o encontrar na minha vida, pois, pelas roupas que ele estava usando era um desses turistas ricos e o mais importante ele usava uma grossa aliança no dedo anelar direito de ouro, então ele deve estar noivo. – Expliquei pegando o meu copo e suspirando. — Mas, eu senti algo estranho quando o abracei, parecia que eu já conhecia aquela sensação, aquele perfume e quando eu me afastei dele o meu coração ficou pequenininho, isso foi realmente muito estranho. Foi como se eu já o conhecesse de algum lugar, devo estar ficando maluca.
— Você está apaixonada. – Zombou ela fazendo com que eu tacasse a almofada na sua direção e ela gargalhou. — Ouvi os sininhos tocar e sentiu as borboletas no estômago quando ele lhe abraçou?
— Pare com isso. – Mandei enquanto ela ainda ria da minha cara. — Vamos jantar, você pode estar de folga amanhã, mas, eu irei trabalhar e preciso estar descansada.
Ela riu e sentou-se ao meu lado enquanto fazia piadinhas sobre aquele assunto e eu zapeava os canais da TV até achar algo interessante para ver naquela noite, não eram muitos os programas que conseguiam chamar a nossa atenção naquela noite de domingo. Depois de arrumarmos a cozinha, Liz foi para o seu quarto falando que tinha que estudar alguns casos de pacientes e eu fiquei na sala até o sono começar a bater e eu me arrastar até o quarto, colocar o meu pijama e me jogar na cama abraçando o meu travesseiro e dormindo rapidamente e naquela noite eu tive um sonho, com o garotinho, o mesmo garotinho de sempre, mas, dessa vez eu conseguia ver o seu rosto, o seu rosto doce e inocente e ele me encarava com aqueles enormes olhos verdes.
— Você não consegue me pegar. – Falou ele rindo enquanto corria pelos campos. — Eu irei ganhar e comer todos os chocolates de sobremesa e não irei dar nenhum para você.
— Isso não é justo. – Resmungou a garotinha parando e cruzando os seus braços fazendo com que ele e encarasse sorrindo. — Você é maior é claro que irá ganhar, eu tenho as penas curtas, não quero mais brincar com você, irei voltar e brincar de bonecas com as meninas.
— Não! – Exclamou ele pegando a mãozinha dela e sorrindo. — Eu prometo que deixo você ganhar, mas, fique brincando comigo.
— Você prometeu. – Falou a garotinha saindo correndo na frente e fazendo com que ele risse e corresse atrás dela. — Vamos, eu quero comer os chocolate, eu prometo que irei dividir com você.
— Crianças venham para casa. – Uma voz feminina falou fazendo com que os rissem. — Se vocês dois não aparecerem em dois minutos eu irei esconder todos os chocolates e os dois ainda iram ficar sem sobremesa. — Estou contando no relógio suas duas pestinhas e não pensem que iram conseguir se livrar do castigo correndo para as pernas do nonno de vocês, pois, eles também está de castigo e não poderá ajudar vocês.
O garotinho sorriu e segurou a mão dela a puxando para longe e desaparecendo entre as parreiras.
Acordei sentindo a minha cabeça tão leve, tomei um banho demorado e coloquei o meu uniforme pegando a minha bolsa e saí de casa sem fazer barulho, eu sabia que Liz precisava descansar então ela tinha o direito de dormir até mais tarde naquele dia. Tomei café em uma padaria que tinha perto de casa e depois segui a passos lentos até a loja vendo que as lojas estavam começando a abrir e os turistas começando a circular pelas ruas. Abri a loja e comecei a arrumar as coisas no seu lugar enquanto esperava por Aisha.
— Desculpe-me pelo atraso. – Pediu ela passando por mim como um furacão e abrindo a porta do estoque. — O relógio não despertou e eu dormi mais do que a cama, se Rania já tivesse chegado ela iria me dar uma bronca daquelas, precisa comprar um despertador novo ou irei me atrasar todos os dias, não me diga que eu perdi uma barraco ou um cliente bonito.
_ Você não perdeu nada Aisha, na verdade o movimento está bem tranquilo. – Avisei enquanto terminava de limpar a prateleira. — Rania ligou e pediu para que nós mudássemos a vitrine, ela disse que era para colocar as peças novas que ela trouxe da Turquia na semana passada, elas estão guardadas em uma caixa no estoque, uma das primeira. Você pode pegá-las para mim?
— Irei fazer isso imediatamente. – Respondeu ela fazendo com que eu sorrisse e começasse a tirar as peças que estavam na vitrine com muito cuidado, pois, eu sabia que eram peças únicas e eu não queria dar nenhum prejuízo para Rania. — Irei ajudar você, acho que essas peças têm que ser colocadas em um local de destaque, mesmo não estando mais na vitrine elas estão tão lindas.
— Eu deixei uma prateleira organizada apenas para isso. – Avisei apontando para o local que eu estava limpando quando ela chegou. — Arrume-os ali enquanto eu penso em como irei disponibilizar esses objetos na vitrine.
Ela concordou e eu comecei a organizar a vitrine deixando simétrica, como eram artigos únicos cada um deles tinham uma beleza diferente e precisavam estar em destaque sem um tirar o foco do outro. Saí na rua para ter certeza que a vitrine estava da maneira que eu estava pensando e sorri cruzando os meus braços enquanto a encarava, por mais que eu não tivesse muita intimidade com aquele trabalho, tinha ficado bom e estava do jeito que Rania tinha me orientado para fazer.
— Perfeito! – Exclamei sorrindo e voltando para dentro. — Aisha você pode ir almoçar, quando você chegar eu irei, Rania avisou que só virá mais tarde, então nós iremos ter que nos virar por aqui hoje.
— Prometo que irei chegar cedo. – Disse ela beijando a minha bochecha carinhosamente. — Pois, não tem nenhuma graça comer sozinha, se o movimento aumentar me ligue que eu irei voltar imediatamente.
Concordei e fui até o balcão arrumando as coisas que ela tinha deixado bagunçadas, aquela garotinha não tinha jeito nenhum, parecia um pequeno furacão por onde passava ela deixava um pequeno estrago. Estava abaixada arrumando as sacolas quando ouvi os sinos da porta tocar e me levantei e senti o meu coração acelerar quando aqueles olhos verdes fixarem aos meus.
— OH! – Exclamou ele me encarando e abriu um sorriso fazendo com que eu engolisse a seco. — Olá Olívia.
— Boa tarde senhor Callegari. – Saudei formalmente, ali ele era um cliente como todos os outros e precisava ser tratado como tal. — Como eu posso ajudá-lo?
— Estou procurando por um presente. – Respondeu ele me encarando quando eu saí de traz do balcão e me aproximei dele. — Para uma pessoa muito querida.
— Ela tem algum gosto especial? – Perguntei cruzando as minhas mãos na frente do corpo. — Qual é a faixa etária, nós temos produtos para todos as faixas etárias e gostos, os que estão em exposição chegaram na semana passada, vieram da Turquia, são peças exclusivas feitas por um artesão local.
— Acho que ela gostaria de algo mais delicado. – Respondeu ele, então era para uma mulher, deveria ser para a sua noiva, afinal, ele não se abalaria por aí a procura de um presente para outra pessoa que não fosse a pessoa que ele amava. — Ela é velejadora, então ela gosta muito do mar e tudo que vem dele.
— Eu tenho algo perfeito. – Garanti o encarando. — Está no estoque, apenas espere alguns instantes que eu irei buscá-las, não demorará mais do que um minuto.
Ele concordou e eu entrei no estoque arrumando a escadas, eu sabia que aquela peça seria vendida por isso eu não tinha deixado com que Rania se desfizesse dela e era uma das minhas preferidas, eu achava uma graça aquelas luminárias que ela tinha conseguido de um aldeão na costa litorânea da França. Peguei a caixa com todo o cuidado e desci das escadas saindo do estoque e vendo que ele estava examinando as outras peças com todo o cuidado.
— Acho que a sua noiva vai gostar muito. – Falei tirando as luminárias de dentro da caixa e vendo que ele estava me encarando com uma sobrancelha arqueada. — Sua aliança, você disse que era um presente para uma pessoa especial, deve ser um presente para a sua noiva.
— Sim é para ela. – Concordou ele passando os dedos pela luminária. — Ela irá realmente adorar esse presente. Você realmente me ajudou muito, irei levar as três peças.
— Irei embalar para você. – Falei colocando as peças de volta na caixa e pegando um papel de presente bonito, mulheres gostavam de embalagens bonitos, o presente poderia ser o mais simples possível, mas, se estivesse embalado iriamos adorar. — Se quiser eu posso mandar entregar no hotel para você, por mais que pareçam delicadas elas são pesadas se forem carregadas durante uma longa distância.
— Obrigado, mas, não será necessário eu estou de carro. – Agradeceu ele tirando o cartão de dentro da carteira quando eu terminei de embalar e coloquei a caixa sobre o balcão e entregando a máquina de cartão para ele. — Obrigado.
— Matteo você está demorando uma eternidade. – Rosnou uma mulher entrando na loja e aquela voz não me parecia estranha, era como se eu já estivesse a ouvido. — Não vai ter nada nessa loja que agrade aquela piranha, pois, ela não é uma mulher culta, compre uma bolsa e um par de sapatos que vai agradar ela, agora vamos de uma vez, pois, eu estou derretendo lá fora. Dio mio!
— Desculpe pela indelicadeza da minha irmã, ela não consegue controlar a língua afiada dela, mamma esqueceu de lavar a boca dela com sabão quando ela era mais jovem, quem sabe assim ela não seria uma garotinha bem-educada e que não falasse esse tipo de insultos na frente de desconhecidos. – Desculpou-se ele pegando a caixa e puxando a mulher que estava me encarando com os olhos arregalados como se estivesse vendo um fantasma na sua frente. — Vamos Louise, você não estava derretendo, eu já encontrei o meu presente e você não precisa mais ficar a minha espera.
Ela iria falar alguma coisa, mas, ele a puxou para fora e eu apenas deu uma risada balançando a minha cabeça negativamente, turistas eram realmente divertidos.
— Pelo amor de deus o que aquela mulher tem? – Perguntou Aisha entrando na loja e me encarando indignada. — A dois dias ela me apareceu com aquele bonitão que roubou o meu coração e ainda tratou ele como se fosse nada e agora ela saiu acompanhada de outro bonitão que eu quase agarrei pelo braço e levei para a minha casa. O que ela tem que eu não tenho? Por que eu não aprendi a falar italiano para saber o que eles estavam falando?
— Eles são irmãos. – Avisei fazendo com que ela suspirasse e se escorasse no balcão. — Estou saindo para almoçar, cuide de tudo e não fique apenas olhando para os turistas bonitos, você sabe que a maioria é comprometido e ainda vai acabar se metendo em alguma confusão.
Ela concordou e eu saí andando apressadamente por entre os turistas, os restaurantes mais baratos fechavam cedo e pelo horário que eu estava saindo para o meu almoço a maioria já estava fechado, tive que andar quase um quilometro para conseguir um restaurante que ainda estava fechado e tive que comer apressadamente já que o salão estava vazio e eu sabia que a dona queria que eu saísse o mais rápido possível. Depois eu caminhei pelas ruas tentando digerir o meu almoço e descansar um pouco, já que pelo movimento aquela seria uma tarde daquelas.
Rania já estava na loja quando eu retornei e ela disse que queria conversar comigo depois do expediente e eu concordei, pois, eu poderia imaginar qual era o assunto que nós tínhamos para discutir mais tarde. E aquela tarde tinha sido como eu previ, os turistas pareciam estar dispostos a gastar dinheiro e nós não paramos nenhum segundo durante todo o expediente e no final do dia quando Rania finalmente fechou as portas e eu consegui me espreguiçar sentindo o meu corpo protestar quando os meus ossos pareceram voltar para o lugar.
— Se as vendas continuarem nesse ritmo eu irei ter que viajar em breve. – Comentou Rania enquanto eu estava fechando o caixa. — Fique sabendo que você vendeu as luminárias, deve ter levado para você quando eu lhe dei.
— Elas eram caras demais. – Falei a encarando e suspirando. — Você disse que queria conversar comigo, eu sei que estava apenas esperando com que Aisha saísse para conseguirmos conversar em particular, acho que eu já sei o teor dessa conversa, você descobriu alguma coisa sobre a Família Avery.
— Como eu lhe disse eu iria conversar com alguns amigos que tem contato com a família. – Falou ela sentando-se e me encarando. — Eu tenho um amigo próximo que trabalhou durante muitos anos em uma das vinícolas da Família Avery na Europa e ela era próxima de um dos familiares, ele disse que a um ano atrás aconteceu uma tragédia que abalou muito a família.
— O que aconteceu? – Perguntei me aproximando dela e sentando-me ao seu lado e respirando fundo, por mais que eu não achava que eu estava preparada para saber sobre aquilo, eu queria entender melhor aquelas sensações que eu estava sentindo, eu queria pelo menos ter uma esperança de que eu poderia ter uma família e que essa família me amava e que eu não estava sozinha no mundo. — Não se preocupe, eu preciso saber a verdade Rania, eu preciso tirar esse peso que eu carrego dentro de mim de achar que eu fiz alguma coisa muito errada e que tive apenas sorte por ter sido resgatada por aqueles pescadores.
— A neta mais velha dos Avery, Katherine, ela era uma velejadora muito promissora pelo que o meu amigo me contou, já tinha ganhado muitos campeonatos e era uma das promessas da Itália para conseguir uma medalha olímpica nas próximas olímpiadas. – Contou-me ela segurando as minhas mãos e respirando fundo. — Ela tinha 24 anos quando foi a Capri para uma semana de treinos, ela estava se preparando para um campeonato, então se refugiou na casa que a família tinha na ilha e como ela conhecia aqueles mares como a palma da sua mão, ninguém pensou que algo assim poderia acontecer. Estava apenas ela, o noivo e os empregados na casa quando ela saiu para velejar naquele dia, pelo que eu soube tinha uma tempestade se aproximando da costa, parece que ela não conseguiu controlar o veleiro e acabou batendo contra o rochedo, no relatório da Marinha fala que o corpo se perdeu no mar por conta das fortes correntezas que tinham naquele dia e Katherine Avery foi dada como morta. Pelas conversas que eu tive com Liz sobre o seu caso, você foi achada desacordada na manhã seguinte do acidente de Katherine agarrada em destroços de um veleiro na costa Tunisiana e levada para o hospital mais próximo por estar com hipotermia e desacorda, os médicos descobriram que você estava com um traumatismo craniano e você passou três meses em coma até acordar com amnésia. A Família Avery não quis divulgar esse caso para a imprensa e por isso eu acho que ninguém ficou sabendo dessa história, mas, a uma possibilidade de você ser Katherine Avery.
— Você tem certeza de que essa história é verdade? – Perguntei sentindo um nó na minha garganta, por isso parecia que o tal Giovanne estava vendo um fantasma e eu não podia o culpar, já que para ele Katherine estava morta.
— Meu amigo não mentiria sobre isso e como ele não está mais trabalhando com os Avery ele pode me contar essa história, mas, parece que todos os funcionários e amigos da Família tem um contrato assinado de que eles nunca iram revelar essa história para ninguém, pois, eles não querem que a memória de Katherine seja manchada, afinal, foi um erro ela sair para velejar sabendo que uma tempestade estava se aproximando da costa. – Explicou ela segurando as minhas mãos com mais força. — Ele não mentiria para mim Olívia, principalmente sobre um assunto tão grave como este e ele também me mostrou uma foto que ele tinha de Katherine, era antiga e estava um pouco desfocada, mas, ela pode facilmente se passar por você, mesma estrutura física, cabelos negros e longos, olhos azuis, vocês realmente são muito parecidas.
— Obrigado por descobrir essa história para mim. – Agradeci pegando a minha bolsa e levantando-me. — Mas, eu acho que preciso ficar um pouco sozinha para conseguir digerir toda essa história e pensar no que eu irei fazer daqui para frente.
— Eu sempre irei estar aqui por você querida. – Garantiu ela me encarando. — É mais do que apenas uma funcionária para mim Olívia e você sabe disso, se precisar de qualquer coisa você sabe que pode me procurar a qualquer horário.
Agradeci-a e saí da loja sentindo a brisa suave da noite balançar os meus cabelos, caminhei pela orla da cidade sentindo a minha cabeça cheia de perguntas e eu não conseguia responder nenhuma delas, pois, naquele momento eu não era Olívia e muito menos Katherine, pois, eu não tinha nenhuma lembrança, apenas as que eu tinha construído naquela cidade e isso estava me enlouquecendo, pois, eu não sabia em quem eu poderia confiar ou no que.
Sentei-me em um dos bancos da orla e encarei o mar sentindo as lágrimas deslizarem pelos meus olhos e as minhas mãos começarem a tremer, parecia que a minha vida tinha virado uma bagunça desde que ele tinha entrado na loja e por mais que eu sempre quis saber quem eu era e de onde vim, aquilo agora estava me sufocando e não tinha nenhuma perspectiva do que eu faria da minha vida, acho que era mais fácil quando eu apenas criava histórias na minha cabeça, pois, pelo menos ali eu não precisava lutar com todas aquelas emoções conflituosas que estavam dentro de mim. Senti o meu celular vibrar dentro do bolso e atendi quando vi o nome da Liz brilhar na tela.
— Você está bem? – Perguntou ela e eu senti uma certa aflição na sua voz. — Rania me ligou e me contou sobre a conversa que vocês tiveram e como você ainda não chegou em casa eu fiquei preocupada.
— Estou bem. – Respondi respirando fundo e limpando o meu rosto com as costas das mãos, acho que aquele não era o momento de chorar e sim de ser forte e procurar saber da verdade, a verdade que eu estava procurando a um ano. — Estava apenas tomando um ar para digerir todas as informações e pensar no que eu iria fazer, mas, acho que eu sei o que devo fazer.
— Você tem certeza de que vai fazer isso? – Perguntou ela dando um longo suspiro. — Você sabe que se não for Katherine vai voltar para a estaca zero e isso pode ser muito frustrante.
— Esse é uma resposta que eu preciso ter. – Respondi levantando-me. — E apenas uma pessoa pode me ajudar com isso e se eu voltar da estaca zero, pelo menos as pessoas não podem falar que eu não fui atrás da verdade.
— Boa sorte. – Desejou-me ela. — Estarei aqui para o que você precisar e mesmo que eles não forem a sua família eu ainda estarei ao seu lado e iremos voltar para o zero juntas e em alguém momento iremos saber quem você é Olívia.
Agradeci e desliguei o celular jogando-o dentro da bolsa e andando decidida na direção do Penthouse e me senti um pouco desconfortável quando vi que todos estavam me encarando se um jeito estranho apenas por conta das roupas que eu estava usando, era como se eles nunca tivessem visto uma mulher usando um uniforme.
— Boa noite. – Saudei a recepcionista que franziu o nariz me encarando como se eu fosse um nada e que deveria estar usando a entrada de serviço e não estar ali a incomodando. — Estou procurando por Giovanne, Giovanne Bianchi, ele está hospedado aqui.
— Desculpe-me senhora, mas, sem o número do quarto eu não posso ajudá-la, nós não passamos informações pessoais dos nossos hospedes para terceiros. – Falou ela me encarando. — Agora me dê licença, pois, eu tenho muito o que fazer.
— Por favor, pode pelo menos me informar se ele está no hotel. – Supliquei vendo que ela nem ao menos estava prestando atenção no que eu estava falando. — Eu realmente preciso falar com o senhor Bianchi.
— Senhora se continuar a perturbar eu irei pedir para que os seguranças lhe retirem do local. – Avisou ela me encarando. — Então, não faça escândalos e apenas vá embora, os nossos hóspedes estão pagando para serem perturbados dessa maneira.
Suspirei e me distanciei do balcão com a cabeça baixa, parecia que eu não conseguia conversar com ele, pelo menos não naquele hotel, teria que arrumar outra maneira de encontrar o tal Giovanne Bianchi e perguntar se ele realmente me conhecia.
— Kate! – Exclamou aquela voz fazendo com que eu engolisse a cedo e levantasse os meus olhos vendo-o andar na minha direção com um sorriso no rosto. — Eu sabia que você viria me procurar, estou feliz por isso, por favor me acompanhe, vamos conversar em um local mais calmo.
Eu concordei e o segui sentindo os olhos da recepcionista fixos nas minhas costas, aquele não era o momento de dar para trás Olívia, apenas encare a verdade, seja ela qual for.

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