Capítulo Um

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Olívia Turner:

Pulei da cama sentindo o ar faltar no meu pulmões e as minhas tremerem, aquele pesadelo novamente, o mesmo pesadelo, parecia que ele nunca tinha fim, eu tinha aquele pesadelo desde que tinha acordado no hospital depois de passar 3 meses em coma. Eu não me lembrava de nada do meu passado, os médicos diziam que era por causa do traumatismo craniano que eu tinha sofrido e tudo que eles sabiam é que eu tinha sido resgatado por um barco pesqueiro Tunisiano, eles tinham me encontrado boiando agarrada a um pedaço de destroço, mas, eles também não conseguiam me explicar o motivo do meu acidente, apenas falaram que eu tinha tido muito sorte em acordar de um coma apenas com amnésia, pois, pela gravidade da minha fratura era mais provável que eu me tornasse um vegetal pelo resto da minha vida.
Saí da cama quando senti que as minhas pernas aguentariam o meu peso e andei a até a pequena cozinha abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de água e depois caminhei até o armário e peguei um copo despejando a água ali e tomei em pequenos goles.
— Olívia você está bem? – Perguntou Lis acendendo a luz da cozinha e fazendo com que eu a encarasse, aquela mulher tinha sido o meu anjo da guarda, ela tinha me abrigado quando eu tive alta do hospital e era o mais próximo de uma família que eu tinha. Lis era enfermeira no hospital para onde eu tinha sido levada, ela era italiana, mas, morava a muito tempo em Tunes. — Teve o pesadelo novamente?
— Fazia algumas semanas que eu não sonhava com nada, mas, parece que hoje ele voltou ainda mais forte do que das últimas vezes. – Contei-lhe enquanto me escorava na pia e respirava fundo. — Pensei que eles iriam desaparecer com o passar do tempo, mas, parece que nem os remédios fazem com que eu pare de ter esses pesadelos de que eu estou me afogando.
— Os médicos falaram que isso pode ser um fragmento da sua memória. – Lembrou ela fazendo com que eu suspirasse, os pesadelos e o garotinho, eram os únicos fragmentos que apareciam na minha mente e eu nem menos poderia garantir se o garotinho era real, pois, sempre que ele aparece some rapidamente quando me chama de algo que eu nunca consigo entender. — Pode ter sido uma das causas do seu acidente.
— Eu queria apenas esquecer isso também, já que eu não me lembro de nada, poderia não me lembrar disso, seria menos doloroso. – Disse colocando o copo da pia e enchendo a garrafa colocando-a na geladeira. — Acho que nós devemos dormir, amanhã será um dia bem movimentado na loja, com o festival os turistas estão todos animados e o movimento triplica nessas épocas.
— Eu também tenho plantão amanhã e por causa do festival o hospital vai estar lotado de turistas bêbados. – Resmungou ela fazendo com que eu risse. — Tente dormir, se não conseguir tome um remédio você sabe que eles pelo menos controlam a sua ansiedade e você pode descansar melhor. Você tem isso ao psiquiatra?
— Sim. – Respondi a encarando, as pessoas não gostavam muito do termo psiquiatra, mas, eu não me importava, ele estava me ajudando muito naqueles meses, principalmente por conta das crises de ansiedades e do pânico que eu tinha desenvolvido depois do acidente. — Tenho consulta na próxima semana, irei falar para ele que os pesadelos retornaram e que as crises de pânico estão mais frequentes, acho que ele irá ajustar a dosagem dos remédios e eu irei ficar bem.
— Fique longe do mar por enquanto. – Pediu ela fazendo com que eu concordasse. — Não queremos que acabe internada como da última vez, eu fiquei muito preocupada quando Aisha me ligou falando que você tinha desmaiada apenas porque um dos seus amigos tinha feito uma brincadeira de mal gosto e ameaçado jogar você no mar.
— Prometo que irei ficar bem longe do mar. – Prometi sorrindo e apagando as luzes. — Boa noite Lis.
— Boa noite querida. – Desejou ela abrindo a porta do seu quarto e entrando e me encarou por alguns segundos antes de fechar a porta.
Eu voltei para o meu quarto e joguei dois comprimidos na boca os engolindo a seco e fechei os meus olhos depois de puxar as cobertas, eu queria apenas voltar a dormir sem ter qualquer tipo de sonho.
Acordei com o despertador tocando e saí da cama sentindo a minha cabeça pesar, por mais que os remédios ajudassem, eles sempre me deixavam sonolenta por toda a manhã, fui até o banheiro e tomei um banho demorado e gelado, estava fazendo calor, depois do banho eu fiz as minhas higienes e saí do banheiro e voltando para o meu quarto. Abri o guarda-roupa e peguei uma calça jeans e a blusa do uniforme e calcei os meus tenis antes de pentear os meus cabelos e passar um gloss nos meus lábios, eu não gostava de passar muito maquiagem, principalmente porque alguns turistas assanhadinhos sempre passavam do ponto quando viam uma garota bonita andando pela rua e isso me deixava um pouco irritada, peguei a minha bolsa e saí do meu quarto sentindo o cheiro de café no ar.
— Sente-se. – Mandou Lis me encarando. — Eu fiz um café reforçado para nós, acho que iremos ter muito trabalho hoje, quando você voltar nós podemos fazer uma maratona de filmes e comer pizza, parece que faz uma eternidade que nós não fizemos algo assim.
— É uma boa ideia. – Falei pegando uma torrada e mordendo enquanto colocava café na minha xícara. — Acho que eu estou precisando de algo assim para tirar alguns pensamentos que estão rondando a minha cabeça e que não me fazem bem.
— Pensando novamente sobre o acidente? – Perguntou ela fazendo com que eu concordasse. Como ninguém tinha conseguido explicar como eu tinha ido parar no meio do mar agarrada a um pedaço de destroço, eu sempre pensava no que poderia ter acontecido comigo e as minhas hipóteses não eram nada agradáveis, já que ninguém tinha me procurado durante aquele ano que eu estava em Tunes, também não tinha nenhuma informação de qualquer acidente náutico perto da localização que eu tinha sido encontrada. A únicas hipótese plausível que sobrava era que eu tinha sido desovada ali para morrer, eu apenas não conseguia entender o motivo, já que os médicos tinham garantido que eu não tinha nenhum sinal de violência quando eu cheguei no hospital, mas, eles também explicaram que a água salgada poderia ter apagado algumas evidências que poderiam ter no meu corpo. — Podemos fazer uma busca novamente se isso está lhe deixando tão angustiada, quem sabe alguém não lhe procurou nesse meio tempo ou alguma nova informação sobre o seu caso foi encontrada pela polícia.
— Eles falaram que informariam se algo mudasse e se até hoje ninguém me procurou é porque não tem ninguém preocupado com o meu sumiço. – Afirme me levantando, aquela conversa não era algo que eu queria ter, acho que eu tinha apenas que fazer como a minha memória e apagar aquelas preocupações da minha mente, um ano, em um ano se alguém estivesse preocupado comigo já teria vindo a minha procura. — Preciso ir ou chegarei atrasada e hoje é o meu dia de abrir a loja. Cuide-se e não fique preocupada com isso, eu irei ficar bem, nos vemos mais tarde e hoje é a minha vez de escolher os filmes, passarei no mercado e comprei algumas besteiras para comermos.
Ela concordou e eu peguei a minha bolsa e as minhas chaves e saí rapidamente do apartamento. Caminhei pelas ruas movimentadas de Tunes, aquele era o festival mais famoso da Tunísia, por isso as ruas estavam tão lotadas daquela maneira, se não fosse por isso iria ser um final de semana tranquilo. Abri a loja e organizei o caixa antes de Aisha chegar, Rania iria vir apenas depois do almoço, eu sabia que ela estava passando aquela manhã com os seus familiares que tinham vindo de outras cidades apenas para o festival.
— Deixa que eu os atendo, Aisha. – Falei quando vi um casal entrar na loja e ela me encarar com os olhos desesperados, deveriam ser turistas que não iriam entender nada do que ela falava, já que ela apenas falava a língua local e eu conseguia falar em inglês e italiano. — Fique no caixa.
— Bom dia. – Saudei fazendo com que nenhum dos dois me encarasse, parecia que eles estavam mais interessados e discutir. — Sejam bem-vindos, eu sou Olívia, posso ajudar em algo?
A mulher balançou a mão como se estivesse mandando com que eu me afastasse, então eu apenas me mantive por perto enquanto arrumava os artigos que estavam em desordem nas prateleiras.
— Eu estou falando para você Giovanne. – Rosnou a mulher fazendo com que eu abaixasse a minha cabeça para que ela não percebesse que eu estava escutando a conversa deles, mas, não eram muitos italianos que passavam por ali. — Eu vi Katherine, então pare de me chamar de maluca, pois, eu tenho certeza de que a vi.
— Eu não estou chamando você de louca amore. – Falou ele calmamente colocando a sua mão no ombro da mulher. — Mas, fica difícil acreditar em você Lou. Quantas vezes você já viu Kate nesses últimos ano? Você a viu em Veneza durante as nossas férias e nós rodamos a cidade inteira e não encontramos ninguém nem ao menos parecida com ela. Também a viu em Roma, Paris, Amsterdã e nenhuma das vezes conseguiram encontrar Kate, eu sei que você sente muita falta ela, Katherine era a sua melhor amiga, assim como a minha, mas, você tem que aceitar que ela está morta, você precisa superar isso amore ou nunca irá conseguir seguir em frente.
— Quem disse que eu quero seguir em frente. – Bradou ela o encarando furiosamente e dando-lhe as costas. — Quer saber. Vá para o inferno Giovanne.
— Madre de dio! – Exclamou ele passando as mãos pelos cabelos e respirando fundo. — Essa mulher ainda vai ser a minha passagem de ida para o hospício. Louise espere por mim, você vai acabar de perdendo e eu terei que virar essa cidade inteira atrás de você. Amore, Louise Avery!
Ele saiu da loja apressadamente atrás da esposa e deixou cair alguns papéis fazendo com que eu me abaixasse para os pegar, turistas! Eles sempre perdiam alguma coisa e voltavam para pegar.
— Que mulher mais estressada. – Comentou Aisha quando eu me aproximei do balcão e dei uma risada. — Sobre o que eles estavam falando? Eu não consegui entender nada, mas, ela parecia bem irritada. Ele olhou para alguma mulher? Por isso ela estava tão irritada, com um homem daqueles ao meu lado eu nunca iria sair sozinha daquele jeito.
— Não entendi o motivo da briga, mas, parece que ela estava cismando que viu a melhor amiga que está morta. – Respondi fazendo com que ela arregalasse os olhos. — Turistas, eles sempre vêm com uns papos estranhos. Guarde isso em um envelope branco e coloque na segunda gaveta, ele deixou cair, com certeza voltará para buscar, parecem ser papéis importantes.
— Você é sempre tão bondosa com eles Olívia. – Resmungou ela fazendo o que eu tinha pedido. — Eu teria era agarrado o braço daquele homem lindo e falado que ele tinha deixado cair os papéis e ainda iria o convidar para um café, quem sabe ele não veria alguma coisa em mim que não tinha na esposa dele.
Balancei a minha cabeça negativamente rindo e mandou com que ela voltasse ao trabalho, pois, nós ainda tínhamos um dia inteiro pela frente e aquele dia iria ser mais longo do que em dias normais.
Almocei em uma pequena lanchonete perto da loja, Aisha ainda estava deslumbrada pela cliente de mais cedo e não parava de falar sobre isso e eu realmente me divertia com os seus devaneios, Aisha tinha acabado de completar 20 anos, ainda estava na fase das ilusões, principalmente quando encontrava um homem bonito e ela era uma namoradeira nata, estava sempre flertando pela cidade e quebrando corações.
— Então tivemos uma discussão mais cedo. – Comentou Rania no final da tarde fazendo com que eu risse. — Aisha está apaixonada suspirando pelos cantos e ela nem ao menos sabe o nome do homem.
— Acho que ele é completamente apaixonado pela esposa, isso irá apenas partir o coração da nossa Aisha. – Comentei enquanto terminava de fechar o caixa. — Ela não tem chance nenhuma e parecia realmente uma discussão sobre um assunto que não tinha nada a ver com a relação dos dois, apenas não sei se ele conseguiu lhe alcançar, afinal, ela saiu tão irritada da loja que ele parecia um pouco desorientado, mas, correu atrás dela.
— Turistas, eles sempre arrumam um motivo para discutirem. – Afirmou ela fazendo com que eu risse. — Você já pode ir Olívia, eu termino de arrumar as coisas por aqui, trabalhou o dia inteiro deve estar cansada.
— Irei pegar as minhas coisas no estoque e estou indo. – Garanti a encarando e saindo de traz do balcão indo na direção do estoque, me espreguicei sentindo os meus músculos voltarem para o lugar, realmente tinha sido um longo e cansativo dia, eu queria apenas voltar para casa me deitar no sofá e fazer uma sessão de cinema com Liz. Coloquei a minha bolsa no ombro e peguei o arrumei os meus cabelos antes de sair do estoque.
— Senhor eu realmente não recolhi nenhum papel hoje. – Avisou Rania enquanto eu fechava a porta do estoque, aquele deveria ser o último cliente da noite. — E as minhas funcionária não falaram nada sobre isso, o senhor deve ter esquecido os seus papéis em outro lugar.
— Essa foi a única loja em que eu entrei. – Resmungou ele fazendo com que eu reconhecesse aquela voz, era o homem de mais cedo o que estava discutindo com a mulher. — Me desculpe por perturbá-la senhora, mas, eu realmente pensei que os maus papéis poderiam ter caído aqui e muito obrigada pelo seu tempo.
Ele virou-se para sair enquanto eu me aproximava do balcão e abria fazendo com que Rania me encarasse com uma sobrancelha arqueada como se estivesse me perguntando o que eu estava fazendo.
— Senhor. – Chamei fazendo com que ele se voltasse para mim com os olhos arregalados. — Eu guardei os seus papéis, eles pareciam ser importantes então eu os guardei aqui. Me desculpe por não ter avisado Rania, mas, eu me esqueci completamente por conta do movimento. Me desculpe.
— Está tudo bem, querida. – Falou ela sorrindo. — Acho que encontrou os seus papéis senhor. Senhor!
— Amata madre di dio¹! – Exclamou ele caminhando na minha direção e segurando os meus ombros fazendo com que eu arregalasse os meus olhos, aquele homem só poderia estar ficando maluca. — Kate! Dio! É realmente você? Céus todos pensam que você está morta. Por que não voltou para casa? Todos ficaram desesperados quando você desapareceu no mar.
— Desculpe-me senhor, mas, você deve estar me confundindo com outra pessoa. – Avisei tentando me livrar do seu aperto, mas, ele apenas apertou com mais força os meus ombros fazendo com que eu não conseguisse me livrar das suas mãos. — Poderia me soltar, está me deixando assustado e acho que não vai querer que a minha chefe tenha que chamar a polícia para lhe conter.
— Minha funcionária está certa. – Informou Rania o encarando e se colocando entre nós, afinal, aquele homem parecia extremamente surtado naquele momento. — Já conseguiu recuperar os seus documentos senhor, acho melhor sair ou eu irei ligar para a polícia e avisar que você está importunando a minha funcionária.
— Kate sou eu Gio, Giovanne. – Disse ele como se aquilo fosse resolver a sua situação. — Nós crescemos juntos, eu, você e Matteo, na fazenda dos seus avós, nós corríamos por entre os parreirais levando o seu avô a loucura por estarmos estragando as suas preciosas uvas, nós somos melhores amigos desde a nossa infância. Matteo, você se lembra de Matt?
— Senhor por favor se controle. – Pediu Rania o afastando de mim quando percebeu que as minhas mãos estavam tremendo, eu estava realmente assustada com toda aquela situação. — Minha funcionária já disse que não é a pessoa que você está falando, então por favor vá embora ou eu realmente irei ser obrigada a chamar a polícia e eu não me importo com quem o senhor seja, irá se explicar para os policiais.
— Desculpe-me, desculpe-me. – Pediu ele me encarando e passando as mãos pelos cabelos e respirando fundo antes de voltar a nos encarar. — Eu não quero assustar ninguém, eu apenas quero entender o que está acontecendo. Você está morta, você foi dada como morta, você não pode ser tão cruel assim Kate, todos nós sofremos pela sua perda. Matteo, céus ele se culpa até hoje por ter deixado com que você entrasse no mar naquele dia, não pode apenas ter deixado tudo isso para trás e estar vivendo outra vida.
— Você está me confundindo com outra pessoa. – Sussurrei sentindo as minhas pernas começarem a ficar tremulas e o meu coração começar a palpitar desesperadamente dentro do meu peito. — Meu nome é Olívia, eu não sou a Kate que você está procurando, está me confundindo com outra pessoa.
— Eu não confundiria você. – Garantiu ele me encarando e tirando o celular de dentro do bolso fazendo com que eu apertasse com mais força o braço de Rania, eu estava começando a ficar ainda mais desesperada. — Eu conheço você desde que era um bebê gorducho e sorridente, céus nós somos melhores amigos Katherine, apenas pare com essa farsa e volte para casa, apenas volte para casa.
— CHEGA. – Bradou Rania o encarando furiosa. — Saia da minha loja imediatamente senhor, minha funcionária já informou mais de uma vez que ela não é a pessoa que você está falando. Se não sair imediatamente eu irei mandar que a polícia lhe prenda por perseguição, pois, o que está fazendo com Olívia é algo inadmissível.
— Estou saindo. – Falou ele levantando as suas mãos e nos encarando. — Estou hospedado no The Penthouse Suites Hotel, por favor Kate, apenas venha me encontrar, eu prometo que não irei julgar você, podemos resolver essa situação da maneira mais pacífica possível e a sua família, eles não iram ficar bravos, acho que todos iram lhe acolher novamente de braços abertos, afinal, os Avery amam você. Lembre-se Giovanne, Giovanne Bianchi.
Ele pegou os seus papéis e saiu fazendo com que eu me segurasse no balcão para não desabar no chão, Rania segurou o meu braço e me levou até a cadeira fazendo com que eu me sentasse ali e ela saísse e retornasse com um copo de água colocando na minha mão.
— Eu coloquei um pouco de açúcar para acalmar você. – Disse ela acariciando o meu braço delicadamente. — Você realmente não o conhece querida? Ele parecia realmente muito convicto com as suas palavras, estava apenas um pouco alterado.
— Eu não me lembro, eu realmente não me lembro de nada. – Sussurrei antes de tomar um longe gole de água, parecia que todo o meu corpo estava tremendo e eu não conseguiria fazer nada. — Não consigo me lembrar de nada e eu estava me sentindo pressionada com ele falando daquela maneira, parece que eu estou fazendo isso de proposito Rania, mas, eu não consigo me lembrar de nada, absolutamente nada.
— Eu acredito em você querida. – Disse ela apertando o meu ombro delicadamente. — Irei ligar para Liz, não é você sair na rua nessas condições, não saia daí, eu irei apenas fechar as portas e colocar a placa de fechado, não queremos que mais alguém fazendo confusão na sua cabeça, acho que já passou por uma situação estressante demais por conta de toda essa algazarra causa pelo bonito Giovanne.
Dei uma risada e tomei a água em pequenos goles tentando acalmar os meus nervos que estavam em frangalhos. Liz entrou na loja como um furacão parando na minha frente e me abraçando antes que eu falasse qualquer coisa, acho que ela queria apenas garantir que eu estava bem.
— Estou bem. – Garanti quando me afastei dela e ela segurou as minhas mãos delicadamente. — Me desculpe por assustar você dessa maneira, mas, Rania achou melhor que eu não saísse sozinha.
— Ela fez bem. – Disse Liz me encarando. — Ela me contou o que aconteceu pelo telefone. Como você está com isso? Ele falou alguma coisa que possa contribuir com a sua busca pelos seus familiares ou sobre o acidente que você sofreu?
— Ele estava um pouco alterado e me chamando de Kate, disse também que nós somos amigos de infância, eu, ele e um tal Matteo. – Respondi a encarando. — Ele disse algo sobre uma fazenda com parreirais de uva e um acidente, mas, ele não deixou nada detalhado.
— Ele também falou sobre a família Avery. – Lembrou Rania fazendo com que eu concordasse. — Eu conheço um pouco sobre a família, eles são os maiores produtores de vinhos finos da Itália, tem vinícolas espalhadas por todo a Europa, Ásia e América no norte, estão explorando Tunes para abrir um filial na cidade, isso é que está sendo comentado por todos os lojistas locais, isso iria alavancar um pouco o movimento. Posso perguntar para alguns amigos que são mais próximos do grupo Avery se eles sabem de algum acidente que aconteceu na família esse tempo em que Olívia está conosco.
— Iríamos ser muito gratas se você fizesse isso Rania. – Falou Liz ajudando-me a levantar. — Mas, nesse momento eu acho apenas que Olívia precisa descansar um pouco depois de toda essa situação ela deve estar exausta.
— Não irei abrir amanhã. – Avisou ela acariciando o meu braço delicadamente e fazendo com que eu suspirasse. — Aproveite a sua folga para colocar a sua cabeça em ordem, irei perguntar para alguns colegas sobre a família Avery, conversaremos melhor na segunda.
— Obrigado Rania. – Agradeci pegando a minha bolsa e sorrindo para ela. — Tenha uma boa noite.
— Boa noite. – Desejou ela antes que nós saíssemos da loja.
Caminhamos a passos lentos pelas ruas ainda lotadas a minha cabeça estava tão cheia que eu nem percebi que tínhamos chegado em casa até a síndica nos parar falando sobre a reunião de condomínio da próxima semana. Liz abriu a porta e eu entrei passando diretamente para o meu quarto, peguei o meu pijama e me tranquei no banheiro, tomei um banho demorado para tentar tirar aquela conversa da minha cabeça, mas, sempre que eu fechava os meus olhos eu conseguia ver o rosto daquele homem assustado me encarando.
— Você está bem? – Perguntou Liz quando eu saí do banheiro. — Está calada desde que saímos da loja, você realmente é mais falante do que eu.
— Isso apenas é chocante demais, aquele homem parecia tão assustado e logo depois tão irritado que isso me assustou um pouco. – Desabafei cruzando os meus braços e suspirando. — Como se eu tivesse feito algo muito errado, mas, eu não estou errada Liz, eu apenas não consigo me lembrar, nem quando ele me pressionou eu consegui me lembrar de nada, nem uma memória, nem um lapso, nada apenas o mesmo vazio de sempre.
— Você não está errada, nunca pense nisso, você é a vítima e não eles. – Garantiu ela me abraçando. — Tente esquecer isso um pouco, esquentar a sua cabeça vai apenas fazer com que você se sinta pior. Eu escolhi uma comédia e pedi pizza, acho que estamos precisando nessa noite mais do que tudo.
— Obrigado. – Agradeci sorrindo e deixando com que ela entrasse no banheiro.
Fiz uma pipoca e despejei uma calda por cima dela e depois arrumei a mesa de centro com algumas besteiras para que nós comêssemos durante o filme e me sentei a espera de Liz.
O filme era maravilhosa e eu dei boas risadas e isso fez com que eu esquecesse um pouco da confusão daquele dia e quando eu me deitei já era tarde, peguei o meu celular e pesquisei sobre Giovanne Bianchi e sobre a família Avery, mas, todas as redes sociais dele eram privadas e tudo que tinha nas páginas da web eram que ele era um publicitário renomado e estava no auge da sua carreira e sobre a família Avery eles eram realmente importantes na Itália e no ramo dos vinhos, mas, nada além disso, nenhum escândalo, nenhuma matéria sensacionalista, nada falando sobre qualquer acidente.
— Deus me dê uma luz. – Pedi colocando as mãos na minha cabeça e sentindo as lágrimas começarem a deslizar pelos meus olhos. — Apenas uma luz, se eles forem realmente a minha família me deixe saber, eu apenas não quero continuar a ser atormentada dessa maneira. Eu não aguento mais viver dessa maneira.

¹: Tradução: Mãe amada de Deus.

Memórias  Do Nosso Amor - Livro 1 - Trilogia AveryOnde histórias criam vida. Descubra agora