A Chegada.

480 29 14
                                    

Capítulo revisado 21 de Maio, 2020.

Eu juro que queria entender onde isso tudo começou. São tantos começos e momentos bons que me perco entre minhas memórias. Sofro por uma tortura de desejos incansáveis que insistem em se repetirem na minha mente. Pensar em como ele era, como ele se tornou diante de mim. Como as coisas fluíram. Era inacreditável que durante uma pequena férias eu iria me apaixonar por ele. Por aquele homem. Talvez esteja óbvio de mais, mas, o quão errado isso era?

Eu costumava tocar piano na sala de estar (ou lazer), tentava criar versões tristes das minhas músicas favoritas enquanto pensava no amanhã. Minha mãe não dizia uma palavra nesses momentos, era como se ela estivesse se aproveitando. Entendendo a mensagem que eu tentará transmitir. Não era fácil, tenho que confessar que mudar o ritmo das músicas é um risco cruel em tirar toda a sua magia, mas eu tentava.

- Se continuar nessa melodia terei que fazer seu atestado de óbito. - Ouvi uma voz sonora dizer. Era uma mulher chamada Michele. Minha mãe. Eu não soube o que responder a ela naquele dia, eu apenas parei de tocar e a encarei com um sorriso frouxo. - Você deveria ir descansar, vai acordar cedo amanhã. Ou você se esqueceu que vamos sair?

- Não me esqueço de nada, M. - Eu a chamava assim, era lindo o sorriso que ela fazia toda vez que eu dizia M. se referindo a ela.

Naquele dia eu subi para o quarto. Foi aconchegante o calor da minha cama com o frio de inverno do lado de fora. Eu adorava aquela sensação. De conforto, era como se tudo se preenchesse e ligassem uns aos outros para trazer o conforto aos habitantes daquela área. Eu não precisava de mais nada. Mas não foi ali que começou. Aquele era mais um dos momentos bons que passei naquelas férias de inverno.

O suéter verde, a calça bege, os sapatos marrons. Lembro de suas palavras ao se despedir do taxi, de dizer que agora estava em casa. Me lembro também desses detalhes da segunda semana de férias. Seu cabelo louro liso envolvido para um topete bem feito ao gel. Seus músculos bem marcados em sua roupa. Me lembro disso também. - Até breve! - era a sua despedida. Seu jeito de encerrar os momentos. Após dar o dinheiro ao taxista essas foram suas palavras. Simples, pequena, esperta e direta. "Até breve".

Eu podia o ver da janela de meu quarto, ouvir seus passos. Ele logo cumprimentou minha mãe, elogiando sua aparência atual. - Como você está linda! - Era suas palavras, ela nunca foi elogiada com frequência e era notável a timidez dela todas as vezes que isso acontecia. Ela estava tão linda quanto ele naquele dia. Seu vestido rodado de bolinhas, seu cabelo liso jogado para trás pela tiara. Eu a idolatro.

Talvez tenha começado ali de fato. Na sacada do meu quarto, observando um lindo homem louro de suéter verde chegar em minha casa. Seu sorriso ao ver minha mãe. Seu "até breve" para o taxista. Seus passos leves e longos até a porta. Talvez tenha sido ali o perigo que corri. Quando desci as escadas de casa correndo mas logo agora naturalmente ao ver sua silhueta adentrando o corredor.

- Muito bela a sua casa, queria ter essa dedicação pra decorar. - Dizia. Eu ouvia a sua voz com clareza e suavidade. Era como se eu já tivesse ouvido antes e de fato eu já havia ouvido, mas era da mesma pessoa?

- Pode deixar suas coisas ali na escada, logo esvaziarei umas gavetas para você. Temos umas sobrando. - Afirmou M; ela adorava estar na autoridade da casa. Éramos só eu e ela, não havia mais ninguém a anos, talvez as coisas mudem agora.

Me sentei no antepenúltimo degrau da escada, observava sua sombra bem desenhada ao chão junto a de M. conversando. Era como se já estivesse juntos a anos quando na verdade só fazia 9 meses.

Até BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora