As Regras.

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Capítulo revisado, 14 de Abril, 2021.

A quarta semana foi a mais longa, tenho que confessar. Eu confesso muitas coisas, estou ciente, mas não a nada mais gratificante do que aquele dia. Estava tomando nosso velho e comum café da manhã. M, contava sobre seu passeio á P. e se sentia agoniada pelo fato de pagar caro em alguns alfaces, os preços em P. subiam todo mês e isso era ruim, ela dizia que a cada dia ficávamos com menos coisas e compravamos menos do que a última compra. Um porcento menos a toda semana. Enquanto ele dizia que queria ajudar nas despesas já que agora mora com a gente, ela não aceitou de primeira mas em beira necessidade acabou sedendo.

Eu não imaginava por quanto tempo ele ficaria ali ou duraria. Não sabia se aquilo que estávamos tendo era algo de fato ou se fazia parte da minha paixão por ele. Eu me lembro de questiona-lo sobre isso mas não me lembro de sua resposta. Não me lembro de sua feição, não me lembro de nada daquele dia.

— Dormiu bem, Lonza? Você parece meio cansado. — Disse M. Eu quero poder dizer pra ela o porquê, dizer que penso nele durante a noite e que o sono foge de mim. O clima esquenta e eu não durmo. Não consigo. Não consigo não imaginar ele em meu quarto como da primeira vez que imaginei. Eu queria poder dizer a ela.

— Eu dormi tarde, estava lendo. — Respondi meio grosseiro, até hoje não entendi porque reagi assim. Às vezes penso que era pelo motivo dela ter ele em suas mãos e eu não. Ou uma simples inveja, talvez.

Para conviver com o perigo que tanto deseja você precisa estabilizar algumas regras. São bem simples mas que no fundo fazem diferença. Quando as fiz, me senti orgulhoso em concluir-lás todos os dias e era algo bom.

Regra número um: Nunca desviei o olhar dele quando ele estiver falando com você. Ele é o seu principal foco e nada mais importa. Deixe ele perceber isso, ele precisa!

Regra número dois: Nunca deixe que ele faça suas coisas, você precisa se mostrar ápto para qualquer coisa. E claro que vai estar, já que tudo que envolva ele te deixará animado.

Regra número três: Nunca diga o nome dele em voz alta, não pensar no nome também ajuda. Isso talvez tire o rótulo sobre ele da sua cabeça e te deixe com espaço suficiente para reparar em coisas que ninguém repara.

Regra número quatro: Nunca use a mesma cor de roupa que ele. Talvez essa seja uma besteira mas confesso que eu adoraria parecer irmão dele de roupa. Eu sempre buscava me diferenciar. Apesar dos nossos gostos diversificados, as cores sempre eram parecidas e eu tinha que mudar.

Regra número cinco: Desperte curiosidade nele, tenha poucas palavras, argumente com clareza e deixe sempre três pontos finais nos assuntos.

Eu sempre seguia essa ordem, essas regras mudavam meu dia a dia por mais que não pareça, mesmo até porque só eu as notava e só eu percebia meus erros. Era divertido, também era bom para um passatempo e com elas eu também podia conhecer mais dos gostos dele. Despertar sua curiosidade mostrava seu entusiasmo nos assuntos, as vezes legal ao ponto de insistir por uma explicação, as vezes normal demais pra continuar e então o seu "interessante" entrava. Eu odiava quando ele dizia aquilo, era como se estivesse muito chato aquela situação, como se eu estivesse tagalerando várias besteiras e pra ser sincero eu estava, mas sua reação me deixa curioso. Talvez ele utiliza as minhas regras.

— Depois eu quero te mostrar uma coisa. Acho que vai ser divertido. — Disse ele repondo mais café em seu caneca azul. — Eu encontrei uma coisa muito legal perto do lado, acho que você não sabia que existia.

— Eu conheço tudo por aqui, seria impossível eu não ter notado algo próximo ao lago, normalmente, eu saio de lá. — Falei duvidando de seu conhecimento.

Até BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora