O Começo.

139 15 7
                                    

Capítulo revisado, 14 de Abril, 2021.

— Você vai ficar doente se continua digitando nesse computador. — Disse Hellen, minha filha.

Já estava de manhã, eram nove da noite quando comecei a escrever sobre o passado que tanto me lembro todas as noites. Ela sabia o que eu estava fazendo, todos sabiam. Mas eu precisava terminar, colocar toda aquelas férias em míseros cinco capítulos e me sentir orgulhoso por ter feito algo bom. Talvez, algo que me marque até hoje, me lembrar dele era marcante. Todos o conhecia agora, todos iriam ver quem foi o primeiro e único homem que me motivou a viver como eu nunca vivi na vida. Mesmo depois de tanto tempo, eu ainda me lembro de tudo.

— Estou acabando, querida. — Indaguei e tomei mais um gole do meu chá, mas ele estava frio agora, gelado ao ponto de eu o rejeitar em minha boca.

Última semana das férias, ele me olhava do outro lado da mesa de jantar. Estava sorrindo e eu não queria entender o porquê. Logo ele teria que ir embora, não me pergunte se estou certo disso. M disse que ele ficaria conosco apenas nas férias e voltaria para a cidade de onde veio, porque ele precisava trabalhar e talvez ele voltasse nas próximas férias. Mas eu não queria esperar até as próximas férias, eu não queria mais ficar longe dele, das suas cores, do seu toque, do nosso lago, das nossas regras. Eu não queria perder a oportunidade de construir um começo com ele. Éramos feitos um para o outro e eu estava completamente apaixonado por ele.

Eu não tinha o poder de ditar as regras, eu não podia dita-lás, nem criar-lás como eu imaginei que poderia. Agora eu precisava entender que ele estava indo embora, sem explicação alguma na minha cabeça, mesmo sabendo o real motivo eu não queria aceitar, preferi me acolher em um nio de tristeza por perder ele logo agora. Me lembro de ter ficado em meu quarto sobre os cobertores quentes enquanto analisava cada centímetro das paredes, buscando algo para me distrair, imaginando formas de reconstruir o quarto ou até imaginando como ele foi construído. Eu gostava da forma que eu conseguia me entreter sozinho, mas, eu não possuo mais esse dom. Ele por outro lado, talvez nunca tenha notado, nunca deve ter visto o que eu fazia por ele ou pensava a seu respeito. Eram tantos pensamentos contínuos e aleatórios.

Ele adentrou o quarto naquela manhã frienta, sem dizer uma palavra e sentou na beirada da cama, encarava o chão em silêncio, talvez ele tenha muita coisa para me dizer ou não. Eu penso demais as vezes e sinto que espero muitas coisas cujo só estão na minha cabeça. Naquele dia eu parei com isso, deixei que ele criasse essa situação. Ele tem o controle aqui.

Me lembrei de quando Mark, meu ex colega de escola que eu o apelidei de K, me dissera. "Você precisa parar de pensar que tudo é um conto de fadas ou uma história de comédia romântica. Tudo a sua volta se torna sensível o suficiente para tornar você o protagonista em perigo" eu chorara quando o ouvir dizer isso, quando jogava meu ego em minha cara. "Talvez muitos tentam te mostrar o contrário, mas eu sempre irei te dizer a verdade".

— Sua mãe dissera pra eu vim conversar com você um pouco.

Eu queria poder dizer que sei do que se tratava, mesmo imaginando que seria sobre sua despedida, que ele me diria que irá embora e que eu deveria esquecer tudo o que passamos juntos desde então porque ninguém deveria saber sobre. Seria ruim demais para um homem como ele ter a carreira prejudicada por uma criança como eu. Mesmo assim eu queria não me sentir mal com isso. Queria manter o controle de tudo e da situação principalmente, até porque não era sempre que tínhamos aquelas momentos a sós em casa.

— Acredito que veio porque ela mandou.

— Vim porque eu quis.

— Prove — Retrucar era um ato cruel e talentoso da minha pessoa. Eu odiava fazer isso mas era como se fosse automático.

Até BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora