Capítulo 9

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Sai do quarto dele rápido, rápido demais, quase caí, minhas pernas estão bambas, ele já vai acordar, tenho certeza, e estou com vergonha.

Meu rosto queima, volto para o posto de enfermagem, descarto as seringas que usei nele. Respiro fundo, várias vezes.

Preciso focar no trabalho, mas está difícil, lavo minhas mãos duas vezes. Preciso ir administrar os medicamentos dos outros pacientes.

Pego a bandeja e sigo, lá é mais simples, eu já os conheço. Talvez seja isso, eu não conheço Mancini e fantasio demais com ele, quando ele acordar vai ser melhor.

As acompanhantes estão lá agora, ajudo no banho deles, faço curativo, administro os medicamentos de horário. Sr.Italo tem febre hoje, verifico a temperatura a cada trinta minutos. Sr. Roberto está bem melhor, acho que logo terá alta.

Sarinha está acariciando o cabelo branquinho do avô quando me aproximo deles. Faço a troca do soro. Observo a hidratação da pele. Verifico os sinais vitais do avô dela, está baixo, anoto.

Procuro o médico de plantão e mostro minhas anotações.

_Santos, o velho Dantas está em cuidados paliativos, a neta dele já sabe disso, agora é uma questão de tempo, só podemos amenizar a dor. _Eu não quero acreditar, simplesmente não quero, ajeito meu óculos e evito as lágrimas.

Fujo para o único lugar que sei que ninguém vai me incomodar, entro de cabeça baixa, não consigo olhar pra B1 e B2 agora.

Me recosto contra a porta fechada e cubro minha boca, quando o primeiro soluço escapa, eu não estou pronta. Morte sempre me afeta.

Me curvo, respiro fundo, minhas lágrimas escorrendo pelo rosto sem parar, a dor no meu peito me corroendo, lembro de minha mãe e de meu pai.

Ouço o barulho alterado dos aparelhos, retiro meus óculos, limpo meus olhos, recoloco e olho para Mancini, ele acordou, está puxando a entubação.

_Senhor Mancini, não faça isso! _Grito e corro até ele. _Não! _Continuo gritando, a porta abre, os seguranças entram. _PARADA! PARADA! _Grito sem para. _Não morre, não morre, eu não permito, está me ouvindo Mancini, não permito que morra! _Começo as massagens, Raul chega e outros enfermeiros, reversamos.

_Adrenalia! _Grita Dr. Diego assim que chega. Eu me afasto, estou tremendo muito.

Não morre, por favor, não morre.

_Ritmo não chocavel. _Grita outra enfermeira, continua as massagens, mais medicações, tiraram a entubação, instalam o ambu.

Ele broncoaspirou, e seu coração parou, agora estava parado a dois minutos, no terceiro eles administraram mais adrenalina.

A confusão de ordens e massagens era sincronizada, só quem trabalhava na área entendia, ele podia ser qualquer um, eles lutariam até o último instante.

Olho para a tela que avalia o coração, vejo o ritmo para o choque.

_Afastar! _Grita Dr. Diego e aplica a primeira onda de choque, duas, três vezes. Por fim ele volta. Eu fecho meus olhos e suspiro.

_Saturação aumentando, frequência cardíaca voltando ao normal. _Raul fala, analisando a tela.

Os enfermeiros conversam entre si. Ele estava solto das algemas, retiram a tábua que haviam colocado para ajudar nas massagens e organizam o material, um alívio toma conta do ambiente, uma parada é sempre algo muito intenso.

Olho para ele, não parece ter quase morrido. Quando vejo seus olhos abrindo meu coração acelera, e penso, que eu mesma, terei uma parada.

_Senhor Mancini, você está no hospital. _Dr. Diego começa a falar com ele, Mancini olha para todos ao seu redor e para seus olhos em mim.

Paro de respirar quando ele estende a mão pra mim, todos me olham, sem entender. Tudo leva um segundo, ele logo perde a consciência, seu corpo e mente esgotado.

_Avalie o quadro a cada trinta minutos, veremos se ouve alguma sequela. _Anoto tudo em meu caderno, disfarçando o desconforto que estou sentindo.

Por que ele me olhou? Não tem como me reconhecer, nem deve ter me visto direto quando acordou.

Saio do quarto, meu coração ainda a mil, B1 e B2 encarando a parede, não me dão atenção.

_Parabéns Santos, agiu rápido. _Dr. Diego da tapinhas em meu ombro enquanto me elogia.

_Devia ter deixado ele morrer, é um bandido. _Resmunga Raul ao nos alcançar no corredor. Diego guarda a caneta do bolso e nem olha pra ele, eu aperto minha mãos em punho.

_Ele continua sendo nossa responsabilidade, faremos o que tiver em nosso alcance para manter o bastardo vivo. _Chegamos no posto de enfermagem e pego o prontruario de Mancini, descrevo o que ouve com detalhes, carimbo e assino, entrego a Dr. Diego, que faz o mesmo.

Por fim, lavo minhas mãos, ainda trêmulas e finjo não ouvir o que todos dizem ao meu redor. Ainda estou em choque. Saio para o meu intervalo mais cedo, preciso de espaço, preciso pensar.

Eu já participei de várias paradas, mas hoje, eu me sinto esgotada, emocionante.

Não consigo comer, estou enjoada, fico no estar, olhando para as madeiras da cama de cima, meu coração ainda acelerado. Eu preciso fazer um check in, isso não é normal.

Coloco a mão em meu peito acelerado, respiro fundo, ao menos umas dez vezes, me acalmo, e ele volta a acelerar quando lembro da quase morte de Mancini.

Durmo um pouco, acordo péssima, dor de cabeça do inferno. Calço meu tênis, vou ao banheiro, lavo meu rosto várias vezes.

Pego um café, bebo lentamente, preciso que a cafeína entre em minha corrente sanguínea e me desperte. Preciso estar com a mente clara, meu intervalo acaba. Pego dois sanduíches naturais e coloco no bolso do jaleco.

No corredor do quarto de Mancini entrego o sanduíche a B1 e B2.

_Obrigado. _Diz os dois ao mesmo tempo, baixo minha máscara e sorriu para eles.

_Ora! Temos um progresso. _Eles não respondem. _Nada de diálogo ainda? Ok, sem problema, eu gosto de monólogos também.

Vou para o posto de enfermagem e paraliso quando encontro Dr. Diego ao lado de Sarinha, conversando baixinho.

Ela me vê e começa a chorar. Eu estou em choque de novo, ela me abraça e eu simplesmente não me mexo. Dr. Diego me olha e faz aquela cara de sinto muito.

Aperto Sarinha em meu abraço, ela é mais baixinha que eu, seu cabelo é preto e curto. Ela soluça contra meu ombro e eu só consigo abraçar ela.

_Eu estou sozinha, não tenho mais ninguém. _Ela diz entre lágrimas.

_Ele descansou Sarinha, venha, vamos providenciar para que ele tenha uma linda passagem. _Puxo ela pela mão e a guio até Dr. Paulo, que entrega a certidão de óbito.

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[DEGUSTAÇÃO] PERIGOOnde histórias criam vida. Descubra agora