Capítulo 9

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Eu deixo minha bandeja no posto de enfermagem, e corri para o banheiro, me tranco e fico lá, puxando o ar, com a mão em meus lábios.

Eu nunca beijei ninguém, nunca, e ele me beijou, me puxou e me beijou. Por que fez isso?

Foi muito bom, o beijo dele é muito bom. Meu Deus, eu só consigo lembrar que queria mais, mas ele se afastou e eu saí, por que me senti muito devassa.

Tenho que lembrar que ele é um criminoso, um bandido muito perigosos, altamente perigoso. Mas isso não tá entrando na minha cabeça.

Só posso estar louca, tenho certeza, não tem outra explicação. Me olho no espelho, meu rosto está vermelho, minha boca está inchada.

Coloco meus dedos contra meus lábios e relembro a sensação, aquele tremor, o frio na barriga, a sensação estranha no meio das minhas pernas.

Tiro meu óculos, lavo meu rosto com água fria, me recomponho e saio. Retorno ao posto de enfermagem, descarto o material que usei, separo os medicamentos dos pacientes seis e sete.

o oito era o Sr. Dantas, ele se foi ontem, ajudei Sarinha em tudo que eu pude, ele está sendo velado naquele instante e eu não podia faltar o trabalho e ir, fiquei com eles o máximo que pude, sai da casa de Sarinha cedinho e vim direto para o hospital.

_Bom dia Sr. Ítalo e Sr. Roberto, estamos bem hoje? _Claro que não estão, um óbito é sempre um óbito, independente de quem seja. _Vou cuidar de vocês. _Eles acabaram de acordar. Ajudo-os com seus medicamentos orais para pressão alta.

Se estiver melhor hoje, mais tarde, quando Dr. Diego vier, Sr. Ítalo vai ter alta, a família está torcendo. Avalio seus sinais vitais e está tudo ótimo, ir pra casa vai ser melhor pra ele.

Suzana, a acompanhante de Roberto chega, e me ajuda a fazer a mudança de decúbito do pai. Que agora está se recuperando da lesão causada pelo calor do colchão. Ele ainda não senta igual ao Ítalo, e isso dificulta a recuperação. Preparo uma nebulização pra ele, está gripado, mas a febre cedeu e ele está um pouco melhor agora pela manhã.

Volto para o posto, lavo bem minhas mãos e faço as anotações de enfermagem no prontuário dos três, agora são só três, amanhã será só dois, tenho certeza que Raul vai dar um jeito de deixar quatro pacientes nas minhas costas, ele sempre faz isso.

_Você viu os policiais ontem? _Escuto a conversa das folgadas as minhas costas. _Cuidei dele ontem, depois que o Dantas bateu as botas, o cara tem uma cara de mau, que dá arrepios.

Mancini? Será que ela tá cega, ele não tem cara de mau, pra mim ele é bem normal, não aparenta ser uma ameaça.

_A Silvinha tirou uma foto do pênis dele e criou uma figurinha no WhatsApp. _Elas ficam rindo, mas eu não acho graça, isso é totalmente anti ético, como pode se aproveitar de um paciente desacordado.

Término minhas anotações e separo o material para o banho de Mancini, já estou trêmula só de pensar nisso.

Pego café e levo pra B1 e B2.

_Obrigado. _Dizem juntos. _Da próxima vez que o coração dele parar deixe ele partir. _Diz B1.

_Que legal, agora temos diálogo, não vai rolar B1, a saúde do meu paciente está acima do que ele fez. _Sorrio pra ele e entro no quarto. _Esses caras só falam merda. _Resmungo. Pego meu celular e me dirijo para o leito, disfarçando para não olhar nos olhos de Mancini. Coloco no Google e aperto no microfone. _Senhor Mancini, eu vou te ajudar com seu banho. _Mostro a ele a mensagem.

Ele sorri de um jeito estranho. Desvio meus olhos. Baixo a cabeceira da cama dele e peço que fique com a cabeça na borda da cama, o Google Translator tá sendo uma mão na roda. Começo a lavar seus cabelos fartos, ele fecha os olhos e agradeço por isso, por que aqueles olhos azuis como uma piscina me enfeitiçam.

Começo a cantarolar baixinho uma música que não sai da minha cabeça.

Tradução:

Grande reputação, grande reputação
Ooh, você e eu, nós dois temos uma grande reputação
Ah, e você já ouviu falar de mim
Oh, eu tenho alguns grandes inimigos

Esfrego o couro cabeludo com cuidado, e retiro o excesso de espuma, a água caindo em um balde que eu coloquei no chão. Continuo cantando baixinho enquanto enxugo o cabelo castanho claro, com uma toalha.

Grande reputação, grande reputação
Ooh, você e eu poderíamos ser uma grande fofoca
Ah, e eu já ouvi falar de você
Ooh, você gosta das malvadas também

Espero que ele não entenda inglês também, se bem que meu inglês é péssimo, por falta de conversação. Mas essa última parte parece combinar com ele, deve mesmo gostar de mulheres malvadas. Olha só o poste dele, esse queixo maravilhoso, essa boca de perfeita.


Eu quero ser o seu fim de jogo
E

u quero ser sua primeira opção
Quero ser seu time principal
Eu quero ser o seu fim de jogo, fim de jogo...
Taylor Swift and Ed Sheeran - End Game.


Pego meu celular e explico que vou lavar seu corpo, mas ele mesmo pode fazer sua higiene íntima.

Mostro a ele, que estreita os olhos.

_manette. _Aponta para as algemas. Minha vez de estreitar os olhos. Vou pensar nisso depois. Limpo seu rosto com uma gaze úmida e me demoro mais do que deveria. Aproveito que ele está de olhos fechados. Paro quando lembro que abuso não é legal.

Esfrego seu peito com um bucha macia e fico com o rosto quente por que ele está só me encarando. Faço tudo o mais rápido que consigo. Avalio suas unhas, estão um pouco grandes, preciso lembrar de corta-las.

Aprendemos isso no curso, a higiene do paciente é fundamental para evitar contaminações, uma pele limpa impede a proliferação de microorganismos.

Ensino ele a flexionar os joelhos para fazer ao menos o mínimo de movimento. Quando termino fica faltando as costas e trocar os lençóis.

Chamo B1 e peço que solte ao menos um dos pulsos, explico toda a parte burocrática de ele precisar tomar banho e trocar os lençóis. Demora um pouco, mas ele ajuda, fica no quarto.

Mancini nem olha pra ele, fica só olhando pra mim, eu estou quase dizendo o quanto isso é extremamente deselegante e desconfortável, mas B1 está lá e eu fico com vergonha. Troco a fralda e ele fica desconfortável com isso, deixo que ele se limpe e o ajudo a colocar a outra.

Preciso retirar a sonda, ele não precisa mais dela, tem que fazer xixi sozinho. B1 o prende de novo, mesmo depois de eu insistir que ele precisa ficar numa posição diferente. Sai e nem me dá bola.

_Maldito cabeça dura. _Reclamo comigo mesma. Retiro as luvas e pego meu celular. _Sr. Mancini, vou retirar a sonda, quando o senhor precisar fazer xixi vai ter que fazer num compadre. _Pego o objeto metálico que se parece uma jarra de suco e mostro a ele.

Coloco o celular em frente a seus olhos, para que ele leia a mensagem.

_Dio. _Não está satisfeito, mas concorda com a cabeça depois. Pego uma seringa vazia e encontro uma das vias da sonda, desensuflo o balonete que está dentro da bexiga e começo a puxar com calma, a extensão que está dentro de sua uretra. Retiro por Completo e desprezo no lixo infectante do banheiro, anoto em meu caderno a quantidade de urina dentro do saco e desprezo o líquido no sanitário.

_grazie mille. _Ele diz assim que retorno. Suspiro, tão lindo senhor, acho que estou apaixonada. Só aquele sotaque já me faz babar. _un altro bacio? _Tiro as luvas e estendo o celular. Ele repete. O Google traduz: mais um beijo? Olho pra ele. E me perco em seus olhos.

Estou ferrada, tenho certeza.

[DEGUSTAÇÃO] PERIGOOnde histórias criam vida. Descubra agora