Aos 8 anos a grama verde do quintal já me chamava pra correr com os pés descalços e sujos de terra, o clima estava bem agradável ao sol do meio dia , mas eu estava sentada na escada de frente a porta, sem conseguir tirar o olho da bola rolando no chão, meu primo Guilherme jogava com seus dois amigos que a propósito ele nunca me apresentou, fiquei ali no meu canto por um bom tempo até que a bola rolou em minha direção, meus olhos brilharam, e eu peguei com aquelas mãos tão pequenas.
_ Posso jogar também? _ Olhava quase suplicando com uma carinha de menina fofa.
_ Não enche, chata! fica sentada aí ou vai brincar com suas bonecas.
Pois é, esse era meu primo, curto e grosso. Ele nunca me deixava jogar, nem se eu fizesse a carinha mais fofa e convincente do mundo, ele não cedia.
Ofendida e triste caminho de volta para dentro de casa, e na sala e vejo meu pai assistindo um programa de esportes na TV. E pergunto o óbvio:
_ Pai, o que você está fazendo?
_ Oi, querida! _ Ele olha notando minha presença e sinaliza pra que eu me aproximasse. _ Eu? Estou vendo futebol. E você, minha princesa, o que está fazendo?
_ Eu? Eu queria JOGAR futebol.
Ele me pega no colo e acarecia meus cabelos.
_ Filha, esse jogo... _ ele balança a cabeça em modo de negação_ Não, é muito violento, e você é minha princesa, o que eu faço se você se machucar? Mas você pode assistir o jogo de futebol com o paizão aqui, o que acha?
_ Assistir?
_ Isso mesmo.
_ Ah, tá bom.
A partir de então eu assistia todos os jogos com meu pai, o que minha mãe não gostava nada, por que dizia que eu ia ficar viciada com a cara direto na Televisão, e que criança tinha que brincar. Meu pai sempre me defendia e como eu o amava por me entender, ele era o melhor sempre.
No meu aniversário de 13 anos meu pai me deu um presente, minha primeira chuteira, eu estava tão feliz!
_ Que bom que gostou, querida. O seu primo que te deu, disse pra comprar algo que você gostasse muito, tenho certeza que era o que ele tinha em mente também. Depois agradece, hein.
Na verdade presente foi do meu primo que não estava presente no dia, quem me deu foi meu pai ou coisa assim, pelo menos foi isso que eu entendi, estranhei logo porque sabia que Guilherme não ia com a minha cara mas deixei quieto e nem perguntei, teve uma pequena festa com alguns amigos da família que puderam ir e no final meus pais me surpreenderam com um bolo da cor verde maravilhoso no tema se um ursinho sorridente... Eu amava a cor verde. Aquele dia foi perfeito.
Meu pai me ajudava a colocar a chuteira nova no pé. E eu não pude disfarçar minha empolgação.
_ Tá, tá, tá. Vamos lá fora, pai. Vamos jogar logo!.
_ Júlia! _ Ele me encara torto e eu paro de pular. _ Tá bom, pai. Eu vou agradecer.
_ Tá bom, princesa. Vamos lá. _ Me faz cossegas e eu rio.
Bom, sinceramente eu nunca agradeci, fiquei sem graça né, até porque meu primo era do tipo que não gostava muito de papo, pelo menos não comigo, a gente mal se falava. Então eu evitava usar a chuteira perto dele, porque se não sentia que iria ter que falar com ele e sei lá, acho que não estava pronta.
Depois de dois meses meu primo começou a morar lá em casa, então seguia as regras da minha mãe, ele odiava, uma vez ele avisou que iria jogar futebol com seus colegas, minha mãe disse que só iria se ele me levasse. Ele não gostou nada da idéia e resmungou o tempo todo do meu lado.
_ Fala sério, toda vez isso!
_ Oi! _ sorri esperando algum comentário sobre seu presente, ele se assusta como se não tivesse me visto.
_ Que roupa é essa?
_ Esportiva.
_ E essa chuteira, quem te deu? _ Perguntou, se fazendo de sonso.
_ Ah...
_ Ah, deixa pra lá. Vamos logo antes que eu te deixe pra trás.
_ Ta bom_ Ele vai na frente e eu rio toda hora, boba, disfarçando pra ele não ver minha animação tosca.
Chegamos no campo de futebol, um dos maiores e melhores da cidade. avisto vários meninos, e junto com ele também umas meninas. Todas mais jovens, fiquei com inveja, desejando que quando crescesse fosse como elas.
_ Que bom que você chegou, Gui. Quero te apresentar minhas amigas, Tati, Carla...
Ele ignora seu amigo e foca em uma das meninas mais bonitas do grupo. Ao total eram 5. As meninas deviam ter 15 anos. Meu primo tinha 16, e seus amigos um pouco mais velhos, ou seja, a única pirralha de 13 anos era eu.
_ Oi, sou Guilherme.
_ Oi, fofo, sou Daniela, mas pode me chamar de Dani.
_ Dani! _ Ele sorri, todo estranho. Fiquei vermelha de raiva, não gostei de ver ele babando por aquela peituda metida. _ Quem é essa? _ Apontou pra mim.
_ Ah, ninguém de especial. Só a chata da minha prima. Mas enfim... Vocês vão ficar?
_ Sim vamos assistir vocês jogar.
Eu fiquei ali uns 10 segundos tentando entender aquele comentário ridículo "ninguém de especial, só a chata da minha prima". Aquilo bateu forte na consciência, senti um nó na garganta que logo engoli mandando ele se ferrar mentalmente, não era novidade ele me tratar mal, foquei e me concentrei no jogo.
_ Eu vou jogar também.
Guilherme empurra minha cabeça pro lado.
_ Para de se amostrar, vai pra bancada e fica quieta _ Sussurrou para mim.
Eu fui, claramente magoada, assistindo pela quinquagésima vez eles jogarem. As meninas conversavão entre si sobre os mais bonitos e quem pegaria quem. Fala sério!
Eu fiquei ali olhando minhas chuteiras e imaginando quando poderia mostrar para o meu primo, jogando com elas. Pois é. Acho que demoraria um pouco. Lembrei do que meu pai disse sobre agradecer e aí percebi que Guilherme não faria a menor idéia de o por quê estaria agradecendo. Ele perguntou "quem te deu?" e eu sorrio por lembrar, mentalmente eu disse você, e imaginei ele ficando feliz por mim e por ter gostado, ele me elogia e saímos lado a lado conversando normalmente como dois melhores amigos... Só nos sonhos mesmo.
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A princesa do futebol (Degustação)
AdventureQuem não faria qualquer coisa pra ir atrás do que ama? Júlia, uma menina esperta, dedicada e corajosa enfrenta tudo e todos pra conseguir um lugar no esporte que mais amava, o futebol! E o seu primo Guilherme que morava com ela não ajudava nem um p...