Um ombro amigo- 5 capítulo

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_ Júlia, eu sinto muito pelos seus pais. _ Estefani me consolava.

_ Obrigado, Ester.

_ Meu pais também não se dão bem o tempo todo.

Dou um sorriso fraco. Ela continua:

_ Vai dar tudo certo. Olha, você pode ir lá pra casa, aí a gente conversa, tem uns filmes lá. Você pode até dormir se quiser.

_ Se minha mãe deixar, né.

_ É, tem isso... tá, mas enfim, seu aniversário tá chegando né?

_ Tá, mas não estou afim de comemorar.

_ Por que não? São seus 15 anos

_ Grande coisa.

_ Nossa, que ânimo, hein! Vamos, Jú. Eu te ajudo, vai ser legal. Por favorzinho!

_ Você aceitaria um não?

_ Não.

Rimos. Eu decido deixar.

_ Oba! _ Ela bate palmas.

Estávamos no mesmo lugar de sempre na escola, eu estava com meu caderninho, na quadra, e Estefani tinha virado minha melhor amiga. Era bom te-la por perto, ela não ficava indo atrás dos garotos, sabia que da primeira vez eu quase tive um infarto. Era só eu e ela. Estava tão distraída que não vi a bola de futebol sendo jogada diretamente em mim. Caiu em cheio no meu ombro, e senti uma ardência forte onde a bola caiu.

_ Desculpa! _ Gritou um menino na quadra, me encarando estranho. _ Ei, você é a Júlia, né?

_ É, ela é, e você devia tomar mais cuidado com isso! _ Estefani se irrita.

_ Ué, vocês estão na quadra de futsal, queriam o que?

O menino sorri, ele era alto, cabelo cobrindo a testa, meio loiro e tinha uma covinha quando sorria, não sei por que eu consegui descreve-lo tão de longe, mas sem perceber fiquei olhando pra ele mais tempo do que o normal então desvio os olhos.

_ Ei, Júlia! _ Ele chama.

_ Eu? _ Olho para os lados para ver se não tinha mais nenhuma Júlia ali. Claro que era eu!

_ Você joga muito bem, eu vi você na educação física, parabéns jogadora.

Eu fico imóvel sem poder acreditar, ele tinha mesmo me elogiado? Um garoto? Que?
Estefani me cutuca pra que eu acordasse.

_ Obrigada! _ Digo sem graça.

_ Tá tudo bem mesmo? _ Ele aponta para o meu ombro quase "deslocado".

_ Normal... é... foi só... Nada de mais. _ começo a gaguejar sem entender o por quê?

O menino sorri e volta para o jogo. Eu fico parada, recapitulando aquele momento.

_ Júlia! _ Estefani me tira dos meus sonhos.

_ Ah?

_ Ele te elogiou.

_ E eu agradeci.

_ Não, sua burra. É pra você jogar com eles.

_ Que? Não seja ridícula. _ Rio preocupada com aquela afirmação.

_ Anda logo, menina, vai fazer o que tu ama.

Ela me empurra e eu luto contra ela pra não levantar. Mas aí eu lembrei das vezes que eu pedia pra jogar, eu sempre levantava, por mais que levasse um não! Eu sempre tentava. E meus pés estavam pulsando pra que eu fosse, eu não podia deixar de fazer o que eu gostava, eu sabia que não podia mudar agora, por que eu sou a menina insistente, eu sei que meu pai teria orgulho de mim, então era isso que eu ia fazer, seguir meu coração, porque minha cabeça estava bem longe e bem distraída no momento.

_ Ei, menino!

Ele me olha dando um sinal de tempo para os seus colegas.

_ Pode falar! _ Ele sorria como se me conhecesse a muito tempo e pudesse demonstrar simpatia, era fofo!

_ Você joga bem também.... Então... Qual o seu nome mesmo?

_ Samuel.

_ Ah... nome bonito... Quero dizer... normal! Não que exista nomes anormais... Enfim... Posso jogar com vocês?

Estar conversando com um menino talvez uns 3 anos mais velho que eu sobre futebol me assustava um pouco, pelo fato dele ser bonito também me deixava muito sem jeito, só de estar perto dele me sentia vulnerável, as palavras saiam atropelando uma a outra, me sentia uma sem noção de tão atrapalhada.

_ Claro que pode! _ Ele vira para o time. _ Aí gente! A Júlia vai jogar com a gente, então vamos manerar na força.

Eles concordaram. Que? ELES CONCORDARAM? Assim, sem nem contrariar? Parece que as coisas estavam fluindo. Eu estava começando a gostar deles. Rio pra mim mesma.
Eu entrei no time do Samuel, e eu joguei até que bem, pela primeira vez com os meninos da escola. Até que jogava bem. Alguns garotos assobiavam, batiam palma ou me elogiavam. Aquilo era tão legal! Eu estava empolgada, queria que aquele momento durasse pra sempre mas aí para minha tristeza... O sinal tocou. E os meninos pararam de jogar se recolhendo. Samuel veio até a mim.

_ Não sabia que era tão boa jogando até conosco.

_ Ah, não sou. _ me faço de difícil. Dando vários risinhos bobos.

_ Só precisa treinar um pouco o chute, defesa... Algumas coisas você ia ser a melhor, sério!

_ Treinar?

_ Sim, se você quisesse.

_ É uma ótima idéia! Samuel, você pode me treinar? Assim eu posso mostrar que eu sei jogar para o... Meu... _ Eu paro de falar assim que percebo a merda que estou prestes a fazer, por que eu estava falando dele? Ele não era ninguém de especial. Ninguém.

_ mostrar pra quem?

_ Meu pai!. _ Penso rápido.

Então ele concorda em me treinar depois da aula, era só falar com ele e ele estaria lá, fiquei toda boba, ele era tão legal comigo. Um verdadeiro amigo, e eu mal o conhecia já estava ansiosa a para os treinos.
Eu peguei minha mochila e Estefani estava arrumando suas coisas. Dou uma olhada na quadra, Feliz por estar ali. Eu reparo alguém do outro lado me olhando, mas não consigo visualizar quem era, então então a pessoa se afasta quando eu olho de volta. Achei aquilo super estranho.
Voltei pra casa falando da experiência incrível que foi jogar com os garotos e tudo que eu iria fazer todos os dias no final das aulas. Estava fazendo por mim. Estava feliz, muito feliz.
Em casa eu pego o telefone correndo ligar para o meu pai, contar tudo que tinha acontecido. Ele atende.

_ Oi, pai!

_ Oi, minha linda!

Eu contei tudo sem escapar nenhum detalhe. E falei tanto que perdi a hora do almoço quando minha mãe chamou. Pois é, percebi que as coisas começam a melhorar quando permitimos deixar a tristeza pra lá.

A princesa do futebol (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora