Cheguei lá na frente dele e fiquei sem reação, não queria estar ali. Estefani foi toda animada. Guilherme estava com outros três amigos por perto.
_ Oi, tudo bem?
_ Oi. _ Diz me encarando, eu percebi de canto de olho. _ O que foi?
_ Ah, é só pra te conhecer melhor, você é o primo da Júlia, né?
"Por que ele estava me olhando? Aí, que nervoso". Eu não sei o que passava pela sua cabeça mas gostaria muito de saber, sem motivo algum eu estava entrando em pânico e completamente sem graça.
_ Júlia, o que foi? _ Ele me pergunta.
_ Que? _Finalmente olho pra ele.
_ Por que tá toda estranha, oh olho de água suja? _ Ele ri com a própria piada.
_ Ah, eu gosto da cor do olho dela, é bonito _ Estefani me defende. _ e você também é.
Quase me engasguei com a minha própria saliva. O que ela disse? Diretamente pra ele! Eu não estava acreditando nisso. Os amigos de Guilherme assobiaram e ele ficou desconfortável.
_ A Júlia joga muito sabe, você viu ela jogando?
_ Você quer dizer a parte que ela caiu feio no chão? _ Ele e seus amigos gargalham como se fosse a coisa mais engraçada se machucar.
_ Vamos embora, Estefani. _ Peço.
_ Espera. _ Ela continua _ Então, vocês vão almoçar?
_ Vamos, por quê?
_ Podemos almoçar com vocês?
Eles se entreolham e Guilherme dá de os ombros como se dissesse tanto faz. E lá vamos nós almoçar com os palhaços.
Quando todos estavam sentados na mesa do refeitório, já com suas bandejas, Estefani abre a boca, nem comendo ela ficava quieta.
_ Então, Gui, de onde você é?
_Ah, eu moro por aqui perto.
_ Sério? E você tem irmão ou mora sozinho?
_ Na verdade moro com a minha tia, meus pais trabalham longe estão fico com ela. _ Ele me lança um olhar, esperando que eu falasse algo
_ Ah tá, é, meus pais também trabalham muito. Quero dizer... Meu pai trabalha, minha mãe cuida da minha irmã bebê, aquela monstrinha traira, por causa dela fiquei de escanteio lá em casa.
Ele ri. "Sério que riu daquilo?" Fala sério.
_ Legal.
_ E o que você gosta de fazer?
_ Estefani, para de fazer tantas perguntas! _ Imploro em sussurro, desejando que ele não me odiasse por isso depois.
_ Tá tudo bem, relaxa.
_ Eu jogo futebol, eu e meus amigos.
Ela fica surpresa.
_ Sério, a Júlia também joga.
_ Estefani! _ viro pra ela arregalando os olhos.
_ Não, ela não joga. _ Guilherme contradiz.
_ Joga sim, e fala muito bem de você, disse que você joga muito e tudo que ela sabe aprendeu com você.
Ah, agora ela exagerou. Tive vontade de enfiar a cabeça dela na própria comida. Ou enterrar a minha de tanta vergonha. Guilherme me encarou, não soube entender o por quê? Mas ele ficou segundos me olhando que parecerão horas. "Uma boa mentira mas sem necessidade alguma, Estefani" pensei.
Daí ele pegou sua bandeija e se levantou depressa. Como se não conseguisse ficar nem mais um segundo ali. Reparei que os amigos dele estavam zoando e rindo pelo que Estefani causou falando de mim. Eu me levantei puxando ela.
_ Que foi?
_ Chega, vamos embora.
Devolvi nossas bandejas e saímos, deixando os meninos lá, Guilherme ficou em pé, parado perto no balcão, nunca me senti tão mal por isso. Com certeza ele estava com raiva e ia descontar em mim mais tarde. Só tentei esquecer esse episódio. Minha primeira amizade na escola começou "bem".
Quando chego em casa após pedalar "o mundo" de bicicleta como de costume eu só queria tomar um banho e descansar, assistir o jogo com meu pai na TV e comer pipoca com bacon, ele amava pipoca com bacon. E era a única coisa que eu fazia sem queimar ou estragar de fato.
_ Pai? _ Chamo.
Escuto vozes e barulhos no corredor, uma conversa pesada. Me aproximo e vejo meu pai com malas no chão. E minha mãe colocando suas coisas pra fora do quarto.
_ O que está acontecendo? Papai vai viajar?
Eles me notam, preocupados. Eu só queria entender pois já estava sentindo uma impressão ruim.
_ Filha, vamos conversar na sala, me dê só um minuto.
Eu assenti e dei passos pra trás. Contando até chegar na sala, sim, eu contei 1 minuto.
_ Pai! _ Chamo.
_ Estou indo!
Sentia que algo estava errado, uma clima pesado no ar, uma enorme vontade de chorar toma lugar das minhas expectativas pra aquele dia sem nenhuma tranquilidade.
Ele apareceu, tentando disfarçar a tristeza. Se sentou ao meu lado no sofá.
_ E aí, filhota, me conta como foi seu dia na escola?
_ O que está acontecendo? _ insisti.
Ele suspira e fica mudo.
_ Pai!
_ Querida, é complicado.
_ Fala.
Ele suspira outra vez sabendo que não poderia escapar.
_ Minha menina, você cresceu tão rápido, como deixou tão rápido de ser minha princesinha?_ Ele ri.
_ Nunca deixei, pai.
_ Eu sei, filha. E por isso eu te amo. Júlia, você entende que nem sempre as coisas dão certo numa vida a dois, não é? E as vezes... O melhor é se separar.
_ O que quer dizer? _ senti meus olhos encherem d'agua.
_ Julinha, não fica assim. Não quero ver minha jogadora forte chorando. Eu não vou deixar você, nunca, tá bom?
_ Pai, não precisa ir embora.
_ Um dia, todos nós precisamos ir embora.
_ Por quê...?
Ele me abraça forte, foi um abraço único, me pareceu uma despedida de adeus. Eu não queria aquilo. Chorava muito, e soluçava também. Por que meu pai era meu melhor amigo. Minha mãe não me entendia como ele, infelizmente as coisas estavam mudando, eu sabia já algum tempo, as brigas, a distância, tudo! Chegou a hora do que eu mais temia. O divórcio.
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A princesa do futebol (Degustação)
AdventureQuem não faria qualquer coisa pra ir atrás do que ama? Júlia, uma menina esperta, dedicada e corajosa enfrenta tudo e todos pra conseguir um lugar no esporte que mais amava, o futebol! E o seu primo Guilherme que morava com ela não ajudava nem um p...