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Todos os clichês do mundo
30 de Agosto de 2019

Maria se sentou na última mesa do lado oposto da porta, muito longe da qual costumava sentar com os seus amigos. Pediu um pouco de café e abriu o seu primeiro livro daquela semana. A vida da moça estava relativamente boa. Trabalhava parte do seu dia com Isabella no ateliê, tirava um tempo para ler e estudar alguns assuntos envolvendo literatura e saia com os novos amigos as vezes. Não era do tipo divertida, mas não chegava a ser monótona, era só tranquila. Excelente para quem estava em processo de cura.

Era só silêncio, menos agitada e sem muitos conflitos. Tão confortável que só assim percebeu como tinha pedaços faltando. Ben tinha partido muitos semanas atrás, ainda assim, tinha sempre que se sentar na varanda, esperando algum sinal de fumaça seu. Ninguém, nem mesmo Nathan, tinha falado muito sobre, apenas deixado claro que ele iria entrar em contato quando estivesse melhor. Márcia tinha sido mandada para outro escritório, de um amigo do seu ex chefe e nada mais foi dito, ainda que já tinha se passado muito tempo e nada tinha acontecido.

Ela se sentiu tão frustrada nas primeiras semanas, enquanto suas últimas palavras que explicava os seus motivos para ir rodavam em sua mente. Ben tinha deixado claro tanto os seus sentimentos quanto os dela. Tinha feito o que estava se negando a fazer, aceitado que o rapaz tinha despertado um pouco da sua simpatia. Ainda não sabia se poderia se apaixonar, mas, com toda certeza, se tivesse que ter um novo relacionamento seria com ele. Aquela foi sua certeza, até diliuir qualquer resquício desse pensamento ao sumir.

Como já era de se esperar as lembranças fizeram o ambiente ficar pesado demais, depois de duas xícaras de café, tirando o seu fôlego e fazendo seus olhos começarem a ficar umidos. Precisa sair dali antes da solidão a abraçar por completo, sabia que era uma má ideia ficar sozinha em um lugar tão agitado como aquele. Logo caminhou para longe dali, para a praça em que visitou naquele fatídico dia, em que deixou suas cicatrizes a mostra.

Como fazia frio, e o sol não parecia ter vontade de sair naquele dia, ela não estava tão cheia como de costume. Apenas algumas pessoas estavam caminhando pelo gramado, enquanto um grupo de crianças brincavam em volta da fonte. Ela se sentou em um dos bancos, tentando fazer a sua cabeça parar de girar por alguns segundos. Tinha muita coisa em mente e isso estava a sufocando de tal forma, que questionou se não estava mesmo ficando louca.

Maria respirou fundo, três vezes seguidas, sentindo o ar gelado entrar para dentro de si. Seus olhos estavam fechados e ainda meio umidos, então sua mão vagou pars o rosto, tentando retirar qualquer resquício de lágrimas que poderiam se acumular ali. Não queria parece tão desestabilizada, ainda mais com pessoas em volta. Aquele lugar lembrava tanto dos seus sentimentos na primeira vez que tinha ido ali, em como Ben tinha percebido tudo que estava em seu peito sem ao menos falar.

Para ela, era como se tivesse tudo, mas não estava satisfeita nem contente como pensou que estaria. Ainda que soubesse que estava em um processo de cicatrização, queria ao menos ter algo ao que se agarrar. Entretanto, as portas estavam fechadas e todos se conteram em lhe dar o prazer do silêncio. A relação com Marcia não tinha melhorado, e, depois de se mudar para o quarto de Ben, não a via com tanta freqüência, era como se depois daquela conversa tivessem desatado os laços e se tornado duas completas estranha. Mar não sabia como lidar com aquilo, e tinha cansado de esperar uma reciprocidade. Já tinha tido tempo demais para pensar em como reverter a situação, ainda assim não tinha encontrado algo concreto. Só iria deixar para lá, até o fim se preciso for.

O seu telefone começou a tocar, a despertando dos seus desvaneios. O nome de Nathan apareceu na tela, e ela deu um surpiro, tentando recuperar a voz antes de de atender. A relação dos dois havia se fortalecido a muito por conta da partida do outro,
e por ele achar que teria a obrigação de tampar aquele buraco. Além dele conseguir fazer ela rir, o que deixava suas noites menos tediosas.

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