Dezessete

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Chuva de erros
17 de Julho de 2020

Quando ela começou a se relacionar com Marcos se sentia como em um conto de fadas, ele era o típico homem desmedido e bastante educado, que lhe dava atenção e tratava como merecia. Em questão de semanas já estava perdidamente apaixonada pelo rapaz, tão encantada ao ponto de se mudar para o seu apartamento, vivendo uma vida de casados sem ao menos namorar verdadeiramente. Por muito tempo pensou que talvez esse fosse o grande problema, deu passos maiores do que gostaria apenas para tentar firmar algo que no começo parecia perfeito. No entanto, como já era de se esperar, isso se desmanchou por inteiro durante os anos.

Era mais um relacionamento de pessoas jovens, que amadureceram e estavam firmando suas novas perspectivas com uma relação que não conseguia mais manter, ainda assim, não estavam dispostos a ficar novamente na porta segurando um cartaz de "quero um novo amor". Por simplesmente ser cômodo ficar com alguém que completava sua carência em tempos difíceis.

Os sinais estavam todos ali, era tão claro que o relacionamento estava por um fio, mas Isa fingiu não ver, tentou não notar como os encontros não se fizeram e até a chuva que tanto gostava tinha se tornado desculpa para não ve-lo. Quando as conversas não duraram mais que alguns minutos e o desinteresse era esmagador. Era muito nítido que os dois se gostavam, isso não era questionável nem mesmo para eles. Mas isso não era o suficiente quando o que mais acontecia era brigas, gritos e o silêncio cortante de vinha depois de tudo isso. Nenhum amor conseguia suportar aquela avalanche que estava a caminho.

Ainda que não tivesse mais uma ralação tão próxima com Nathan, para o seu namorado ainda faltava algo na relação, pensou por muito tempo que o culpado de tudo isso seria o tatuado, mas estava estupidamente enganado. Ele não era nem uma parte pequena daquele problema, não fazia parte da vida sentimental dela, não influenciava as suas decisões, nem colocava fogo na fogueira, era apenas um bom amigo. O ponto que faltava para esclarecer como o buraco era muito mais embaixo.

Contudo, as coisas começaram a se encaminhar para o fim naquela tarde de começo de semana. Depois de chegar de viagem e encontrar o seu amado mais desértico do que tudo, em meio ao silêncio e as palavras não ditas. Tinha saído cedo, antes mesmo do rapaz acordar verdadeiramente, apenas para evitar a possível tensão que tinha se formado por ter contado que estava pensando em fazer um curso em outro país, o que duraria cerca de quatro meses. O plano seria se mudar para um pequeno apartamento no centro de Lisboa com Maria, que até aquele momento estava mostrando um grande interesse por pintura e artes em geral, iriam para o curso em tempo parcial, e em noites livres conheceriam a cidade. Seria uma férias daquela vida caótica, uma chance de respirar novamente. Mesmo que isso tivesse tirando um pouco seu sono, sabia que o rapaz estava totalmente contra aquela sua decisão, assim como o seu melhor amigo, que ficou meio desconfiado de toda aquela loucura.

Naquele dia ela estava em seu ateliê com Maria, arrumando uma das suas novas coleções de tintas para tintura, quando o telefone começou a tocar, o nome do seu então namorado apareceu na tela. Seu coração pulou tão dolorosamente que precisou se sentar para não parecer tão afetada. A artista recusou a ligação, sentindo vontade de chorar. Era bastante estranho ligar para ela naquele horário, já que costumava trabalhar até tarde, e aquele tipo de comunicação estava fora de cogitação.

—Só falta algumas caixas para terminar.–disse a sua funcionária, olhos estavam nas caixas em sua frente, evitando que visse o que se passava atrás de sim. A outra deu um suspiro, tentando entender o que ela estava falando.—Logo podemos ir para a parte dos quadros, sabe me dizer se tem mais alguns desse no apartamento?

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