Tempestade no vazio
25 de setembro de 2019A sorte tinha batido na porta de Benício. O seu estagiário tinha conseguido um apartamento com varanda e uma vista incrível da cidade, tão perto do escritório que poderia simplesmente ir andando até o trabalho. A bandeira branca de paz que ele precisa para deixar o rapaz assumir o lugar de Márcia.
Ainda que nunca tivesse realmente morado sozinho antes, gostava da sensação de voltar para casa e encontrar tudo como deixou. Não precisar sempre estar em alertar, só tinha que descansar e ser ele mesmo. O cara ranzinza e triste de sempre. Nas primeiras semanas isso foi o bastante, ficava por muito tempo no trabalho e só voltava para casa no meio da noite, bebia alguma coisa e apagava no sofá, não era mais necessário sair com nenhum conhecido. Tinha escolhido ficar sozinho e parecia ter se contentado com isso, como qualquer homem da sua idade com feridas como as dele.
Entretanto, depois de tanto viver no automático, alguma coisa mudou dentro de si. Como quem vai morar fora depois de sair da casa de uma grande família, sentia falta do que não deveria, dos pequenos detalhes que antes mesmo nem se importava. Diversas vezes pensou em sair dali e ir de volta a casa dos seus amigos, mas a coragem faltou, os olhos se encheram de água e ele se afogou em suas palavras não ditas. Precisava sair dali, para o bem deles, sabia que estava chegando em um ponto arriscado demais, e iria acabar ferindo alguém sem querer.
Contudo, começar a gostar de Maria não foi o único motivo dele sair do apartamento. Tinha muitas camadas que não tinha dito para ninguém, era complicado, cansativo e estranho acompanhar a sua mente. Uma parte sua estava exausta de parecer bem e tranquilo, aquela brincadeira da viagem tinha lhe despertado tantos gatilhos, que deixaram marcas, foi a gota de água que precisa para derramar. Nathan se sentia atraído por Maria e aquele era um fato concreto em sua mente, só pela forma em que os dois estavam conversando demostrava um interesse do rapaz. Não sabia exatamente no que pensar, mas o amigo era um cara legal, apesar de ser meio bad boy, tinha qualidades e uma das maiores dela era que não tinha um buraco enorme no peito. Por tudo isso, ele deu passos para trás, escapando pelas beiradas como sempre fazia quando algo saia do seu controle. Se a menina tivesse que se encantar por alguém, jamais deveria ser por ele. Era um peso grande demais não a decepcionar. Além de que, ter amigos que tentava lhe juntar com outras pessoas deixava tudo ainda pior. Era como se fosse mudar completamente assim que tivesse mais uma mulher, e não, sabia que talvez cometesse os mesmos erros. Estava disposto a apostar novamente?
A resposta para a sua pergunta chegou em uma quarta-feira de céu nublado, e de sol preguiçoso. Tinha cabelos loiros, olhos expressivos, um sorriso contagiante, e trinta e poucos anos. Pediu para entrar mesmo ele não estando com nenhum cartaz na porta. Só foi chegando de fininho, ocupando espaço em sua vida, tirando um pouco da sua carência.
Benício conheceu Ailana em uma das suas idas em um restaurante da cidade. O lugar estava cheio e a única mesa que estava sem todos os lugares ocupados era a dele. A moça tomou coragem e pediu para se sentar com o mesmo, uma forma muito clichê de se aproximar de alguém bonito.
-Desculpe incomodar.-disse ela, depois de ficar por alguns segundos em silêncio, admirando o rosto do rapaz, que, até aquele momento, não tinha percebido sua presença. Um sorriso leve estava estampado nela.-Mas poderia me sentar com você?
-Comigo?-perguntou, a encarando, seus olhos se estreitaram um pouco. Ele olhou para o redor de si, vendo como o espaço tinha ficado bastante lotado de repente, deu um suspiro e concordou com a cabeca.-Tudo bem, já estou quase acabando.
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Juntando os pedaços | √
Chick-LitMaria foi obrigada a crescer depressa demais, com uma mãe alcoólatra e um pai agressivo. Fugiu para uma outra cidade em busca de paz. No entanto, o seu novo marido era a conjunção de ambos os problemas que ela queria deixar para trás. Depois de perd...