Vinte e seis

183 49 0
                                    

—Eu quero pedir demissão.–se escutou dizer, em um tom mais alto do que costumava falar. Por conta disso algumas pessoas olharam em direção a mesa. O rosto da loira era indecifrável, no primeiro momento pensou que tinha escutado errado, que estava apenas dando voz as suas paranóias. No entanto, logo ela confirmou mais uma vez:—Não tem como continuar com isso.

—Por que?

—Estou vivendo a sua vida.–respirou fundo, tentando se acalmar. Os olhos da outra estavam mais abertos do que o normal, e toda a sua expressão denunciava que tinha sido pega de surpresa.—Sempre a disposição, trabalhando mais do que o recomendado, não estou conseguindo fazer o que quero.

—Pensei que queria mesmo trabalhar.

—Sim, mas existe muitas outras coisas que quero fazer.–seus lábios estremeceram assim que se lembrou de tudo que estava querendo, em nenhum momento tinha contado isso para alguém, além de alguns resquícios para Ben.—Pensei que tudo iria ser diferente quando voltasse.

—Que outras coisas?

—Vou começar uma faculdade, tenho um sonho que me persegue por todos os cantos mas só tive coragem de adimtir agora.–respirou fundo mais uma vez, para recobrar o fôlego. As palavras estavam sendo jogadas para fora com toda velocidade, não estava mais com o filtro do que poderia ou não dizer. —Quero escrever, Isabella.

—Mas ainda nem começou a estudar isso demora e...–ela mesmo se interrompeu assim que percebeu que nada que fizesse podia mudar os pensamentos da outra menina.—Como vou ficar sem você?

—Posso indicar algumas pessoas que podem fazer o serviço melhor do que eu.

—Pensei que era a minha amiga, Maria.–sabia que ia se arrepender disso assim que falasse, mas tinha um lado seu que estava em completo desespero, apenas esperando que tudo se resolvesse.—Realmente pensei que gostava de trabalhar comigo.

—Eu gostava mas não mais.–Falar aquilo em voz alta fazia o seu coração vibrar em seu ouvido. Ela engoliu em seco e encarou mais uma vez o rapaz ao seu lado, precisava de alguém que lhe dissesse que tudo ficaria bem.—E isso se dá para as duas coisas. Sinto muito mesmo, essa é a minha decisão.

—Não deve ter pensado com cuidado sobre isso.–tentou reverter a situação, olhando para Ben como se tivesse pedindo ajuda. Ele deu de ombros e deixou as coisas rolarem. Era um momento muito inusitado, qualquer coisa que falasse podia ser jogado contra o mesmo mais tarde.—Vamos conversar isso em casa, em um outro momento.

—Não sei se vou conseguir ter mais coragem que agora.–sua mão vagou para o copo de suco, ela estava muito trêmula, fazendo com que seu rosto esquentasse ainda mais de vergonha.—Estava cogitando essa possibilidade desde a viagem, não tem como dizer que é algo que não foi pensado com cuidado.

—Tudo bem, posso diminuir suas responsabilidades, é isso que quer?–se ajeitou na cadeira, colocando os cotovelos em cima da mesa, apenas para se aproximar ainda mais da menina. Era mais uma das suas tentativas falhas de parecer intimidadora.—Sei que é realmente muito coisa para fazer, sinto muito por isso mas és uma das poucas pessoas que confio para isso.

—Não é mais sobre o trabalho em si.–tentou calcular as palavras, mas como estava muito nervosa acabava falando tudo sem parar para raciocinar.—Eu estou farta de correr para todos os cantos atrás de você, não tenho sequer autonomia para pensar o que vou fazer em um final de semana ou feriado, pois é apenas nesse momento que sua expiração vem.

—Certo, posso lidar com a sua ausência nesses momentos...

—Você entendeu para que lado esse trabalho está indo?–questionou mais uma vez, aquele era uma das perguntas mais importantes daquela conversa. Era decisiva para saber se estava mesmo fazendo o certo em sair assim.—Isabella?

Juntando os pedaços | √Onde histórias criam vida. Descubra agora