Oito

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Cicatrizes a mostra.

O plano de Isabella era quase perfeito, colocar os dois trancados em um quarto, sem qualquer contato com o mundo exterior, deixaria tudo ainda mais propício para uma conversa íntima. Ainda assim, era claramente uma brincadeira de mal gosto, tão infantil que o estômago de Nathan se revirava a cada segundo que sua mente vagava até aquele momento. Mesmo para ele, meio fora da caixinha e estranho, aquilo era demais, quase o extremo, mais do que sua mente conseguia aceitar. Contudo, não tinha como controlar os planos de Isa, e, sendo bastante racional, não iria se indispor por conta de uma desconhecida.

Por isso, assim como Aline, ficou tão inquieto que teve que tomar mais de duas doses de álcool em seguida, só para não parecer tão indiferente a conversa dos amigos. A proposta era boa, a menina e Ben formavam um casal muito bonito e meigo, mas, só pelo olhar de Maria sabia que existia traumas tão grandes, que ficar presa com um homem poderia lhe despertar gatilhos. Entretanto, ele não fez absolutamente nada, não queria parecer preocupado, nem deixar seus sentimentos falarem mais alto do que a embriaguez, não naquela noite.

Do outro lado da casa lágrimas furtivas tomavam o rosto de Maria, com toda velocidade, estava tão cansada, que só de pensar em toda aquela situação tonha vontade de desabar. O rapaz até tentou consolar, ainda do outro lado do cômodo, com as mãos nos bolsos, resmungo um "tudo bem" falho. Ele, assim como a moça, já sabia exatamente o que tinha acontecido, os sinais estavam ali, claros, duros de se entender.

—Tenho certeza que foi um mal entendido.–ele tentou mentir, mas a forma como a sua voz estava afetada o denunciava. Ela deu um suspiro, fechando os olhos e tentando fingir que não estava ali.—Eles não são tão idiotas quanto parece.

—Tudo bem.– foi a vez dela de fingir não sentir nada. Seu coração estava pulsando desenfreadamente, como se estivesse a beira de um precipício, seus lábios estavam trêmulos e os olhos ainda cheios de lágrimas, ainda não tinha nada concreto a dizer, só queria dormir por dias a fio.—Eu entendo.

—Você pode dormir, Maria.–ele se aproximou um pouco mais, a fazendo recurar instintivamente. Soltando mais um suspiro se sentou na cama, sentindo o cheiro único dela o abraçar por completo.—Estarei aqui, mas não vou fazer barulho.

—Não sei de consigo.–resmungou, sabendo que estava sendo um pouco infantil suas bochechas ficaram ainda mais quentes.—Odeio dormir sendo observada.

—Não vou ficar te olhando.–tentou se defender, mesmo sabendo que aquela era uma grande mentira. Não conseguia, mesmo se quisesse, tirar os olhos dela.—Também estou com sono, vou me deitar um pouco.

—Aqui?–olhou para ele, seus olhos estavam arregalados. Ben tentou conter uma risadinha, sabendo que isso iria a deixar ainda mais envergonhada.

—Vamos combinar que seria muita maldade ficar aqui acordado até aqueles merdas abrirem, certo?–disse, sentindo seu rosto esquentar um pouco. A menina concordou com a cabeça, de forma tão sutil que ele não notou de primeira.—Além do mais, a cama é espaço, posso ficar no canto.

—O que?–perguntou, a voz estava tão afobada quando a sua respiração. O quarto não tinha apenas uma cama, não fazia sentindo algum dormir junto em uma de solteiro. Só de pensar naquela possibilidade seu estômago dava voltas. —O que está tentando dizer?

—Preciso que fique calma primeiro, Maria.–ele tocou em sua mão, sabendo que iria se arrepender amargamente do ato depois, no entanto, o contato fez com que a quentura de ambos tomasse uma proporção ainda maior do que antes. Maria estava sentada, assim como ele, as pernas dobradas em uma posição pouco confortável, mesmo virada para o rapaz tentava não o encarar.—Não estou tentando fazer absolutamente nada.

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