Capítulo 30 - O Limite da Castidade

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— Entre. – retomando a postura firme, Simek escora em seu assento e cruza os dedos, com os cotovelos nos apoios alaranjados.

Fico de lado sobre a cadeira enquanto observo um dos guardas da senzala adentrando-se, mesmo que pela metade. – Senhor, seu escravo Kifen me pediu para falar com o senhor, ele aparentava necessitar de urgência e... – minha mão sobre o apoio aperta-o sem que eu perceba bem, aquele sujo...

— Ah claro, traga-o aqui. – a... a forma com que Simek lida com isso me intriga, o que diabos ele vê de positivo naquele escravo?

— Com licença. – o guarda retorna brevemente para fora, mas logo traz o Nanci. A raposa estava de cabeça baixa, não por respeito, mas, por tristeza?

— Tire as algemas dele, por gentileza. – e mais uma vez fico espantado, o que deuses esse Nanci fez para ser bem tratado assim?

A ordem é cumprida com um par de sons metálicos e estridentes enquanto o Nanci mantém as mãos para trás. O guarda se afasta com as algemas sendo guardadas na cintura e nada mais fala, apenas assente a mim, confirmando que agora eu faço a segurança desse cômodo.

— Pode esperar lá fora? – a calma com Simek lida com isso começa a me deixar nervoso, ele nunca fica assim atoa.

O homem sai enquanto fura a raposa com o olhar intenso e ao fechar a porta, o escravo ergue a cabeça um pouco enquanto deixa as mãos afrente de si bem devagar, esperando ordens contrárias... que não vem.

Oshure me olha de canto, ela sempre gostou de Nancis, mas, para esse caso em especial, ela se controla... – O que foi Kifen?

— E-eu... perdoe a minha ousadia, não queria atrapalhar o senhor. – o dono dele nega com um sorriso no rosto, talvez... eu saiba o que os torna tão próximos. – Peço que me perdoe pelos problemas que trouxe aos senhores... – sua voz baixa treme enquanto curva-se.

— Está perdoado Kifen, Krauss puniu vocês. – meu amigo suspira baixo, sei que ele desejava que eu tivesse feito algo mais leve. – Está finalizado, certo? Se não tivermos mais problemas, não precisará se preocupar com isso.

— Muito obrigado senhor... mas, além disso, vim lhe agradecer por tudo, a cela que me deu é muito boa, tudo é muito bom, obrigado outra vez. – curvando-se profundamente, a raposa demonstra valores que me causam certa empatia. – Porém, por favor, não me julgue ingrato, mas... – e assim, ele fica de joelhos sobre o tapete largo de fios finos que se espalha no chão. – Gostaria de lhe pedir uma coisa, senhor...

Oshure vira-se toda na cadeira a minha esquerda para olhar bem o Nanci, o rapaz estava com as mãos unidas afrente de si e a cabeça baixa, aflito. – E... o que seria? – a voz de Simek estava mais firme, mais intensa e curiosa.

— Eu não quero mais... não quero mais participar daquelas coisas mestre... aquilo é errado, para mim... – realmente, acho que entendo porque esse escravo é tão importante assim.

— Você não quer ficar lá? É isso?

— Não senhor, eu agradeço imensamente o lugar que me deu, eu só... te peço humildemente que atenta um pedido meu. – só dessa vez ele ergue os olhos para seu dono e suplica enquanto prostra submissamente. – Por favor me permita ficam com aquela castidade que o Sini usava. – agora sim estou totalmente incapaz de entende-lo, os Nancis não são eroticamente loucos? – E-eu não quero me envolver assim, sei bem que na hora talvez não me controle, por isso, eu te imploro mestre, por favor, me permita...

— Tudo bem Kifen... fico feliz em mais uma vez ver que não é como os outros escravos, fico feliz em permitir isso a você, mas, eu não guardo isso comigo. – o humor do Simek é logico, eu me preocuparia se ele tivesse algo assim em uma gaveta sua. – Eu liberei o Sini de sua punição, as coisas que ele usava estão no calabouço, porém as chaves estão comigo, como sempre, depois do que houve contigo eu peguei-as de volta e... creio que, se quer manter-se casto daqui para frente, não é lógico tê-las não é?

Crônicas de Althurain - O Caçador e a RaposaOnde histórias criam vida. Descubra agora