VII. Não consigo evitar me apaixonar [part. 2]

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Ana: Eu já disse. Foi tudo muito rápido. Foi como... Se o cara estivesse esperando eu terminar de cantar. Foi assustador.

Delegado: Você não me parece muito assustada. Uma das testemunhas disse em depoimento que a senhorita....

Ana: Ana. Ana Haderchpek.

Delegado: Ana Hader...chpek... -ele falou pausadamente pra não correr o risco de errar um nome tão difícil como "Haderchpek"- Segundo uma das testemunhas, cujo nome não posso revelar, a senhorita permaneceu imóvel diante da cena, enquanto seu irmão Fernando correu para socorrer a vítima.

Ana: Mas é claro! Eu estava em choque! Pelo amor de Deus... Cada pessoa reage de uma forma diferente e eu... Eu fiquei paralisada, entrei em choque.

Delegado: Ao que me consta, a senhorita estudou no colégio Avenues, assim como a senhorita Briana, a vítima. Estou certo?

Ana: Sim, mas não entendo o que isso tem a ver com...

Delegado: Que conste que a senhorita estudou com a vítima.

   Enquanto isso, o escrivão digitava tudo em seu laptop em silêncio. Ele até parecia nem existir em meio a isso tudo.

Delegado: A senhorita poderia dizer se a vítima possuía alguma inimizade na escola?

Ana: Inimigos? Acho que não. Brigida não era a criatura mais apagada da escola, mas também não era a mais popular. Talvez o senhor devesse perguntar ao pai dela, se ele tem algum inimigo político que quisesse o atingir através da filha!

Delegado: Abaixe o tom quando se dirigir a mim, senão a prendo por desacato. Sou eu quem faz as perguntas por aqui, não a senhorita.

***

    Brigida abria os olhos devagar tentando se acostumar com a luz do quarto de hospital  quando seu pai abriu a porta ao entrar.

Brigida: Pai? O que aconteceu? Porquê... Eu no hospital?

Senador: Você sofreu um atentado querida, mas por sorte está bem. Se não fosse aquele músico ter te socorrido...

Brigida: O Fernando? -um súbito interesse surgiu na pequena, obviamente não percebido pelo pai.-

Senador: Esse. Já o conhecia?

Brigida: Ah, pai... É que ele é irmão de uma menina que estudou comigo.  Aquela doidinha que tava cantando. E também estudou no colégio Avenues... Se não me engano o nome da irmã é Ana, a que tava cantando na minha festa, sabe?

Senador: Sei... O delegado tá colhendo alguns depoimentos sobre o que aconteceu, aqui no hospital. Acredito que vai querer falar com você. Mas, falei com o médico e ele disse que você precisaria de alguns dias pra se recuperar.

Brigida: Vou ter que ir na delegacia?

Senador: Claro que não, minha querida! Imagina só, a filha de um senador num pardieiro como uma delegacia! Eles irão colher seu depoimento em casa. Daqui a algumas semanas. Ah... Já ia me esquecendo... O rapaz que te socorreu está lá fora. Acho que só sossega quando ver você.

***

Ana: Mas eu não fiz pergunta alguma. Apenas, fiz uma sugestão. Agora se o senhor tem o dom de distorcer o que as pessoas falam, aí já não é problema meu!

Delegado: Como é? 

    A verdade é que o delegado havia cismado com Ana desde o início. Tudo o que ele queria era arranjar logo um culpado e bancar o rei do caso por ter descoberto quem assassinou, ou melhor, quem tentou assassinar a jovem Brigida Praxedes.

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