VII. Não consigo evitar me apaixonar [part. 1]

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   Os músicos do salão tocavam enquanto uma jovem moça cantava "Can't Help  Falling In Love". Era noite de sábado num evento do hotel Ibis em São Paulo.
    Sua voz doce e levemente rouca atraiu os olhares de homens e mulheres do salão, até mesmo os casais que dançavam, se deleitavam e se deixavam levar pelas notas musicais.
    Numa das mesas estava Brigida, que não tirava os olhos de um dos músicos.  Ele era o irmão mais velho de Ana, a vocalista da banda que tocava na festa de aniversário da filha de um dos senadores de São Paulo.
     Fernando, irmão de Ana, sorriu para a platéia e Brigida imaginou que aquele sorriso era pra ela. Fechou os olhos por um momento e se viu dançando no salão vazio com Fernando como se fossem namorados.
      Afinal, sonhar não custa nada.
      Ela se deixou perder naqueles olhos verdes quando ao final da música que dançavam ouviu um estrondo que a fez despertar daquele sonho lúcido.
       Um tiro.
       Gritos ecoavam pelo salão. O atirador estava ali, bem atrás dela, enquanto as pessoas fugiam ou simplesmente se escondiam para não serem atingidas.
        Os seguranças do local imobilizaram o atirador e em seguida ouviu-se um grito desesperado a pedir ajuda.
        Brigida sentiu algo elétrico e quente a correr por seu corpo como uma espécie de adrenalina que rapidamente começara a lhe roubar energia a desestabilizando.

Fernando: Alguém a ajude! Algum médico aqui? -gritava ele aos presentes após ter pulado do palco em direção à moça atingida enquanto os seguranças levavam o atirador pra fora e acionavam a polícia-

      Brigida, a filha do Senador, viu tudo esmaecer e apenas sentiu alguém a segurar.

***

    No dia seguinte, a notícia de que a filha do senador Luís Praxedes Coelho havia sofrido tentativa de assassinato na sua festa de 18 anos, enquanto seu pai se divertia com duas prostitutas de luxo no quarto do hotel Ibis, corria os jornais de todo o país. O que deveria ser uma festa para comemorar a vida, quase terminou em tragédia.

    O senador estava na sala de espera do hospital a esperar que sua filha acordasse. Por sorte, a cirurgia havia sido um sucesso e a bala não havia atingido nenhum órgão vital. 

Fernando: Ela ficará bem, senador.

Senador:  Eu acho que ainda não o agradeci, rapaz... Se não fosse você ter agido rápido e os seguranças terem... -sustém a fala e respira fundo- Eu não sei o que faria agora.

Fernando: Fiz o que qualquer um faria em meu lugar. Estanquei o sangue, tentei saber se havia algum médico na festa... Enfim. Fiz o que faria por qualquer pessoa.

Senador: Sim, mas Brigida não é qualquer pessoa. E pelo o que eu soube, você foi o único a tomar a frente na situação. Isso enquanto os outros se escondia e eu estava...

Fernando: Não se martirize, senhor. Infelizmente não há como prever algo assim.

    O senador Praxedes estava muito abatido. Tinham se passado horas após a cirurgia e ainda nem sinal de Brigida despertar. Enquanto isso, o delegado e o escrivão iam tomando depoimento de algumas testemunhas do crime que estavam neste momento no hospital. Neste caso, quem estava a dar seu testemunho era Ana, irmã de Fernando.

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