Capítulo 12

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Snake

Esses eram, oficialmente, os piores dias da minha vida. Eu pensei que ter a minha mente dominada por cocaína, o pó branco sendo meu único pensamento, eu achei que aquilo fosse ruim... Mas isso foi apenas até que o verdadeiro inferno começou.

Depois que Vênus me deixou tomar banho, eu ainda tive um dia relativamente normal. Minhas mãos tremiam e suor escorria pela minha pele, mas não era mais tão ruim quanto alguns dias atrás. Um passo de cada vez, certo? Eu estava indo bem... Mas esse período acabou tão rápido quanto apareceu.

As náuseas começaram, seguida pelo vômito. Eu tinha agora um balde ao lado do meu colchão, e Vênus não pareceu querer sair do meu lado. Não importa o quanto eu gritasse com ela, o quanto implorasse para ir embora dali. A cadela apenas negava ferozmente com a cabeça e se mantinha onde estava, com um pano molhado e gelado na mão, tentando controlar a minha febre.

Por mais que eu gritasse e pedisse para que ela saísse dali, eu não realmente queria que ela o fizesse. Ficar sozinho agora me pareceu ainda mais deprimente, e não era isso que eu estava buscando. Mas, ao mesmo tempo, naquele armazém, Vênus viu uma parte de mim que eu não mostrei a ninguém a muito tempo.

A parte vulnerável. A parte que não queria estar sozinha, que faria de tudo para ter uma pessoa sequer a amando. Eu odiava essa parte de mim, por isso a mantido escondida por anos. Mas agora era impossível... Porque ela está bem ao meu lado e não parece que vai embora em nenhum momento próximo.

Junto com as náuseas e vômitos, vieram outras coisas também. Febre alta, exaustão, ansiedade, raiva, a maldita sensação de algo rastejando pela minha pele, coceira... E, o pior de tudo, os pesadelos.

Malditos e fodidos pesadelos vívidos. Eu não conseguia dormir sem ter a minha própria fodida mente brincando comigo. Pesadelos do caralho.

Nesse exato momento, eu estava tendo o pior deles.

Meu coração batia ferozmente no peito enquanto eu corria em direção a porta de entrada. Não interessa o quanto eu tentava correr, nunca parecia me aproximar. Era como se, não importa o quanto eu tentasse, eu nunca podesse alcançar a porta da minha própria casa.

Em algum momento, ao perceber que não adiantava, eu paro. Sem saber exatamente o porquê, tinha que entrar em casa e mandar todos saírem. Meu pai, minha mãe, Thea. Não importa o que estivessem fazendo naquele instante, tinham que sair.

Eu tinha que avisá-los, mas não sabia do que. Tinha que alertá-los, mas não sabia contra que tipo de perigo. Apenas tinha uma enorme e ruim sensação no peito, uma voz na minha cabeça me dizendo para correr, ou eu perderia minha família.

Não queria perder minha família, então tinha que tirá-los dali. Tento inutilmente voltar a correr de novo, mas era como se houvesse uma gigante barreira na minha frente que não deixasse que eu me aproximasse.

Eu estava a dez metros da porta de entrada, no máximo. Apenas uns quinze passos, e eu estava dentro. Mas não conseguia caminhar também. Tento gritar pelos meus pais, pela minha família, mas, quando abro a boca, é como se instantâneamente perdesse a voz.

Tento rapidamente pensar em um jeito de tirá-los dali. Não sei o que está prestes a acontecer, mas sabia que não era bom. Sabia que seria algo que iria mudar o destino da minha vida completamente, e precisava consertar isso.

Mas foi inútil. Em alguns segundos, eu escuto. O barulho dos vidros da janela quebrando e da explosão na minha casa ecoa pelo bairro aparentemente vazio, e encaro a casa sem acreditar no que estava vendo. Tudo acabou de explodir.

Tento correr novamente, e dessa vez consigo. Mas, sem mais nem menos, logo estou dentro do quarto dos meus pais. De um segundo para o outro, eu simplesmente estava ali. Não considerei pensar que aquilo era um sonho.

Que tipo de pessoa em sã consciência se questiona se está em um sonho, realmente acreditando nisso? Tudo bem que eu realmente estou, mas o eu ali não sabe disso.

Na cama dos meus pais, eu vi. Era como assistir algo em câmera lenta. Vi o exato momento da explosão mil vezes mais lento do que na vida real.

Eles estavam deitados juntos e abraçados. O braço do meu pai rodeava a cintura da minha mãe, seus olhos fechados e tranquilos, assim como os dela. Nenhum deles tinha ideia do que estava acontecendo.

Me aproximo, tentando acordá-los, mas era como se minhas ações fossem irrelevantes, pareciam que nem podiam sentir minhas mãos tentando sacudir seus ombros.

Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto, meu rosto de um adolescente de dezessete anos enquanto gritava desesperadamente para que os dois acordassem.

Imediatamente, me lembro dela. Suspiro, encarando meus pais, mas saio correndo do quarto deles, cruzando o corredor e abrindo a porta azul como um furacão. Thea dormia pacificamente na cama, seus olhos fechados e tranquilos.

Sinto a casa lentamente tremer, como se a explosão estivesse prestes a subir. Mas ainda a via acontecer lentamente, muito lentamente, como um fodido pesadelo prolongado.

Balanço o corpo da minha irmã mais nova, sussurrando e implorando para que ela acordasse e fugisse comigo. Mas, assim como os meus pais, nada que eu fizesse parecia afetá-la. Tento levantar seu corpo nos meus braços, mas, nesse exato momento, tudo desaparece.

E eu acordo.

Meu peito subia e descia rapidamente, o suor escorrendo rápido pelo meu corpo, o pesadelo se apegando a cada pedaço da minha mente, e eu logo consigo raciocinar que nada daquilo realmente aconteceu.

Quero dizer, aconteceu. Mas eu não estava lá para ver. Não estava lá para ajudar. Esse fodido pesadelo era apenas a minha consciência me lembrando de como eu não consegui salvar minha família, como não conseguia nem salvar a mim mesmo.

"Snake! Jesus, você está bem?" Quando consigo focar nos meus arredores, percebo que uma mão suave está sobre meu ombro, e um lindo rosto de frente para o meu.

Vênus me encarava com uma expressão preocupada, seu corpo ajoelhado na minha frente, bem perto de mim.

Eu não estava bem. Não sabia se algum dia ficaria bem. Mas pelo menos ela estava aqui para me acordar dos pesadelos...

A questão era, por quanto tempo?

Snake- Flaming Reapers 4Onde histórias criam vida. Descubra agora