Capítulo 4 - Inverno

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Acordo.

E vejo um braço fino jogado sob meu tronco. Pisco os olhos tentando afastar o sono e percebo que não estou no meu quarto e muito menos deitada em minha cama de lençóis, macios. As luzes do sol pálido entra pelas vidraças iluminando sofregamente o alojamento pequeno. Estou achatada. Espremida pela cama de solteiro estreita. Pernas magras espremem as minhas. A camisola está retorcida deixando-me nua até a cintura. Respiro fundo puxando o ar bem lentamente para meus, pulmões. Me remexo e olho pro lado e observo Jonathan dormindo profundamente, sua expressão relaxada: lábios levemente entreabertos, a pele dourada queimada pelo calor do sol. Ele parece tão tranquilo que quero desesperadamente vedar seu sono. Não quero vê-lo machucado e não quero que o machuquem. Não depois de tudo que ele já passou e sofreu com tão pouco tempo de vida. Viver perambulando como uma pobre criança órfã, deixada nas fronteiras agonizantes de sua vida infeliz. Serei sua irmã para sempre e não deixarei ninguém partir seu coração: recém recuperado. Seguro suas mãos entre as minhas e acaricio de leve sua mão magra e entrelaço seus dedos ossudos com os meus. Eu sei que não deveria tocá-lo tão intimamente. Mais no fundo uma voz dentro de mim grita para que eu pare de tocá-lo. Mas, eu não quero parar. Porque sei e sinto que Jonathan precisa se sentir amado. E eu irei amá-lo acima de qualquer coisa e isso eu já tinha certeza desde o momento em que o vi pela primeira vez naquele: fatídico dia.

Jonathan se remexe ligeiramente e seu nariz se dilata como se ele estivesse prestes a acordar. Então, seus olhos se abrem e ele me encara sonolento.

- Bom dia! – Exclamo sorrindo.

Ele prende meus dedos com mais força entre os seus.

- Bom dia – diz meio inseguro. Ainda tentando compreender o que eu estou fazendo ali no seu aposento. Como se não conseguisse se lembrar da madrugada passada. Seus pensamentos um caos de ideias.

- Você não se lembra do que aconteceu na noite passada? – pergunto chocada.

Ele sorri envergonhado.

- Mas é claro que me recordo. Não sou nenhum debiloide.

Sorrio.

- Que bom. Porque já iria repreende-lo por ser tão cabeça oca. Não pode andar se esquecendo de momentos tão importantes da sua vida – argumento triunfante.

Puxo minha camisola tentando cobrir minhas pernas nuas e percebo que as pernas magras de Jonathan ainda está entrelaçadas com as minhas. Ele percebe isso também e se afasta bruscamente ficando no canto da parede e o mais longe possível de mim.

- Não precisava ter se afastado tanto – digo a ele com seriedade. – Afinal, não vejo nenhum problema em dormirmos juntos. Na noite passada fizemos um pacto e prometemos sermos irmãos para sempre. E irmãos dormem juntos quando sentem algum tipo de medo.

Jonathan prende seu lábio inferior entre os dentes e percebo que ele está nervoso.

- Talvez tenha razão – murmura finalmente. – Agora eu tenho uma irmã caçula.

- Isso mesmo – concordei.

Ele sorri como se sentisse aliviado.

- Uma irmã... – sussurra feliz, não acreditando totalmente nas próprias palavras pronunciadas por ele mesmo numa voz alta.

- Sim. Seremos os melhores irmãos do mundo inteiro! – Grito de plena felicidade.

A mão de Jonathan cobre minha boca tentando romper meu escândalo estridente.

- Psiu. Psiu. Não grite. Você irá acordar a todos. E algum serviçal virá averiguar o que nós estamos fazendo – diz ele num tom de repreensão. – E não podem nos verem juntos. Seria totalmente indecoroso. Afinal não temos laços consanguíneos.

Uma Luz Na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora