Prólogo

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— Quando eu era uma garotinha, meu irmão me disse que havia sido feito com mil espadas dos inimigos derrotados de Aegon. — Daenerys falou, a boca franzindo-se levemente enquanto encarava o Trono de Ferro a centímetros de seu corpo.

De costas a Jon Snow, que com cautela caminhava em sua direção, o corpo enrijecido sob às vestes escuras e a espada com o lobo esbranquiçado destacando-se na bainha, Daenerys sorriu encarando o Trono antes de virar o corpo no mais alto dos degraus que a levavam a ele.

— O que são mil espadas na mente de uma garotinha que mal sabia contar até vinte? — Perguntou. — Eu imaginava uma montanha de espadas alta demais para ser alcançada.

"Tantos inimigos derrotados que só o que conseguiria ver eram as solas dos sapatos de Aegon.", ela desceu os demais seis degraus enquanto lhe presenteava o rosto com um sorriso que chegava aos olhos.

Jon Snow a encarou com a feição fechada.

— Eu os vi executando prisioneiros de guerra Lannister nas ruas. — Ele se referia ao Imaculados. Havia pouco encontrara com Verme Cinzento, que já se aprontava para rasgar a garganta do restante de homens do exército Lannister ajoelhados em uma das ruas queimadas da cidadela. — O estavam fazendo sob suas ordens.

O sorriso de Daenerys diminuiu até que apenas uma cicatriz de sentimento lhe rodeasse a face. Ela tinha os braços soltos ao lado do corpo, e enquanto uma das mãos fechava-se em punho, a outra relaxava ao passo que Dany não se movia.

— Foi necessário.

— Necessário? — O tom de voz agastado de Jon preencheu o lugar. — Já foi lá embaixo? Sequer viu?

Ele moveu os ombros para frente e, mesmo ainda longe o suficiente de Daenerys, não mudou a postura.

— Crianças. — Continuou. — Criancinhas queimadas!

Ele gritava, e Daenerys ergueu o queixo, os olhos vidrando-se no homem a poucos metros.

— Tentei um acordo de paz com Cersei. — Apesar da exaltação de Jon, a voz de Daenerys soava impassível, sem sentimento. — Ela usou a inocência deles como uma arma contra mim. Ela achou que fosse me atingir.

O lábio inferior de Dany tremeu, e ela levemente arregalou os olhos apenas para tranquilizá-los novamente.

— E Tyrion? — Jon questionou, abaixando o tom de voz enquanto indicava o nada com o ombro.

Daenerys deu três passos à frente, o queixo levantando-se em autoridade, mas seu tom de voz continuava baixo.

— Ele conspirou às minhas costas com meus inimigos. — Ela arqueou levemente a sobrancelha, e Jon engoliu em seco. — Como tratou os que fizeram o mesmo com você? Mesmo quando partia seu coração?

A feição de Jon era desgostosa. Os olhos tremiam e as olheiras enfeitavam o rosto, enquanto a barba por aparar não disfarçava a atenção da expressão de cansaço. Madeixas soltas dos cabelos presos já caiam pelas orelhas, e Jon abaixou o rosto antes de continuar a falar.

— Perdoe-o. — Ele não a encarou ao proferir tal palavra, o fazendo apenas após o que pareceu um milésimo de coragem.

— Eu não posso. — Daenerys negou quase imperceptivelmente com o rosto.

— Você pode. — Ele interrompeu, aproximando-se quatro passos dela. — Você pode perdoar todos eles, fazer com que vejam que cometeram um erro. Fazê-los entender.

Daenerys inclinou o rosto para o lado, sem falar nada. "Por favor, Dany", completou Jon, franzindo a testa.

Ela piscou.

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