Capítulo 03 - Sabjar

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O que está morto pode nunca morrer
SABJAR

I

Os caminhos pela floresta pareciam não ter fim, mesmo considerando que a pressa não fosse assunto pautado entre os dois.

Nada era assunto pautado entre os dois.

Sabjar observava Daenerys pelas costas. A mulher, ao ter a quase confirmação de suas desconfianças sobre a aparência dele, tornara-se para o lado e começara a andar, sem olhar para obter a certeza de que estava sendo seguida. Estava, todavia, era claro. Ela parecia machucada, Sabjar notou, andava cambaleante e não encostava as mãos nas árvores. Todas as vezes em que havia tentado, ele conseguia ver seu corpo tremendo contra a dor que ela emanava. Mas também não falava. Nenhum dos dois falava.

Apenas caminhavam pela extensão de uma floresta sem fim, sem destino ou intenção.

Sabjar parou, percebendo que Daenerys diminuía a velocidade de seu andar ao passo que a sequência interminável de árvores se abria para um espécime de campo, não muito maior que o espaço de três caixões. Ela apoiou as costas dos dedos da mão na árvore mais próxima, apoiando-se, e Sabjar parou ao seu lado, estando longe de maneira respeitosa. Ele sentiu os olhos arroxeados de Daenerys queimarem contra seu rosto e demorou a tornar a atenção para ela.

Parecia cansada tanto quanto sua expressão era uma incógnita para Sabjar. Ele se questionava o que ela pensava. Se o mandaria para longe ou se o mataria. Todavia, o rosto que o observava de volta carregava uma indiferença indecifrável para ele. Angústia, luto, raiva, paz. Poderia ser qualquer um desses e Sabjar não saberia dizer.

Daenerys piscou.

— Sabe onde estamos? — perguntou. Sabjar a observou com atenção.

Ele negou, a cabeça cambaleando em incerteza para a esquerda.

— Não — sua voz pareceu pouco menos confiante do que ele achava. Baixaria a guarda, pelo menos, até que Daenerys pudesse ver que ele não era a ameaça. — Não exatamente.

Ela lhe lançou o mais perfeito dos olhares reprovadores. Sabjar entendeu como um continue logo, não espere que eu fique perguntando e falou:

— Acordei por aqui há alguns dias. Não sei quantos. Não sei quanto tempo se passou — ali estava. A desconfiança confirmada nos olhos roxo-esverdeados. — Mas tenho a vaga sensação de já ter estado aqui antes.

Faziam milhares de anos desde que Sabjar falara uma frase tão grande quanto essa. Ele esperou pacientemente a resposta de Daenerys e fechou as mãos em punho para disfarçar um aperto que crescia sob sua pele.

— É — foi só o que ela disse antes de voltar a atenção ao espaço que havia se aberto onde estavam. Não o suficiente para que vissem o céu com clareza, mas o bastante para saber que estavam em uma floresta, em um amanhecer que já raiava e perdidos.

Muito perdidos.

— Como você sobreviveu?

Sabjar ignorou a ambiguidade nas palavras de Daenerys e olhou para o mesmo lugar onde as órbitas claras dela apontavam. O mato ralo que se estendia entre as árvores e o espaço delimitado que parecia ter sido esculpido pelo melhor construtor que já vivera, especificamente para que a abertura na floresta fosse um lugar razoável para montar um acampamento para um. Ou para dois.

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