Capítulo 01 - Daenerys

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As Leis dos Deuses e dos Homens
DAENERYS

I

O cheiro de madeira queimada, todavia, sucumbia o bafo quente da floresta.

Não havia nada.

O silêncio era ensurdecedor e o escuro era injurioso, nocivo, agressivo. Ela tentava se mexer, mas seus braços pareciam presos ao lado do corpo em uma superfície rochosa que machucava seus pulsos. Virou o rosto para o lado, flexionando as pálpebras como se desprovesse da visão por falta de esforço. Ela bufou, os braços esticados para os lados estavam amortecidos e as pernas despojadas para frente pulsavam pela falta de movimento.

Daenerys deixou a cabeça cair para trás, sentindo os cabelos destrançados emaranharem-se na árvore a qual ela estava apoiada. Seria mesmo uma árvore? Ela não sabia dizer. Olhando para cima, o pânico não aumentava, mas o receio da cegueira usufruía de sua mente bagunçada enquanto, inconscientemente, Daenerys movia a cabeça de um lado para o outro e para cima e para baixo. Não sabia dizer onde estava, não sabia dizer muita coisa. Entretanto, o cheiro era horrível.

Algo como a mistura de carniça com fezes ou urina e, ela ponderou, queimado? Queima? Em uma floresta, certamente, Daenerys já estaria morta pelo fogo que consumia as árvores. Então não era fogo, talvez não fosse floresta. Ela havia se denominado, e todos nominavam-na, a não-queimada. Uma Targaryen de sangue legítimo. A primeira de seu nome e a última de sua Casa. Fogo em mato talvez não a atingisse, não atingiu na madeira, nem na cidade, em lugar nenhum. Ela era a não-queimada, afinal. Era? É?

Estava viva? Seus lapsos de sua memória mais recente contradiziam sua atual respiração. Lembrava-se de mãos em sua cintura; deveria ser uma figura masculina, tinha mãos grossas e ela pensava ter sentido barba. Uma voz trêmula, pouco acentuada e com forte sotaque. Usava muita roupa, Daenerys lembrava-se de muita roupa. Ela também, todavia. Alguma memória sobre neve ocupava sua mente, mas ela sentia calor. Estava quente. Pensava ter estado no chão em algum momento, as mãos do homem ainda em algum lugar de seu corpo, mas poderia ser uma cama. Porém, quente demais para um chão, frio demais para uma cama, duro demais para algo além de pedra, Daenerys não sabia exatamente onde se passara sua última memória. As mãos grandes daquela figura a atormentavam, quentes como fogo para alguém no frio da neve. Sentia nojo.

Então, Daenerys pensou no soco. Fora como um, mas afiado, gelado e forte. A adaga ou a espada ou a faca abaixo de seu seio fazia Daenerys pensar em metal. O sangue em sua boca tinha gosto metálico e a agonia daquele que lentamente escorria de seu nariz a fazia querer gritar.

Sentia seus músculos atrofiando-se, rasgando aos pouquinhos, de dentro para fora, como uma mão que se apertava entorno de si antes de dramatizar um soco dolorido dentro de seu corpo. Daenerys sentia a dor sob seu peito mais forte que o atrito de seu pulso contra a rocha, ou fosse lá onde sua mão estivesse, que a mantinha. Não lembrava de vozes, lembrava de choro.

Um rugido.

Sentia que algo a chamava de baixo, depois de lado, depois de trás, de frente e de cima. Daenerys lembrava de ter sentido a superfície escamosa e pedregosa que roçou contra suas costas depois de ela ter caído. Muito familiar, uma pele muito familiar. Daenerys já havia a tocado antes. A sentido.

Drogon.

Ela não conseguia gritar. Queria muito gritar por Drogon. Tentara falar, mas o sangue consumia sua boca. Tentara tanto.

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