Acordo cedo para como de costume e depois do café da manhã sigo para a La Monumental, a arena "plaza de toros", no bairro do Eixample. O local é palco de inúmeras touradas desde o ano de 1914. Quando foi inaugurada, tinha o nome de Plaza de El Sport e, com dois anos de funcionamento, já tinha sido ampliada e rebatizada com o nome de La Monumental. Desde garoto sempre fui fascinado pelas touradas, mas nunca fui a favor dos maus tratos aos animais, por isso criei a fundação Del toros que protege e cuida de toros e outros animais maltratados em cativeiro, com isso, na arena em que trabalho não se maltrata o touro e sim apresenta um espetáculo para o público. Hoje será meu último dia como toureiro e tenho orgulho de me aposentar no auge, aos vinte e cinco anos. Escolhi essa data por que hoje também se encerram as atividades da La Monumental, foram anos servindo de arena para touradas e hoje haverá o último espetáculo para o público comum e um seleto que vai desde o prefeito até o Presidente da República.
Chego e já encontro meu amigo Pablo Garcia se arrumando, ele será o penúltimo toureiro a se apresentar antes de mim e como sempre Pablo está trajando suas roupas brancas com dourado que, como ele mesmo diz "deja a la mujer embarazada" (deixa a mulherada doida). Vou para o vestiário e começo a me arrumar. Hoje usarei meu traje negro com o manto em rosa que mamá (mamãe) fez especialmente para esse dia e sei que me trará muita sorte, apesar de não maltratarmos os animais, ainda são animais e quando acuados ou sob ameaças se defendem atacando, por isso sempre respeito seu espaço.
A arena está lotada, crianças com seus balões enfeitam a arquibancada, idosos com coletes de seda com tufos de renda e tricórnios em suas cabeças ocupam os primeiros lugares, e as mulheres com seus melhores vestidos para essa ocasião importante e histórica para a Catalunha. Estou na entrada da arena esperando para a cortesia, que consiste na entrada de todos os participantes das touradas que são os cavaleiros, forcados, bandarilheiros, novilheiros, campinos e os outros intervenientes. Estou tão concentrado que não percebo a aproximação de Pablo e só sinto o tapa na base da minha cabeça.
─ Desgaciado! ─ Falo passando a mão na minha cabeça olhando para Pablo de cara feia enquanto o mesmo se dobra de rir. ─ Está achando engraçado?
─ Você estava distraído e não resisti. ─ Fala ainda rindo.
─ Estou me concentrando, Despero. ─ Ele faz cara feia, odeia ser chamado de Despero e me faz rir.
─ Sabe que odeio quando me chamam assim, não sabe?
─ Sei. Por isso que te chamamos. ─ Gargalho.
─ Poderiam me chamar de Thanos.
─ Mais Despero é melhor, ele tem um terceiro olho. ─ Me dobro de tanto rir.
─ O que quer dizer com isso, Ruan? É o que estou pensando? ─ Fala enfezado.
─ Que eu saiba, ainda não consigo ler pensamentos como Charles Xavier. ─ Me recupero da gargalhada.
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Encontrar Alguém
Short StoryEncontrar alguém era tudo que Ana Luz Mota Perón nunca procurou, sempre focada em seus estudos e determinada desde a infância a seguir os passos do pai, o renomado Neurocirurgião do hospital Isabel Perón. Filha caçula de uma família tradicional de M...