Um ano... um ano que minha vida sofreu um giro de 360°. O tratamento está surtindo seu efeito e já consigo andar sem o auxílio das muletas, ainda preciso ser cauteloso e ajustar os eletrodos a cada semestre. Hoje é um dia muito importante para mim, a inauguração do meu mais novo negócio. Depois de passar por todos esses problemas e ver a necessidade das pessoas com deficiência física, eu e Pablo decidimos montar um centro de reabilitação e Carlo é o nosso médico responsável. Nesse centro, temos espaço para o atendimento particular e gratuito, graças a parceria com o Hospital Isabel Péron, podemos atender os pacientes que são encaminhados para cá.
Estou terminando de me arrumar quando papai entra trajando seu terno de três peças e se acomoda na poltrona próximo ao criado mudo. Depois da minha queda, eles se mudaram para um apartamento no andar de baixo e desde então, não pensam em voltar para Barcelona. Pablo transferiu a cede da ONG para Madri e juntos estamos conseguindo gerir todos os nossos negócios. Olho para meu pai e me sento na cama a sua frente.
─ Diga, senhor Romulo. ─ Toco os joelhos de papai.
─ Você é um orgulho para nós, filho. ─ Sorrio.
─ Tive um bom exemplo, pai. ─ Ele sorri.
─ Não acha que está na hora de formar a sua família, Ruan? ─ Levanto uma sobrancelha em descrença com sua pergunta.
─ Está querendo se livrar de mim? ─ Seguro o riso.
─ Não. ─ Suspira. ─ Quero ter força e energia para segurar meus netos no colo e poder brincar com eles, Ruan. ─ Fico perplexo com o que meu pai fala. Ele é um homem forte e de boa saúde, tem todo o tempo do mundo para isso. ─ Estou ficando velho e quero aproveitar meus netos.
─ Não acha que está exagerando? Ainda é um homem cheio de vida e resistente.
─ Mais se você continuar a enrolar sua namorada, corre o risco de perde-la e até encontrar outra vou estar de bengala. ─ Gargalho.
─ Pode ficar tranquilo, papai, não corro esse risco. ─ Falo seguro do que sinto por Ana Luz e do que ela sente por mim.
─ Vou te contar uma pequena história. ─ Se ajeita na poltrona e coloca os cotovelos em cima do joelho.
─ Quando conheci sua mãe pensei ter visto uma miragem. ─ Sorrimos. ─ Era um dia chuvoso e ela tinha acabado de deixar um plantão, as ruas estavam cheias e por conta disso ela não viu um buraco e quebrou o salto do seu sapato. O sapateiro mais próximo estava fechado e eu agradeço todos os dias por isso. ─ Sorri e acabo acompanhando. ─ Meu pai já tinha me mandado abaixar as portas, mas algo me dizia que era para esperar e foi o que fiz, esperei. Faltando pouco para desistir e abaixar as portas, ela entrou mancando e com o sapato nas mãos. Era a mulher mais linda que eu já tinha visto e parecia um anjo, me aproximei e ela disse o que havia acontecido, peguei seu sapato e comecei a trabalhar nele, levei mais tempo que o necessário só para ficar mais tempo com ela e valeu a pena.
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Encontrar Alguém
Short StoryEncontrar alguém era tudo que Ana Luz Mota Perón nunca procurou, sempre focada em seus estudos e determinada desde a infância a seguir os passos do pai, o renomado Neurocirurgião do hospital Isabel Perón. Filha caçula de uma família tradicional de M...