Capítulo 5

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Abri a porta violentamente da sala dos professores vendo aquele que todos julgavam ser professor de matemática, entrei e sentei-me em uma cadeira e o aguardei sabendo que ele estava vindo para cá e a sala ficaria vazia pelas próximas horas já que ...

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Abri a porta violentamente da sala dos professores vendo aquele que todos julgavam ser professor de matemática, entrei e sentei-me em uma cadeira e o aguardei sabendo que ele estava vindo para cá e a sala ficaria vazia pelas próximas horas já que a aula havia acabado. Quando ouvi a porta sendo aberta, ajeitei-me e fiquei o observando. O sol batia em seu olho direito, o deixando mais claro. Seus passos pesados ecoaram e quando ficou perto da mesa, apoiou-se nela e se inclinou para frente, ficando próximo ao meu rosto. Afastei-me espantada e uma pequena faísca de arrependimento passou-se em minha mente. Eu não deveria ter vindo para cá, pois ficar sozinha com Gustavo Almeida é perigoso. Não que eu não confiasse em mim, eu só não confio nele. O Sr. Almeida é do tipo que seduz uma garota indefesa, para logo depois induzi-la a cavar a própria cova por beija-lo e não querer mais parar. Eu certamente não quero ser uma dessas garotas.

— A que devo a honra de sua visita? – seu tom debochado me fez querer pegar a caneta em cima da mesa e enfiar em seu olho.

— Sem gracinhas, Almeida. Eu não sei o que você escreveu ao meu melhor amigo, mas seja lá o que for tu vais mandar a porcaria de uma mensagem para ele e falar a verdade.

Seus olhos me olhavam divertidamente enquanto seus lábios esboçavam um sorriso sem mostrar os dentes. Eu devo ter dito alguma piada, que não estou sabendo? Uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde, ele terá que falar, pois a verdade sempre aparece. Quando ele viu que não estava brincando, revirou os olhos e sentou-se em uma cadeira a minha frente, cruzou os braços e me analisou.

— Não vou fazer nada, pirralha. A culpa não é minha se ele leva as coisas para o lado pessoal – bati a mão com força na mesa e me levantei.

— Sim, você vai! – gritei e fechei os olhos suspirando fundo antes de continuar – Austin está me tratando mal, por uma coisa que eu não fiz.

Foi a vez dele de levantar-se. Seu rosto ficou próximo ao meu, mas não hesitei dessa vez. Não vou ser uma garotinha amedrontada por ficar perto de meu professor, não desse. Ele é tão manipulador, tão sem freio, que chegou a hora de alguém pará-lo, antes que seu ego seja inalcançável.

— Isso foi uma ameaça? Porque se foi, acho melhor dobrar a sua língua, ou a princesinha vai cair do cavalo.

— Isso foi uma ameaça? – repeti o que o mesmo disse.

Seus olhos que estavam nos meus, foram para minha boca e fiz o mesmo com ele. Quando meu professor começou a se aproximar, sai o mais rápido possível dali e fui para a porta. Eu não tinha mais nada para fazer aqui, eu já falei o que tinha que falar, então vai dele se será do jeito fácil ou difícil. Quando minhas mãos tocaram a maçaneta, sua voz ecoou por toda a sala perguntando se eu gostaria de carona e como já era para eu estar em casa há dez minutos, aceitei. Mas deixei bem claro que eu realmente precisava e se o mesmo tentasse alguma coisa, ele poderia dizer adeus a sua carreira.

Logo estávamos dentro de seu carro, ele dirigia lentamente me deixando irritada. Falei para acelerar e foi isso o que Gustavo fez. O carro parou bruscamente em frente a minha casa, fazendo-me ir de encontro à pessoa que conduzia o veículo. Senti minhas bochechas esquentarem por causa da raiva e vergonha. Eu estou em cima do homem que dá aula para mim. Que constrangedor!

Quando me levantei, as mãos dele pegaram meus braços e me levaram para mais perto dele. Isso não pode acontecer, não pode. Tentei sair de seu aperto, mas tudo o que eu ganhei foi ter seu nariz tocando o meu e seus lábios encostados nos meus. Logo ele tomou meus lábios. Quando sua língua pediu passagem, me afastei e sai daquele carro. Droga!

Entrei na casa e subi correndo para o meu quarto, joguei minha mochila em qualquer lugar daquele local e atirei-me na cama, desejando que tudo isso não passasse de um sonho. Fechei meus olhos e contei até dez, os abri e vi que era a realidade e infelizmente a minha. Remexi-me na cama tantas vezes que meu corpo se cansou, então mesmo se eu quisesse dormir não conseguiria por dois motivos: primeiro, minha mente está com um botão "replay" enorme, fazendo com que tenha flashbacks repetidamente do pequeno acidente; e segundo, quando meus pais souberem eles vão me matar.

Por que eu só faço merda? E, droga, por que ele insistiu nisso, sendo que eu o odeio e nunca, em hipótese alguma esse negócio – seja lá o que ele for – dará certo. A pergunta que não quer sair da minha cabeça: eu gostei? A resposta está tão clara quanto a água cristalina de uma lagoa e eu odeio admitir que o professorzinho beija bem. Seus lábios são macios e doces como imaginei que seria, seu beijo com gosto de menta me faz querer colocar um chiclete com o mesmo sabor na boca e seu cheiro de hortelã me faz querer pegar uma folha e colocar na minha cama para sempre quando for dormir eu sentir o aroma doce.

Loucura. Essa é a única explicação para estar pensando no contorno de seus lábios, seu cheiro inconfundível, a grosseria e seu jeito extremamente sexy. Droga! Com apenas um beijo, ele fez o que ninguém nunca conseguiu fazer: desestruturar-me.

Por mais que eu tenha jurado a mim mesma não pensar nele e no seu sorriso sedutor, eu não consegui. Minha tarde resumiu-se em uma única pessoa: Gustavo Almeida.

Quando finalmente resolvi fazer algo útil, a porta foi aberta e meus pais entraram no meu quarto com uma expressão nada amigável. Ferrou! Essa foi à primeira coisa que me veio na mente.

Eu tenho certeza que estou branca feita um papel, meu coração está parecendo um tambor e minhas pernas estão bambas, fazendo-me apoiar-se no guarda-roupa. Eu sei que cometi um erro, mas me arrependo do primeiro fio de cabelo até o dedo mindinho do pé. Não quero e nem posso me prejudicar agora por isso. Eu sei exatamente o que meu pai vai falar "Eu te avisei para ficar longe de encrenca, mas falar com você é a mesma coisa do que falar com a porta, então já que tem capacidade para cometer seus erros, vai ter para estudar em um colégio interno na Inglaterra!" e droga, eu não posso deixar a minha vida toda aqui, não posso deixar o Austin sozinho porque fui irresponsável. Que tipo horrível de pessoa eu sou, exatamente?

— Não tem nada a nos falar Daphne? – a voz séria de minha mãe ecoou por todo aquele cômodo. Eu estou tão tensa que meus ombros estão pesados – Querida, você ficou o dia todo trancada aqui nesse quarto, não comeu o dia todo. Aconteceu algo? – soltei um suspiro alto aliviado. Não era nada! Meus pais não descobriram o ocorrido e graças a Deus tudo está bem e voltará ao normal – Filha?

— Não, não aconteceu nada. Estava cansada e dormi a tarde, por isso não comi nada. – Encarei meu pai que me olhava severo. Ele sempre faz isso quando algo está errado, ou quando me testa e eu odeio esses testes! São sempre perturbantes.

— Lúcia falou que um carro preto te trouxe hoje. Quem era?

Que boca aberta! Até onde eu saiba ela é paga para limpar a casa e não cuidar da minha vida. Depois terei que ter uma conversinha com ela, afinal não é a primeira vez que ela faz isso, sempre deixei passar batido, mas dessa vez ela foi longe demais. Venho com quem eu bem entender para a minha casa, se quiser pegar táxi, Uber ou sei lá o que, eu pego e ela não tem nada a ver com isso.

— Apenas um novo amigo, papai! Não tem com o que preocupar-se – um sorriso amarelado surgiu em minha face.

Seus olhos me analisaram, e depois balançou a cabeça parecendo acreditar na mentira que havia acabado de contar. Bom, em uma parte estou realmente certa. Ele não precisa se preocupar, pois nada do que ocorreu naquele carro, se repetirá novamente e com toda a certeza do mundo será esquecida não apenas por mim, mas também por Gustavo.

Depois de dar boa noite aos meus pais e eles saírem pela porta, sentei-me na cama suspirando fundo. Minhas mãos estavam em meus fios de cabelos ruivos, enquanto a culpa me remoia por dentro. Deitei na cama pensando na grande merda que estava se tornando minha vida depois de conhecê-lo. O que significa tudo isso? A vida está tentando me mostrar algo? Independentemente do que seja, não quero saber ou descobrir. O destino é feito de escolhas, nenhum está traçado completamente, a única certeza que temos é que iremos morrer. O destino é incerto.

Depois de muito tempo, uma sensação perigosa atingiu meu peito e o alarme de alerta começou a soar em minha mente. Então eu soube que estava encrencada. A última vez que isso aconteceu, as coisas não terminaram bem.

𝘔𝘦𝘶 𝘘𝘶𝘦𝘳𝘪𝘥𝘰 𝘗𝘳𝘰𝘧𝘦𝘴𝘴𝘰𝘳 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora