Rolkin correu pela neve, o vento frio da noite cortava seu rosto. O peso da arma e do banjo estavam-no matando. Quando decidiu parar, seu corpo tornou-se visível. Pausou por um instante, recuperando o fôlego.
As chamas que iluminavam a cidade, atrás dele, mostravam que os anões não descansariam até encontrá-lo. Ele precisava ganhar tempo e sabia quem poderia fazer isso por ele.
Era hora de cruzar a muralha de ferro.
Continuou caminhando até o portão de madeira no centro da muralha. Era uma distância curta, mas que o vento noturno insistia em prolongar. Agarrado em seus pertences, chegou até o destino.
Acreditava que teriam guardas vigiando-a. Começou a gritar.
— Hey! Hey, guardas! Guardas!
Percebeu uma cabeça se movendo acima do portão apontando uma flecha para ele.
— Quem está aí?
— Por favor... abra... é Rolkin! — Quase sem fôlego, tentava falar.
— Quem?
Rolkin olhou para trás e percebeu uma serpente de chamas se movendo em seu rastro.
— Rápido! Sou Rolkin, filho de Noria!
O anão olhou para o lado, onde havia outro guarda de vigia, acenou para que o outro entrasse.
— O que faz aqui a essas horas, senhor?
— Por favor, me deixe entrar! A vila foi atacada por gnomos e eu preciso ver a minha mãe!
— Atacada? Por gnomos?
A gargalhada do guarda foi tão alta que podia ter acordado a realeza de Bedaür, em suas grutas de pedra, onde viviam.
— Abra o portão! Agora!
Rolkin percebeu que tentar explicar a história não adiantaria, precisava se posicionar, lançou o encantamento no guarda. O som dos anões vindo atrás dele aumentava. A portinhola no grande portão de carvalho abriu e o guarda o olhava sem piscar.
— Não abra este portão para mais ninguém. Entendido?
— Claro, senhor!
O anão olhava com a mesma expressão hipnotizada de antes.
Rolkin passou correndo pelo chão de pedra, formado por paralelepípedos simétricos. Atravessou a praça redonda, onde ficavam os principais pontos comerciais da cidade, agora fechados pelo horário. Ora ou outra despistava os vigias noturnos, para não ter que perder tempo explicando quem era ou o que estava fazendo ali.
Alcançou a montanha, precisava subir a escadaria de mármore, até onde seu avô residia.
Rolkin começou a subir os degraus, o fogo das tochas que estava atrás dele agora não se movia mais. Estava barrado pela parede de ferro, apenas o clarão era refletido acima dela. Os gritos dos anões ao lado de fora alardearam os guardas para a entrada. Batidas foram ouvidas no portão de madeira. Rolkin continuava subindo.
Quando chegou à entrada da casa do avô, dois guardas apontavam lanças para ele.
— Não dê mais um passo se não quiser morrer!
— Rolkin... filho de Noria... — Arrancou o último suspiro para poder dizer seu nome.
Os guardas se entreolharam e abaixaram as lanças.
— Que hora oportuna, senhor! Principalmente com aquela confusão na entrada da vila. Acho que justifica sua vinda até nós. Está encrencado, não é, garoto? Sempre soubemos o que traria para a família real, era só questão de tempo — repreendeu o guarda — Toque a sineta.
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O Mestiço de Qöd
FantasíaRolkin é um mestiço que vive no extremo norte do planeta, com o povoado anão da família de sua mãe. Seu pai, um humano, de quem herdou a aparência e o talento com a música, já não vive mais. Sentindo-se que não faz parte desse povo, tenta a todo cus...