Abro a porta da cafeteria e o clássico som de sininho indica minha entrada. Todos os outros clientes já estavam entretidos em suas próprias mesas, e só uma pessoa olhou para a porta. Era Lola, já tinha chegado. Ela dá um tchauzinho da última mesa e me recebe com um sorriso e um abraço
- Que bom que apareceu!
- Quase que não venho, me perdi antes de chegar aqui - ela ri e eu também
- Sério? Não era tão complicado
- Orientação não é meu forte
O garçom chega para anotar nossos pedidos:
- Um chocolate quente - dizemos ao mesmo tempo e depois caímos na risada
- Então são dois chocolates quentes? - o garçom diz sorrindo
- Isso - eu digo
- Que conexão essa nossa, hein?- ela abre um sorriso que fazem seus olhos brilharem, parecia estar feliz comigo ali.
- Você acredita que virei o hotel de cabeça pra baixo procurando seu cartãozinho?
- Que cartãozinho?
- Aquele que você me deu no dia lá no banheiro. Tinha seu número e eu perdi - ela solta uma risada contida
- Bem que eu te vi vasculhando a lixeira junto com uma funcionária
- Você me viu?
- Sim, mas achei que você tinha perdido outra coisa, um anel, brinco, sei lá. Mas meu cartão?
- É, seu cartão de negócios - Sorrio de lado e passo a mão pelo rosto em vergonha
Nosso chocolate quente chega e nos servimos
- Você tá fazendo o que exatamente aqui em São Paulo além de baladas gay? - pergunto
- Trabalho. Vou ficar de freelancer numa empresa de publicidade. Não é o emprego mais estável porém é o que está tendo
- Hmm, entendi. E essa empresa faz propaganda pra que?
- Ah, tem várias coisas: um hortifruti, uma mecânica daqui, uma distribuidora de internet. Tem até uma funerária - ela ri
- Se te pedirem uma de funerária joga um negócio bem engraçado. A morte já é triste suficiente - ela balança a cabeça concordando
- Pode deixar - e ri - E você, tá fazendo o que aqui?
- Ah eu vim visitar uma tia. Ela está meio doente. Mas segundo o médico se ela manter o tratamento tem tudo pra melhorar
- Nossa que triste... O que ela tem?
- Não sei o nome, mas sei que tira o movimento dela aos poucos. Pelo menos é isso que está acontecendo - o olhar de Lola muda, em preocupação
- Espero que ela melhore - ela estica a mão e encosta na minha
- Ela vai... - aperto rapidamente sua mão, nós olhamos por alguns segundos antes de Lola desfazer o aperto
Encaro o chocolate quente por um tempo e mexo com um palitinho. Então Lola quebra o silêncio.
- Agora que lembrei, não sei sua idade.
- Nossa é mesmo. Eu tenho 19... Você disse que já está até trabalhando, deve ser bem mais velha.
- Poxa, nem é pra tanto. Tenho 22. E nem é um trabalho, é um estágio. Não terminei a faculdade ainda.

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Lola
RomanceUma tarde chuvosa e um casaco de alguém que ama. Assim é o princípio do término entre Tarcilla e Lola. Um desentendimento entre as duas personagens põe fim em seu relacionamento. Numa conversa profunda e nostálgica, Tar revive todos os momentos com...