Conheci o Alberto numa biblioteca à tarde. Seus cabelos, tom de outono, sorriso de porcelana, pele clara como a minha. Ele sorriu pra mim. Eu sorri pra ele. Eu espirrei com a poeira de um antigo filósofo. Ele riu. Eu ri. E de riso em riso, olhares em olhares e de lábios tocando lábios, começamos a namorar.
Ele era um ano mais novo, fazia engenharia. Dirigia com uma mão no volante e outra em minha perna desnuda pelo short no caminho do aeroporto. Fomos tomar sorvete enquanto esperávamos minha amiga chegar. Alberto sugeriu que fôssemos tomar sol enquanto contávamos carros, ele sempre ganhava de mim e por isso ganhava um beijo. O beijo era tão quente quanto o sol. Uma voz familiar atrás de mim me tira do momento.
- Ah, eh... - eu estava super sem graça por ela ter me visto numa atitude tão adolescente - eu estava...
- Prazer, Alberto - diz meu namorado esticando a mão pra ela. Ele estava contra o sol, o que fazia-o parecer maior e mais musculoso do que já era.
- Oi... Sou a Dolores - diz sem graça.
- De fato a Tatá tinha muita razão quando falava do seu sorriso - ele sorri de lado.
- Tatá... - ela repetiu.
Eu deveria estar muito vermelha do beijo, ainda mais depois que Alberto foi buscar o carro me deixando num climão.
- É aí? Como foi a viagem?
- Que mal gosto, ein?
- Hã?
- O... A roupa da... daquela senhora ali - aponta para uma mulher aleatória saindo de um Uber.
- É, de fato até eu me arrumaria melhor pra viajar - eu disse.
- É, eu também...
- É...
Depois de um silêncio ela gira nos calcanhares e me diz:
- Ei, moça, senti a sua falta... - morremos num abraço.
*BIBI*
Está o chamativo corola vermelho do menino ruivo de atrás da gente.
- Ele parecia bom rapaz, na minha época os ruivos eram considerados feios, sabia? - Dona Margô me cutuca ao falar.
- Não sabia, Dona Margô. Hoje eles estão na moda, você sabe, Ed Sheeran. - ela me olha com um rosto inexpressivo, como se tivesse falado uma língua estrangeira - Então, no começo foi bom. O início de qualquer relacionamento é bom. Mas depois aconteceram umas coisas...
Namoro infantil. Amor em horas erradas. Frescuras em bobeiras. Éramos diferentes. Eu ia para a biblioteca para ler e ele ia para procurar quem lesse. E assim foi por alguns meses.
Terminamos em briga, os estilhaços do vinho caro da mãe dele cortaram meu rosto. Ele foi pros braços de seus papais e eu fiquei sozinha.
Sozinha por uma noite de choros, até que amanhecesse para poder ligar para Lola.- Ei gatinha, bom dia. - dava pra escutar seu sorriso do outro lado da linha - Tudo bem?
- Ei... To precisando de você aqui, amiga.
- O que houve?
- O Alberto... - minha voz falha, minha cabeça ainda está latejando por ontem. Limpo as lágrimas do rosto e tento manter a voz firme - Prefiro te falar pessoalmente. Tem como vir aqui?

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Lola
Roman d'amourUma tarde chuvosa e um casaco de alguém que ama. Assim é o princípio do término entre Tarcilla e Lola. Um desentendimento entre as duas personagens põe fim em seu relacionamento. Numa conversa profunda e nostálgica, Tar revive todos os momentos com...