Porque me abandonaste?.

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Capítulo 6.

Por que me abandonaste?

Justin Bieber

Eu normalmente gostaria do pernil. Aliás, como um bom carnívoro, eu sentiria prazer ao mastigar qualquer carne, ao sentir o suco salgado do sangue e do tempero se encostar na minha língua. O problema, claro, era que minha mente e meus anseios estavam ocupados demais para que eu prestasse atenção na comida.

Meu lado patife zombava da minha ansiedade. Vejam só, ele dizia, o grande Justin Bieber, reponsável por destruir o coração de tantas garotinhas sucumbindo à fraqueza de um sentimento tão tolo. E o sentimento, de fato, era tolo. Era uma tolice sentir o sabor azedo, amargo e doce daquela sensação asquerosa. Daquela emoção que fazia com que minha mente se concentrasse em uma única criatura.

Meus olhos, traidores, insistiram em se voltar para Elizabeth. Durante o jantar, aquela era uma das inúmeras vezes que eu me pegava observando seus movimentos. Que eu me encontrava analisando cada um dos seus traços, cada uma das suas ações, buscando ali qualquer sinal de esperança.

Eu não era mais nada perto da imensidão dos meus sentimentos por ela. Não era ninguém além de um fiel devotado à sua ternura e compaixão. Eu perdia meu nome, e me rebatizava apenas de “perdido”. Perdido de amores, de arrependimentos e de loucuras.

Minha pele ardia em chamas desde que ela, minha redenção, encostou suas pequenas mãos em mim. Desde que ela me presenteou com um abraço carinhoso e demorado, minha carne fervilhava de desejo. 

Enquanto ela, pequena, quente e indefesa, encontrava-se desprotegida em meus braços, meu coração bombeou algo além das sensações viciosas que me acompanharam pelos últimos anos. Meu estômago deu fisgadas em expectativa, e minhas mãos queimaram de vontade de agarrá-la. Meus pensamentos maldosos, durante a aproximação inocente e meiga de Elizabeth, fantasiaram formas de fazê-la minha.

Mas eu não era merecedor. Não. Às vezes, quando nossos olhares se encontravam, eu podia ver o horror e o pânico explícitos em sua feição. O semblante de Aniston, quando me olhava nos olhos, me fazia voltar imediatamente para o dia em que a perdi. 

- Vestido azul, da cor do brasão Rosenberg. – Isaac comentou de forma canalha, seu olhar vacilando de Aniston para mim. – Impressão minha, Elize, ou você quer nos impressionar?

Rolei os olhos imperceptivelmente, enquanto a garota juntava as sobrancelhas.

- Eu adoraria impressioná-los, Isaac. – Ela respondeu, educada. – Mas a escolha do vestido não foi intencional.

Um sorriso simples brotou em meus lábios, e eu tentei não rir da expressão desiludida do meu primo.

- Diga-nos, estrelinha, - Wilfried disse, tentando parecer o mais carinhoso possível ao chamá-la pelo símbolo da família. – que ventos a trazem de volta a Primaveras Amargas?

Ah, sim. 

Confesso que não me perguntei as razões da sua volta. Me poupei do trabalho de procurar motivos para uma resposta óbvia. Eu sabia muito bem o porquê de Aniston estar de volta

- Eu vim terminar a faculdade. – Ela respondeu, com o tom mais natural possível.

Sorri amargo ao ouvir a desculpa idiota. Ah, vamos lá, Aniston. Você pode fazer melhor!

- Mas veio só terminar a faculdade? – Meu avô disse. A voz demonstrando uma estranheza falsamente preocupada.– Duvido que nosso querido Danúbio Aniston permitira que a filhinha saísse de uma faculdade em São Paulo – imagine, das renomadas! – para poder estudar em uma das nossas instituições foleiras. – A menina esboçou um sorriso ácido enquanto ele apoiava o queixo sobre os dedos cruzados, em interesse. – Diga-nos, Elize, o que realmente você está fazendo aqui?

Alvura Púrpura, por lan.Onde histórias criam vida. Descubra agora