Encontro com o cupido.

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Capítulo 5.

Encontro com o cupido

Elizabeth Aniston

As esperanças de Klaus eram inúteis. Inúteis porque ele não precisava tê-las dito. Meus temores, minhas mágoas, eram tudo o que eu via quando olhava para Bieber. 

A noite já tinha se deitado sobre Primaveras Amargas. Os ventos estavam mais frescos do que naquela tarde, e as estrelas, por trás dos vidros do carro, não eram tão nítidas. 

Eu teria, assim que colocasse meus pés em território inimigo, que vestir a máscara da boa e velha Elizabeth. Da garota mimada e manhosa que a “primeira família” conhecia. 

Minhas vestes contribuiriam para a encenação precária. Ao invés do preto que eu usava tão frequentemente, principalmente após minha mudança da cidade, eu usava um vestido azul marinho. Mais justo no busto, largo das costelas para baixo. 

Naquele jantar, eu teria que fazer o papel da amiga de Justin. Fingiria que nada aconteceu, que ele nunca fez nada para destruir meu coração e minha confiança. Para o bem de Alma Bieber, eu voltaria a ser a “feiosa” por uma noite.

Clóvis estacionou o carro na frente do enorme muro da mansão. Os portões cresciam em lanças negras, afiadas e tenebrosas, que se abriram poucos segundos depois. Pelas câmeras de segurança, deduzi, alguém tinha percebido a nossa chegada. 

Fechei os olhos. Minhas mãos suavam frio e, por mais que a princípio a fala de Klaus tivesse me parecido inútil, agora sua voz se revirava na minha cabeça. Se embaralhando com outros pensamentos e me torturando. Repetindo sílaba por sílaba como uma vitrola quebrada: “Quero que olhe no espelho, Elizabeth, e pense que o seu reflexo foi Justin quem fez”.

Ele estava completamente certo. Drew tinha sido o responsável pelo nascimento do meu outro lado, do meu lado maligno e cruel que se manifestava em meu exterior tornando minha aparência fria. Doente. Toda a palidez e fraqueza da minha carne eu atribuía ao menino. À cena terrível pela qual ele me fez passar. Pela perda colossal e trauma insuperável. 

Clóvis estacionou o carro. Abri meus olhos de maneira determinada, pronta para modificar minha feição. Preparada para abrir um sorriso puro e inocente. Para andar desengonçada e cumprimentar a todos com abraços e beijos estalados. 

Eu tinha aceitado participar do jogo, afinal. Aceitei ser uma jogadora conivente com as regras macabras e injustas, desde que elas me levassem a meu objetivo maior. Desde que elas me levassem a vingança sinistra, tão meticulosamente arquitetada por meu subconsciente. Ir a casa dos Bacelar não passava da primeira rodada. Da primeira sessão de máscaras e mentiras que acompanhariam a minha jornada assombrosa. 

Alguém abriu a porta do meu lado. Olhei singela para uma garota fina, magra. Os cabelos bem loiros e cacheados caíam pelos ombros encolhidos. 

- S-s-seja b-bem-vinda, s-senhorita Aniston. – Gaguejou. 

Sorri para ela com simpatia, agradecendo por ela ter aberto a porta do carro. A menina, quase imperceptivelmente, analisou-me com os olhos. Vasculhou minhas vestes e silhueta de forma tão veloz que eu mal tive tempo para estudar sua feição. 

Olhei para trás por um momento, a tempo de ver Clóvis manobrar o carro para ir embora. Abracei meu corpo e suspirei. Minhas pernas tremiam de nervosismo e um sorriso meigo e forçado era esboçado por meus lábios. 

- Querida! – Alma gritou logo da porta de entrada. 

Seus olhos, que desde a noite anterior me pareciam demasiadamente tristes e cansados, agora continham centelhas de animação. Andei rapidamente até ela, com um sorriso dócil no rosto, e lhe dei um abraço apertado. 

Alvura Púrpura, por lan.Onde histórias criam vida. Descubra agora