CAPÍTULO 1

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Londres, Inglaterra 1915


Parecia pouco provável que as tempestuosas íris castanhas com leves pigmentos esverdeados fossem um dia deixar de assombrar a vida de Catherina.

Um ano havia se passado desde de que ela experimentara o amor em todas as suas nuaces. Sentira que fora do céu ao inferno num piscar de olhos, e o desalento que a possuía desde o abandono de Valentinne a deixava a beira do desespero.

O quarto revestido em gesso era sufocante, quase claustrofóbico. Era como se todo o oxigênio houvesse sido sugado dele.

Enquanto Catherina continuava deitada sobre o tapete felpudo, seu corpo era lançado no mais profundo breu sem a sua anuência. Seus olhos estavam presos ao Nascimento de Vênus no teto de madeira polida buscando algo a que pudesse se agarrar.

Os Nevilles eram adeptos a arte, ela nem tanto. Porém era impossível não admirar os traços sutis e inconfundíveis de Sandro Botticelli, seria um crime a arte tamanha ignorância.

Seus olhos fecharam-se abruptamente, e novamente as frases escritas no papel rasgado pela súbita raiva se materializara em sua mente fazendo-a praguejar baixo.

"Saiba, belle, que eu nunca me perdoarei pelo que a fiz passar. Não me odeie, não suportaria perdê-la. Sinto a sua falta. Mas entendo que não é o melhor momento para nos reencontrar-mos. Párdon, mas nem mesmo o tempo fora capaz de matar o amor que sinto por Annelise. Espero que um dia possa me perdoar. Com amor, Tinne".

O jornal The Girdywon encarregou-se de esfregar toda felicidade de Annelise e Valentinne Vasseur na cara de Catherina pela manhã.

As duas haviam subido ao altar no dia anterior. Casaram-se na capela onde o seu próprio casamento aconteceria no ano passado.

Lágrimas grossas brotaram de seus olhos azuis mais uma vez, molhando-a o rosto pálido. Já não possuía o controle em fazê-las pararem.

Catherina não tinha conhecimento das origens de tal choro. Talvez fosse pela certeza de que Valentinne jamais a amaria, ou por saber que a tinha perdido para todo o sempre.

Talvez estivesse chorando feito uma condenada de raiva de si mesma por não ser correspondia como merecia.

Madame Adeline forçara Catherina a fazer uma súbita viagem para que se apresentasse
ao duque e a duquesa de Emsworth. Seu irmão gêmeo, Timothèe, casara-se com Arabella __ filha do casal__ havia um ano.

Ela jamais o vira tão radiante. O amor decerto transformava as pessoas. Obviamente não havia tido a mesma sorte, afinal, a mulher que amava estava casada e agora possuía uma família dos sonhos. Enquanto ela continuava infeliz dentro de um país em alerta.

Uma crise acometera a Inglaterra. A Itália assinara um acordo com os franceses e os ingleses em troca de ganhos territoriais. A aliança já estava formada e poucos eram os que sabiam.

Por mais que Catherina não tivesse muito conhecimento do quão grave era a situação, Timothèe fazia questão de informá-la sobre.

Ela temia pela vida das pessoas. Valentinne empenhara-se em fazer dela um alguém melhor, e Catherina era grata por isso. Já não pensava em si própria, seus olhos enxergavam além do próprio nariz.

Mas ela sempre soube.

Jamais seria a escolhida.

Neville não teria chance contra um amor de anos.

Ela levantou-se preguiçosamente sentindo as pernas falharem enquanto lutava para chegar ao menos a janela. O sol brilhava forte no céu azul enquanto a cidade despertava de seu sono.

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