O livro “Possessão” é ganhador na categoria Terror por um mérito quase impossível: usar os clichês do gênero ao seu favor ao ponto de escrever uma história acessível, mas também com toques subjetivos e diferentes para criar uma obra fantasiosamente bizarra (no melhor sentido da palavra.)
Aqui temos a história de Luana, uma mulher que sofre após a morte de seu único filho. O desenrolar da trama evoca vários clichês do terror, porém é interessante destacar tanto o conhecimento da autora no que se diz respeito à psicologia cognitiva (a pontada nas 5 fases do luto foi genial), quanto às reviravoltas imprevisíveis da trama, conseguindo dosar os paradigmas do gênero com questões nada esperadas pelo leitor.
Sem contar que as cenas hot dão uma singularidade maior para trama, a qual é escrita com maestria. É perceptível, porém, que a autora originalmente escreve obras de romance — por causa da relação bem desenvolvida entre o Tom e a Luana. O que pode ser um ganho qualitativo para história, acaba a tornando mais um suspense sobrenatural do que um livro de terror. Mesmo que seja por conta da premissa da obra, isso poderia ser contornado com menos capítulos, ou até deixá-los mais enxutos. Mas com o tempo a autora aperfeiçoa essas pendências e consegue entregar uma obra quase perfeita.
A capa é maravilhosa, muito bem feita. É possível ler tudo que está ali presente (por causa do fundo escuro e as letras brancas), e a imagem escolhida é assustadora, demonstrando o que teremos presente na obra. Genial.
A sinopse é curta, entretanto apresenta um mistério interessante, a qual sagaz o leitor com várias perguntas: “Quem está correndo?”, “Do que está fugindo?”, “Que voz essa?”. É uma sacada incrível para uma obra do gênero.
Senti falta de um desenvolvimento maior dos personagens secundários. O capítulo da sogra pouco acrescenta para a obra, tão quanto ela também não. É uma subtrama desnecessária que apenas deixa o livro maior do que deveria. Sobre os outros personagens, eles foram bem redigidos. A personagem principal tem uma evolução impecável e muito bem detalhada (amei o prólogo por sinal), o Tom acrescenta camadas em prol da protagonista e a enfermeira apresenta um dos plots twists mais interessantes do livro.
Mesmo que haja alguns erros de português evidentes, “Possessão” é uma obra com um desenrolamento devagar, mas quando desenrola, acaba impressionando graças à sutileza da autora e a perturbadora história que ela conta.
