Daisy

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Acordou com raios de sol batendo no seu rosto e se irritou levemente em saber que alguém tinha aberto as cortinas. Quando olhou para uma das janelas, porém, toda irritação desapareceu dela. Sebastian se encontrava completamente nu, de costas para ela, olhando para o dia luminoso que se estendia lá fora. Suas costas brancas como a neve ainda guardavam as marcas vermelhas que as unhas de Daisy tinham deixado ali na noite anterior. Sorriu perversamente com a lembrança do que se passara. Se levantou da cama e caminhou até ele, o abraçando por trás. Pela reação de surpresa que ele teve, ela julgou que não havia sido ouvida. Não era novidade, ela sempre fora silenciosa.

_ Eu devia estar irritada com você por me acordar - disse ela, em um tom brincalhão.

Ele riu e se virou, depositando um beijo em seus lábios. Quando abriu a boca para deixar entrar sua língua, ela sentiu um gosto agradável de tinto. O membro dele começava a ficar rígido e pressionar contra sua barriga quando ela o afastou, sorrindo maliciosamente.

_ Mais tarde - disse ela, fazendo ele soltar um murmúrio de decepção.

Daisy vestiu um bonito vestido decotado de veludo, púrpura como os olhos de seu amante, e se dirigiu aos aposentos de seu pai para quebrar o jejum. Nos últimos dias era comum que comessem juntos, seu pai vinha se tornando um homem solitário e triste, e depois da notícia sobre seu filho ter se tornado refém dos Carrow tudo isso havia piorado. Ela se lembrava nitidamente do rosto dele quando o pombo trouxe a notícia. A ave era branca, mas as palavras que trouxe eram negras; frias e cortantes como a lâmina de uma espada.

Quando entrou nos seus aposentos, seu pai se encontrava sentado, com uma carta entre as mãos e um prato intocável na sua frente. Daisy se aproximou, depositando um delicado beijo em seu rosto, e então se sentou a sua frente.

_ Seu irmão está morto - disse o seu pai, a voz não demonstrava emoção alguma.

O coração de Daisy pareceu saltar pela sua boca por um instante, e ela se viu chocada demais para falar qualquer coisa. Tentou evocar a lembrança mais recente que tinha de seu irmão, ela tinha... cinco anos? Seis talvez. Não se lembrava, tal como não se lembrava de sua aparência ou sua voz. Lembrava-se apenas que costumava beija-lo o tempo todo, o deixando irritado. Ela também se lembrava disso - de como Dorian era um adolescente fácil de irritar.

Esperou alguns minutos, e quando percebeu que seu pai não falaria nada, ela tomou a palavra.

_ O que pretende fazer, pai? - perguntou ela.

Ele pensou por algum tempo, e quando levantou a cabeça para responder, o rosto triste tinha dado lugar a um totalmente tomado pelo ódio.

_ Convocar os vassalos e partir para a guerra. Não descansarei enquanto não tiver a cabeça de Levy sendo exibida nessas muralhas - respondeu ele.

Daisy não falou nada, apenas acenou com a cabeça, pegou um pedaço de bacon com a ponta do garfo e o saboreou, com a gordura escorrendo pelos seus lábios. Não sabia como se sentir com a notícia da morte de seu irmão. Significa que agora sou a herdeira de meu pai - pensou, mas se recriminou pelo pensamento pouco depois. Devia estar se sentindo mal por ele - disse a si mesma - Ele era seu irmão. Entretanto, não sabia dizer se estava triste. Seu irmão era um estranho para ela e até as lembranças que tinha dele eram distantes.

Quando terminou de comer, se despediu de seu pai e saiu da fortaleza em que ficava seus aposentos. No pátio, pessoas andavam de um lado para o outro, homens trabalhavam nos arsenais e nos estábulos, enquanto cavaleiros e escudeiros treinavam ali por perto. Ela parou e ficou observando, sorrindo ao se lembrar da própria infância. Notou-o antes mesmo dele se aproximar, com seus magníficos cabelos dourados caindo como rios de ouro, lisos e espessos.

Ultraviolence - As Peças Sagradas (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora