Loyal

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     Meu corpo todo é sacudido pela energia imparável que vem de algum lugar ao sul. Todos os meus músculos estremecem e minhas pernas fraquejam, a ponto de eu precisa me apoiar no ombro de Lola para não cair contra as pedras que estamos escalando. Ela se assusta e olha para mim com preocupação.

     - O que foi? - questiona, tocando-me.

     Cambaleio devagar e caio sentado, cobrindo meu peito com uma das mãos. Ele reverbera como se estivesse sendo afetado por fortes ondas sonoras, mas sei que não é exatamente isso. É mais. É algo mais poderoso do que tudo que eu já vi ou senti em toda a minha existência e está me afetando muito mais do que eu gostaria. Não é uma força Iluminada ou Sombria - vai além.

     - Dói... - é tudo o que consigo balbuciar, contorcendo-me no chão pedregoso.

     Lola se abaixa, incerta sobre o que fazer. Então ela olha para cima, admirada.

     - Tem algo a ver com aquela luz lá longe?

     Com dificuldade, ergo a cabeça e estico o pescoço para ver do que se trata. É um forte clarão verde vindo exatamente do sul, onde a realeza dos Iluminados tinha um castelo. A grande coluna de luz fica cada vez mais intensa a ponto de ofuscar qualquer outra e de deixar toda a minha visão verde.

     - Nada bom... - guincho.

     - O que é aquela luz?

     Agarro a mão de Lola que está sobre meu joelho, chamando seus olhos para encontrar os meus.

     - Precisamos nos apressar e colocar você em um lugar seguro - eu me forço a dizer. - Se eu por acaso cair e não puder continuar, você deve seguir sozinha e se proteger.

     Os olhos castanhos dela brilham em aflição.

     - Não vem com essa - Lola sacode a cabeça. - Você é forte e vai me proteger. É o seu trabalho, lembra? Não vou a lugar algum sem você, mesmo que precise te arrastar comigo.

     Sinto um calor estranho no peito e uma necessidade de me aproximar muito dela. À penumbra verde agourenta e com sua total atenção em meu rosto, a humana parece tragica e irresistivelmente atraente para mim, como se a força que me puxa para mais perto dela fosse ainda mais forte que a luz verde sobrenatural. 

     - Loyal? - a testa dela se enche de vincos.

     Eu recobro a razão.

     - Ajude-me a levantar.

     Lola me puxa pela mão e logo passa um de meus braços ao redor de seu pescoço. Quase que involuntariamente, meu corpo se apoia no dela como se fosse algo bastante natural e minha garganta fica seca quando sinto o cheiro de sua pele. Estou perdendo o controle e sinto que vou enlouquecer se continuarmos assim tão próximos, mas sou incapaz de me afastar agora que já cheguei a esse ponto. Lola me flagra olhando.

     - Ainda dói muito? - pergunta, os lábios a pouca distância do meu rosto.

     Viro a cabeça para a direção oposta.

     - Dói demais - respondo num grunhido.

     Devagar, continuamos nossa caminhada à encosta da montanha e a cada passo eu me sinto mais fraco. Até que, com a cabeça meio tombada contra o colo de Lola, eu noto imediatamente quando seu medalhão começa a brilhar timidamente e, para a minha surpresa, sinto-me um pouco melhor. Minhas pernas já não estão mais tão fracas e os tremores em meu corpo diminuem lentamente. 

     Lola para de repente e eu olho para ela a fim de entender o motivo.

     - Uau... - ela silva, erguendo o rosto para olhar para o céu.

A Ruína de Ricky Prosper (VOLUME 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora