Prólogo

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Quatro anos antes

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Quatro anos antes.

Era uma noite chuvosa e fria, e o que era para ser um momento de ternura, com a esposa deitada em seus braços, enquanto ele fazia planos sobre o que fariam nos próximos meses, tornou-se de repente o começo de um grande sofrimento.
Precisou chamar por ajuda no meio da noite, cavalgando na chuva torrencial, até a casa de uma senhora que pudesse ajudar no parto. A criada ficara ao lado de Nora, ajudando-a, e dando-lhe força para suportar a dor. O capitão então fora colocado para o lado de fora do quarto, enquanto a senhora orientava sua esposa, dizendo-lhe o que precisava ser feito para que a criança nascesse.
Os gritos da mulher recorriam a pequena casa, e angustiavam o marido, que esperou no corredor, pensando no bebê que logo nasceria, permitindo-se imaginar como ele seria. Se teria os cabelos castanhos como os de Nora, ou tão louros quanto os dele. Mas Tristan pouco importava-se com isto. Esperava apenas pelo momento em que seguraria o bebê nos braços, e ansiava por saber se seria um menino ou uma menina.
Mas de repente, a criada deixou o quarto rapidamente, com as mãos sujas de sangue, e voltou em seguida, com pedaços de pano, sem dizer nenhuma palavra ao capitão, que começou-se a perguntar-se se toda aquela demora era normal.
Nora gritou novamente, e ele começou a ouvir chorando. Deveria entrar? Deu um passo em direção a porta, mas reconsiderou, achando que deveria apenas esperar.
Enquanto isso a chuva não dera trégua, e ele nem chance tivera de trocar de roupa, preocupado com a esposa.
Esperou por mais alguns minutos, até que a senhora saiu do quarto, secando as mãos em uma toalha. Ela tinha a cabeça baixa, e parecia cansada. Ficou em frente ao capitão e respirou profundamente.
— O bebê nasceu? — Tristan perguntou sorrindo.
A mulher balançou a cabeça concordando.
— E minha esposa? Posso entrar? — mal podia disfarçar o imenso sorriso no rosto, e as mãos ansiosas deslizando pelos cabelos.
Ainda de cabeça baixa, a senhora deixou que ele passasse, e o capitão entrou no quarto mal iluminado. Sua primeira visão foi a esposa deitada na cama, de olhos fechados, e um pequeno rolinho de panos ao seu lado. O bebê.
Aproximou-se, ansioso para vê-lo. Mas a criada, que estava limpando o rosto de Nora, colocou-se em sua frente.
— O que está fazendo? — ele disse sem entender.
— O bebê, senhor. — a mulher mais velha entrou no quarto novamente, e foi até a cama, segurando nos braços o pequeno ser. — Seu filho nasceu morto. Sinto muito. — entregou o pequeno enrolado por panos nos braços de Tristan.
E o capitão mal conseguia mover-se ao ouvir aquilo. Sua voz se calou e as lágrimas começaram a descer por seu rosto quando ele encarou aquele rostinho pálido, de olhinhos fechados. Esforçou-se para tocá-lo na bochecha, e desesperou-se ao senti-lo frio. Abraçou-o, e beijou-lhe o rosto, desesperado.
— Meu filho. — murmurava ainda com o bebê nos braços. Até que a mulher o pegou novamente, entregando a criada. — Nora. Ela o viu? — perguntou, concentrando-se então na esposa que continuava a dormir.
— Ela não o viu. Sofreu muito durante o parto e perdeu muito sangue. O senhor acredita em Deus? Precisa de um milagre para que ela sobreviva, senhor. — a mulher respondera tristemente, passando panos úmidos pela testa de Nora.
Ele engoliu em seco, cambaleando até o lado de sua esposa, mas paralisou, sem coragem para tocá-la, completamente em choque.
— Um médico. Preciso chamar um médico. — sussurrou, encontrando o olhar da velha senhora, tão preocupada quanto ele. — Cuide de Nora, eu volto o mais rápido que conseguir.
— Não posso garantir que haverá tempo, senhor. — ela respondeu, fazendo-o voltar-se para ela. A mulher apiedou-se do olhar de desespero do homem e suspirou. — Farei tudo que puder.
E com aquela vaga garantia, Tristan saiu pela noite chuvosa, montado em seu cavalo, com destino ao vilarejo mais próximo, com a esperança de que o médico que passava alguns dias no local estivesse ali naquele momento. Seria um golpe de sorte, o qual ele pedia desesperadamente aos céus que lhe fosse concedido.
Quando chegou na hospedaria no centro do vilarejo, e desferiu murros contra a porta, uma mulher baixinha o atendeu. E o capitão mal conseguia explicar o que estava acontecendo, devido ao cansaço e o frio. Mas sentiu-se apenas um pouco mais aliviado ao saber que o médico estava ali naquela noite, e que seria chamado no mesmo instante.
Ele aguardou alguns poucos minutos, até que o homem de aparência um pouco mais velha que ele desceu as escadas, abotoando o casaco, carregando uma maleta, enquanto uma mulher de vestido vermelho e cabelos bagunçados despedia-se dele do alto da escada.
— Minha esposa. Ela precisa de ajuda. — foi o que conseguiu dizer antes de arrastar o médico para fora, porque era apenas o importante no momento. Daria detalhes durante o caminho.
— Iremos nesta chuva? — o homem perguntou preocupado, mas se calou ao receber um olhar irritado do capitão.
**
As estradas cheias de lama, os cavalos cansados e a chuva incessante não foram suficientes para parar Tristan, que cavalgou sem parar de volta para casa, com o médico o acompanhando, reclamando durante todo o caminho, dizendo que era uma ofensa não ter uma confortável carruagem a seu dispor.
O dia quase amanhecia quando ele desceu do cavalo em frente a sua casa, e subiu os pequenos degraus, com as roupas completamente molhadas e as botas tomadas pela lama. Entrou da mesma forma, arrastando o médico ao seu lado, levando-o até o andar de cima.
A porta estava fechada e Tristan a abriu sem bater, assustando a senhora e a criada que estavam ao lado da cama, impedindo-o de ver a esposa.
— Eu trouxe o médico. — ele disse, apontando para o homem que agora respirava com dificuldade ao seu lado.
— Como ela está? — deixando a maleta em uma cadeira ao lado, o médico se adiantou até a cama, logo segurando o pulso de Nora, e tocando o rosto dela.
— Tentamos controlar a febre. Mas ela ainda continua sangrando muito. Não sabemos o que fazer. — a mulher que cuidara de Nora disse, dando espaço ao médico.
Tristan assistia a tudo completamente atordoado. Precisou controlar as lágrimas quando viu o bebê enrolado em um lençol branco, posicionado com cuidado ao lado da esposa. E ele parecia como vivo. Não cabia-lhe pensar que seu filho estava morto.  Era apenas como se ele estivesse adormecido ao lado da mãe.
— Salve-a. Imploro que salve minha esposa. Darei ao senhor todo o dinheiro que tenho, mas por favor, não a deixe morrer. — pediu, a voz embargada, e recebeu um olhar de compaixão do médico.
— Eu farei tudo que puder, capitão. Prometo-lhe. — retirou alguns instrumentos da maleta, e deixou sobre a cama. — Preciso que saia do quarto para que eu possa examiná-la e começar os procedimentos.
— Não vou sair. — Tristan protestou irritado.
— Por favor, senhor. — a mulher mais velha ficou ao lado dele, e o acompanhou até o corredor. — O doutor sabe o que está fazendo. Eu irei auxiliá-lo. Espere aqui.
E ela voltou para o quarto, enquanto o capitão desabou, sentando-se no chão, totalmente exaurido, sem forças. Seu corpo tremia pelo frio da chuva gelada, e suas pernas estavam doloridas de tanto cavalgar. Mas  ainda assim, o cansaço físico não era nada perto de sua mente, completamente quebrada, e seu coração, angustiado. A impossibilidade de fazer algo era dolorosa, quando ele desejava entrar naquele quarto e salvar Nora, assim como sonhava em voltar no tempo e tentar salvar a vida do bebê.
Passou a mão pelos cabelos molhados e suspirou. Desde que soubera da gravidez da esposa, Tristan havia deixado seu regimento no mês seguinte, apenas para ficar ao lado dela, ansioso com a chegada da criança que nasceria. Mas aquilo... Como as coisas podiam ter desabado tão de repente?
Nada mais o impedia de chorar, e ele o fazia sem importar-se. As lágrimas quentes deslizando por seu rosto frio, enquanto as horas passavam, e o dia amanhecia, ainda sem nenhuma notícia.
A chuva já havia acalmado mas o céu continuava escuro quando a porta se abriu e o médico deixou o quarto, sem o casaco, usando apenas uma camisa clara dobrada até os cotovelos, manchada de pequenas gotas de sangue. Ele limpava as mãos em um pedaço de pano, e apoiou-se na parede quando viu Tristan ali no chão.
O capitão logo se levantou, e com o coração aos pulos, ficou de frente para o doutor.
— Diga algo. Por favor, diga logo que conseguiu salvá-la. — Tristan se aproximou do homem, com os olhos arregalados.
Abaixando a cabeça, o médico respirou fundo.
Nervoso, Tristan o segurou pela camisa e o chacoalhou, assustando o homem.
— Vamos, diga algo! — gritou, recebendo como resposta um olhar triste do doutor, que em seguida balançou a cabeça.
— Eu sinto muito. — murmurou ele. — Ela perdeu muito sangue, e não houve nada que eu pudesse fazer para conter o sangramento. Sua esposa se foi, senhor.
— Está mentindo. — Tristan exclamou, jogando o homem contra a parede, e entrando no quarto. — Nora! — chamou por seu amor, assustando as duas mulheres que estavam ao lado da cama, limpando-a e a arrumando. — Saiam!
— Senhor... — a criada tentou dizer, mas foi empurrada pelo capitão, que nada mais enxergava em sua frente.
Logo ele ficou sozinho no quarto, e se ajoelhou ao lado da cama, onde jazia o corpo de Nora e o bebê ao lado. Tristan tocou o rosto da esposa, e notou as manchas arroxeadas a baixo dos olhos dela, assim como a boca tão pálida. Ela ainda estava tão linda. Em prantos, ele ajeitou os cabelos dela, penteando com os dedos, e em seguida, segurando a mão dela, Tristan finalmente entregou-se a dor, suas lamúrias sendo ouvidas por toda a casa.
**
Ele fez tudo o mais rápido que pôde, antecipando o sepultamento da esposa e do filho, já que não havia muitas pessoas que pudessem comparecer ao funeral. Nora não tinha parentes vivos, e apenas as pessoas próximas de Tristan estiveram presentes por um breve momento. Não queria prolongar aquela dor ainda mais. E mesmo que as pessoas lhe questionassem, e lhe dissessem que ele estava sendo frio ao adiantar a fúnebre cerimônia, apenas o capitão entendia a dor que sentia.
Assim, numa manhã nublada, no adro da paróquia, com poucas pessoas presentes, o capitão Tristan despediu-se de Nora e do bebê. Aquela imagem do filho nos braços da mãe indo para a eternidade era a pior coisa que o homem já vira em toda sua vida, e doía-lhe tanto que ele já não tinha mais palavras suficientes para dizer algo, ou lágrimas suficientes para se derramar por seu rosto. Depois de uma breve oração, o caixão finalmente foi colocado na cova, e nesse momento, Tristan, disse o último adeus a sua família.
Quando tudo estava feito, ele ficou sozinho por mais um tempo no local, e ouviu algumas palavras vazias do pároco, que logo se retirou para seus afazeres, o homem já acostumado com aquela situação.
Gotas de chuva começaram a cair, e o capitão suspirou, sabendo que precisava ir, não importava o quanto lhe fosse difícil.  Com  um último olhar, deu as costas a sepultura e caminhou na direção da saída, fazendo um enorme esforço para não olhar para trás.
Quando chegou em casa, suas coisas já estavam arrumadas. O cavalo estava pronto para a viagem, e ele olhou pela última vez a casa que vivera tão brevemente com Nora, e que sonhara criar o filho. Era simples e pequena, mas era o suficiente para seus sonhos.
Mas agora eles estavam destruídos. E Tristan já não tinha qualquer motivo para permanecer ali. Sentia-se grato por poder voltar a seu regimento.
Então, naquele dia o capitão finalmente partiu, deixando para trás o passado, mas levando consigo as lembranças do amor da esposa e do filho, e as marcas da dor que se abatera em seu coração.
Ele jamais curaria a ferida aberta em seu peito.
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Finalmente começamos essa história! Estou muito feliz! E quero convidar você para participar do grupo no facebook, onde postarei novidades sobre o livro, spoiler e farei sorteios. Procure por Romances da Elissande. 🤗

Postarei o próximo capítulo no domingo. Espero você! Obrigada pela leitura e pelos votos ❤️

Um amor para o CapitãoOnde histórias criam vida. Descubra agora