Capítulo 4 - A coisa certa

12 1 0
                                    

A sensação ao ouvir a verdade sobre seu pai foi como se o chão de Sara, antes sólido e firme se transformasse em areia movediça. Camila percebeu que os olhos de Sara estavam enchendo d'água e ficou desconcertada, ela tentou apertar sua mão outra vez, mas antes disso Sara se levantou abruptamente e começou a circular a pequena sala onde estavam. A súbita mudança de comportamento pegou Camila desprevenida, ela pensou que a garota fosse ficar devastada, mas não estava.

– Eu não acredito que ele fez isso comigo. Com a nossa família! – Sara falava alto e Camila se levantou – Tudo o que ele fez foi mentir pra mim, ele me abandonou com uma mulher que eu mal conhecia...

Sara falava consigo mesma o que Camila achou divertido a principio até que percebeu uma familiaridade em seu olhar, aquele brilho que Camila conhecia bem: ira.

– Tudo bem que a Andreia é uma boa pessoa e é uma boa mãe pra Ingrid, mas esse infeliz teve a audácia de...

– Sara, você tá falando muito alto! – Camila a segurou pelos ombros e olhou de relance a abertura na porta – Eu não sei se deu pra perceber, mas Jonas e eu estamos em uma missão secreta, do tipo ninguém pode saber que a gente tá aqui.

– Desculpa. – pensou melhor se desvencilhou dos braços de Camila – Espera, desculpa o cacete. Eu estou vivendo um momento de crise aqui!

– Aí fala sério. – Camila se jogou na cadeira – E isso porque você ainda nem ouviu o resto.

Sara arregalou os olhos.

– Como assim, tem mais?

– É, a cereja do bolo. – cruzou as pernas – Agora ele tem um esquema. Ele faz um trato com os detentos e promete que eles vão ser soltos, mas na verdade ele os aprisiona em algum outro lugar e espera até a recompensa por eles chegar a milhões. Daí ele os vende de volta pra polícia. Ele é uma espécie de Robin Hood invertido.

– Isso não pode ser real. – se sentindo enjoada – Você está mentindo.

– Eu não tenho motivo pra mentir pra você. – disse séria.

O clima na sala fica tenso, elas se encararam estudando o perfil uma da outra. As duas só desfizeram o contato quando Camila escuta a notificação do computador.

– Finalmente!

Camila levanta e vai até a porta chamar Jonas. Sara não conseguia mais prestar atenção no que acontecia ali, ela estava mais ocupada tentando processar todas essas informações. Seu pai era um criminoso. Ela era a filha de um criminoso.

– Olha só pra isso, é a primeira vez que eu pego um professor!

– Gilberto Albuquerque. – Jonas leu e Sara despertou do transe.

– Como é? – Sara vai até o computador e vê a foto – Ai meu Deus!

– Conhece ele? – perguntou Camila

– Ele é o meu professor. Ele está na minha sala passando um seminário sobre autores brasileiros nesse exato momento. – se lembrou da aula – Ai puta merda! A minha apresentação.

Camila riu da expressão de Sara.

– Eu não esquentaria com a sua nota, seu professor vai ser preso em algumas horas... – disse Jonas teclando no celular.

– Legal, nosso trabalho aqui terminou. – comemorou Camila

Os dois começaram a arrumar a sala e guardar os equipamentos enquanto Sara assistia confusa.

– Sara, boa sorte aí com tudo isso. – Jonas afagou o braço dela.

Antes de chegar até a porta Sara segurou Camila pelo braço.

– Espera, vocês não podem ir. E o caso do meu pai?

– Não tem nada que a gente possa fazer. – respondeu Camila e Sara soltou seu braço rápido percebendo o que tinha feito.

– E tem tipo dezenas de outros agentes que já estão investigando o caso do Navarro.

– Deve ter alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar.

– Você tem alguma ideia do que está dizendo? – Camila encarou Sara – Seu pai é umd os criminosos mais procurados do mundo, sabe por quanto tempo ele pode ser preso caso alguém consiga encontrar ele?

Sem hesitar Sara respondeu:

– Se o meu pai é mesmo um criminoso ele merece ser preso. É a coisa certa a ser feita.

Jonas riu sem humor.

– O que você sabe sobre fazer a coisa certa? Você vive em uma bolha de privilégios, ninguém cortou a sua fortuna ou te impediu de estudar na faculdade só porque a policia tem medo que a história do seu pai caia na mídia. Quer um conselho? – Jonas chegou mais perto de Sara e ela deu alguns passos pra trás – Torce pro seu pai ser bom em se esconder e quem sabe você consegue manter a vida boa por mais alguns anos.

Camila sentiu que devia dizer alguma coisa, mas ficou calada e observou a reação de Sara que tirou uma mecha de cabelo do rosto e encarou Jonas. Com a voz firme Sara respondeu:

– Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele.

Jonas olha para Camila, ela arqueia as sobrancelhas e dá de ombros. Sara soube que Camila se impressionou com a resposta por causa do meio sorriso que ela tentou esconder.

– Eu sei de algo que pode ajudar. – disse Sara olhando para Camila.

– Eu conheço essa cara. Você tá pensando no assunto. – disse Jonas indignado.

– Pensa comigo, quem melhor do que a própria filha do criminoso pra ajudar a gente a pegar ele? – Jonas cruzou os braços – Eu não tô dizendo que a gente vai solucionar o caso sozinhos, mas a essa altura do campeonato qualquer pista é lucro, ainda mais pra gente.

– Então o que a gente faz? Leva ela de refém? – Jonas perguntou mais uma vez ignorando a presença da menina na sala.

– A gente não faz mais isso.

– Espera, como assim não faz mais? – perguntou Sara assutada.

– Somos novos nisso, ok? – Camila tentou tranquiliza-la – Além do mais, polícia não leva ninguém de refém, né?

Jonas deu de ombros sem saber responder, Sara olhava a conversa dos dois sem acreditar.

– A gente não precisa levar ela como refém porque ela mesma se ofereceu pra ir com a gente. – o tom de voz de Camila mudou para um sussurro sedutor que fez Sara ficar desconfortável – Sabe que eu não vou conseguir sem sua ajuda.

Jonas respirou fundo e olhou pros lábios da garota que estavam quase em um bico.

– Ok, você nós convenceu. – Jonas olhou para Sara – O que sabe de tão importante?

– Meu pai tem um esconderijo no escritório. Eu posso levar vocês lá.

Quebrando regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora