Capítulo 6 - Temos uma pista

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Atrás da porta havia uma escada estreita onde dava para passar uma pessoa por vez. No teto as luzes eram ativadas com sensor de movimentos, Camila reparou porque a partir de certa distância o lugar ficava um breu. Os três estavam disputando o lugar na entrada para poderem ver melhor. Sara não sabia o que esperava quando finalmente conseguisse abrir aquela porta, mas uma escada extensa que parecia levar até o centro da terra não a surpreendeu. Na verdade ela ficou até um pouco decepcionada.

– Legal, legal, legal... – Jonas murmurava enquanto olhava para baixo. – Alguém mais tá sentindo um puta ar de calabouço de assassino? Não, só eu?

– O meu pai alguma vez já... – Sara teve medo de terminar a pergunta.

– Não, não. Ele não é um assassino. – Camila deu alguns passos para trás se desvencilhando do empurra-empurra que estava ali. – Ele tem pessoas que mata por ele.

Sara se afastou de Jonas para olhar Camila e engoliu em seco.

– Eu não sei seu eu fico feliz ou chocada por você não usar eufemismos comigo.

Camila riu.

– Então – Jonas disse para chamar atenção para si – Como o cavalheiro que sou vou primeiro!

Camila e Sara o fitaram seriamente.

– O que? Eu vou proteger vocês se tiver alguma coisa lá embaixo.

– E eu vou fingir que acredito. – Sara riu da feição de indignação de Jonas – Mas de qualquer forma você não pode ir.

– O que? Por quê?

– Porque se a nossa amiga resolver quebrar o acordo, coisa que já fez antes, você vai dar a ela a localização exata do lugar que no momento é a nossa única vantagem. O risco é muito alto, você fica. – Camila se dirigiu a Sara. – E você...

– De jeito nenhum eu vou ficar aqui com ele. – Sara interrompeu – O esconderijo é do meu pai e eu tenho todo o direito de saber o que tem lá embaixo.

Não foi assim que Camila imaginou que Sara seria. Mesmo que fossem poucas as informações na ficha do Navarro, Camila antecipou uma garota tipicamente sabichona que temia figuras de autoridade, tudo isso baseado nos boletins dos seus anos de escola. Mas essa nova Sara que ela estava conhecendo era muito mais interessante do que ela imaginou. Nunca mais ela confiaria em esteriótipos. Camila mordeu o lábio inferior para segurar o sorriso.

– Eu só ia dizer pra você não esquecer o sapato.

Depois do incidente com o bolinho Sara tinha jurado para si mesma que não ia mais dar mancadas na frente de Camila, ela queria impressionar a policial de alguma maneira e pensou que imitando o ar de confiança de Camila ela teria algum sucesso. Ela mirou os sapatos e foi calça-los de cabeça erguida.

Pela demora até chegarem ao final Camila deduziu que o esconderijo de Navarro era em algum lugar em baixo de sua casa, como de costume ela começou a tentar antecipar o que estava esperando no lugar, planejou rotas de fuga, relembrou algumas técnicas de luta, não podia evitar estar em modo de ação o tempo inteiro. Algumas vezes chegava a ser enlouquecedor não ter mais o que pensar.

– Então – Sara disse na frente, sua voz ecoou pelo lugar – Jonas faz tudo o que você manda?

– Ele tem que fazer. Eu sou a chefe. – Camila disse sem muita emoção.

A informação pegou Sara de surpresa.

– Você não é fofa demais pra ser chefe?

Assim que falou Sara se repreendeu, lá se foi o alter ego confiante que ela interpretou. Sentiu o sangue preencher suas bochechas e agradeceu por Camila estar atrás e não conseguir ver seu rosto.

– Desculpa, o que? – Camila perguntou tentando não rir.

– Nova! – Sara se corrigiu – Eu quis dizer: você não é muito nova pra ser chefe de alguém?

Só dava para ouvir os passos das duas enquanto Camila levou uns segundos para responder.

– Eu acho que idade não é exigência pra ser chefe de alguém. – respondeu naturalmente – É, eu sou mais nova que ele, mas também sou muito mais experiente.

Ouvir a última palavra de Camila fez surgir um frio na barriga de Sara. Ela só não sabia dizer se era pela malícia como ela falou ou por imaginar a garota em ação trabalhando para a polícia.

– Aposto que é – ela respondeu ainda olhando para frente sem ver o sorriso de Camila.

As escadas levaram direto a uma sala enorme. As paredes eram cobertas por um papel de parede vermelho com detalhes pretos, e estavam espalhados posteres de jogos dos anos noventa e de alguns filmes antigos. Haviam vários computadores antigos, alguns até envoltos em uma caixa de vidro como se estivessem em exposição no museu. O esconderijo secreto de Navarro tava mais para um porão de adolescente fã de tecnologia. Agora sim, Sara se surpreendeu.

– Esse lugar é... – Sara não sabia completar a frase.

– Incrivel! – completou com os olhos brilhando analisando cada canto da sala. – Olha só esse IBM. – Camila correreu até o computador. – Foi o primeiro computador feito pra uso pessoal no mundo, não existem mais máquinas como essa.

– Ou essa – Sara se referiu ao fliperama que estava no centro da sala – Eu não conheço esse jogo, maniac mania?

– O nome me parece familiar, mas eu nunca fui do tipo gamer.

Camila se aproximou do segundo computador e chegou a encostar a aba do boné no vidro.

– Então você é uma nerd estilo geek?

– Eu não sou nerd, nem geek. – se ofendeu – Isso é só... Trabalho. – disse com amargura.

Sara riu e continuou vasculhando o lugar. Camila encontrou uma mesa longa com três monitores e o que parecia ser o computador de Navarro. Começou a trabalhar com seu pendrive para ter acesso aos arquivos e algum tempo depois percebeu que Sara estava espiando por cima de seu ombro.

– Aquele é o Jonas? – perguntou sobre um vídeo em um dos cantos da tela de outro monitor.

– Hum... – ela olhou e confirmou. – É. Pelo visto seu pai tem um sistema de segurança que transmite imagens ao vivo de alguns pontos da casa.

– Mas é claro que sim, quer dizer por quê não? – disse sarcástica – Ele já é um criminoso então porque ele ligaria pra privacidade da própria família?

– Sara, você não tem nada com o que se preocupar. Ninguém tem acesso a essas imagens... Bom, talvez você deva se preocupar um pouco com aquela câmera no seu quarto.

– QUÊ?

– Espera, antes de você surtar – Camila virou a cadeira para olhar Sara – Reinaldo alguma vez falou sobre um lugar chamado Corsica na França?

Era muita informação para Sara processar em pouco tempo, ela mal ouviu Camila falar enquanto olhava a imagem transmitida do seu quarto, ela queria gravar aquela posição para ir atrás da câmera e quebra-la em mil pedaços. Sara se forçou a tentar responder, mas agora estava com medo do que aquela câmera já captou, principalmente dos momentos que teve com Bárbara ali.

– Hãm, França... Meus avós viveram lá. Eu não sei o nome da cidade mas é, acho que pode ter sido Corsica. Por quê?

– Porque nesse exato momento tem alguém lá que tá trabalhando muito pra tentar encriptar essas informações. Ele é bom... – Camila digitava rápido no teclado e checava o monitor – Mas não tão bom quanto eu... Boom! Temos um endereço.

– Meu pai está lá?

Havia esperança no olhar de Sara.

– Eu não sei quem está lá, mas sei que sua madrasta acabou de chegar.

O monitor piscou umalarme assim que o carro estacionou na garagem. As duas trocaram um olhar e semdizer nada correram para voltar a casa. 

Quebrando regrasOnde histórias criam vida. Descubra agora