A Décima Sétima Carta

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Campos Verde, março de 2019

Não me lembro, mas tenho certeza que desde sexta-feira devo estar acordado com o pé esquerdo, Moabe.

Meus problemas começaram as cinco e quarenta da manhã de sexta quando tive uma discussão com a Bel, por causa daquela blusa preta -- igualzinha as outras dez blusas pretas do armário dela -- que peguei emprestada no dia que almoçamos juntas em Campinas... Depois li um email do Ezequiel dizendo que infelizmente não conseguiria continuar sendo meu orientador da pós graduação, só não surtei naquele momento porque ainda tinha a reunião com Eli e advinha?

Não fui mandada embora.

Contudo, não estou mais a frente do novo jogo. Ele afirmou que a cúpula não acredita que sou capaz de cumprir os prazos devido meu estado emocional abalado. Me deu projetos de mesa, esses são aqueles que um cliente nos procura diz o que e como quer e nós fazemos, é horrível, ninguém quer e agora está comigo. :/ Ainda fui posta contra a parede; tenho até junho para entregar um laudo psiquiátrico atestando minha sanidade mental ou então: fora. Porque todo mundo entende que o que aconteceu me traumatizou, porém, vivemos em uma sociedade capitalista e com trauma ou não preciso estar produzindo, se não produzo não tenho valor algum.

Cruel? Bastante. Verdadeiro? Cem por cento.

E ele não me fez chorar, só ter muita raiva.

Ainda por cima um camioneiro idiota me fechou e eu quase bati o carro. Gritei muito. Parei no acostamento e dei um ataque de pelancas, xinguei todas as palavras que aprendi com Joel, e essa ainda nem foi a pior parte. Ainda na sexta dei de cara com Mical, que supostamente estava fazendo uma visita para Mozart, mas foi com Davi que ela ficou conversando por quase quarenta minutos, conversando não, se jogando pra cima dele e meu irmão ainda convidou ela para voltar no fim de semana, assim que ela foi embora briguei com ele por convidar uma desconhecida para nosso fim de semana. Davi disse que chamou porque não viu outra opção, uma vez que ela estava praticamente se convidando... Ficaria chato, contudo, esperava que ela não aparecesse. Passou. A sexta melhorou um pouco, até Ruth foi razoavelmente agradável e eu lhe cedi meu quarto, não dava para ela dormir em qualquer lugar com aquela barriga enorme.

E tudo melhorou quando meus pais chegaram (o vôo deles atrasou cinco horas e pouco e invés de chegarem perto de duas da tarde, chegaram mais de oito da noite ainda na sexta).

Inclusive, eles estão parecendo bem mais velhos do que realmente são. Minha mãe até mesmo emagreceu, ela tão magra que acho que nem minhas roupas devem servir nela (e eu sempre fui um exemplo de magreza extrema, espero superar isso em breve). Foi um choque ver eles tão maltratados e só então entendi que Deus tem sido misericordioso e os livrado de coisas terríveis... Mas, eu queria mesmo era ver meus pais bem, Moabe. Meu coração parava quando eu tinha celular e o número era internacional e eu não reconhecia, sempre pensava que poderia ser uma trágica notícia sobre meus pais.

[CONCLUÍDO] CARTAS À MOABE - O Encontro de Uma Mulher Com Seu DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora