A caixa misteriosa

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- Chefa, você veio! - Jandir fala surpreso ao ver que eu havia cumprido com a minha palavra.



- Não ia perder a oportunidade de me livrar de você. - falo na esperança de que ele cumpra com a dele, assim como eu.



- Vou considerar como uma forma de demonstrar que você gosta da minha companhia. - fala se gabando.



- A gente vai surfar ou ficar de conversa fiada?



- Calma, linda. Vamos curtir o momento. É raro você me dar atenção por mais de 5 minutos.



- Não vai se acostumando.



- Eu gosto da ideia. - coloca o braço sobre o meu ombro e toca meu queixo com a outra mão.



- Quem chegar por último pega a onda menor.



Corremos em direção ao mar como duas crianças quando vão à praia pela primeira vez. Riamos e tropeçavamos na areia enquanto apostavamos pra ver quem teria a honra de enfrentar uma onda barra pesada como essas que há na minha ilha. A correnteza estava calma, algo que parecia ter acontecido a favor de Jandir, para que ficassemos apenas sentados em nossas pranchas, curtindo a brisa que vem do horizonte, esperando algum relevo na água que fosse apropriado para surfar, aproveitando a companhia um do outro. Enquanto isso permanecíamos em silêncio, tentando esconder qualquer desconforto que nos impedia de comversar. Nunca o vi tão quieto. Jandir é o garoto mais faladeiro que conheço. Tento quebrar a barreira silenciosa entre a gente:



- Acho que não é o nosso dia de diversão.



- Então você está confessando que é possível se divertir comigo?



- Não com você. Com o surfe. - falo revirando os olhos.



- Por que você me evita tanto? Sou bonito demais, não é?? Você não aguentaria a tentação. - passa a mão no cabelo como se estivesse exibindo - o.



- Bonito não posso dizer, mas com certeza é muito convencido e eu não aguentaria a pressão.



- Fala de uma vez, ai então eu te deixo em paz.



- Achei que eu estava aqui porque você prometeu fazer isso.



- Posso prometer de novo. Pra reforçar. - veste um sorriso irônico no canto da boca.



- Você é muito novo pra mim, Jandir. É isso.



- Então você ficaria comigo se eu fosse mais velho?



- Talvez, se você não fosse tão infantil.



- Se esse é mesmo o problema, eu posso mudar. - sua intonação foi como quem achou uma solução.



- Jandir, não vai rolar.



- Chefa, o que não vai rolar é a nossa tarde de surfe. Ainda tenho esperança de que um dia você vai olhar pra mim e dizer "que cara bonito, como não percebi isso antes?" e finalmente vai me dar uma chance.



- Por que você não para de falar besteira e guarda essa imaginação fértil pra você?



Espirro água no meu adversário partindo pra uma guerra. Minutos depois estavamos imersos na água, brincando e rindo como se, pela primeira vez, eu não estivesse tensa com a presença dele.



- Está ficando tarde. Eu preciso ir. - Falo remando de volta pra superfície, me colocando de pé e afundando minha prancha na areia ao ouvir o Jandir gritar por mim.



- Chefa, espera. Fica mais um pouquinho. Eu te acompanho até a sua cabana, que tal?? - diz, após me alcançar.



- Não, Jandir. Sua cota já deu!! Fiquei tempo demais. Mais do que eu deveria e mais do que eu havia prometido. Agora cumpra com a sua palavra. - aponto o dedo para ele e logo depois cruzo os braços. Ele percebe que estou irritada.



- Não vou forçar a barra, Iana. Promessa é promessa e eu vou cumprir com a minha!! - pega sua prancha e volta para o mar como quem também estava muitíssimo irritado.



- Rum. - bato o pé na água furiosa, também pego minha prancha e vou embora.




Caminhando de volta a minha cabana, sinto meu coração pulsar e ouço a mente gritar que eu não poderia ceder. Ao chegar, com olhos lacrimejantes, encontro minhas irmãs brincando ao lado de algo semelhante a uma caixa. Mas não uma caixa feita de madeira. Esfrego meus olhos afim de obter uma melhor visão sobre aquele estranho fenômeno. De onde havia vindo isso? Dos outros povos? Pois não parecia ser pertencente ao meu povo. Cautelosamente caminho em direção aquilo, que me dava a impressão de ser bastante desconhecido para mim. A única coisa que eu podia assimilar como comum, era o meu nome escrito em cima com grandes letras douradas. Não obtendo respostas ao perguntar as minhas irmãs quem havia deixado isso aqui, pego o que nominei de caixa estranha e vou, me escondendo ao máximo para não ser vista por ninguém, atrás de alguém que poderia abrir aquela misteriosidade comigo. Vejo - me novamente em frente ao mar ao qual eu estava alguns minutos antes. Aceno com os braços acima da minha cabeça afim de chamar a atenção de Jandir que agora estava vindo ao meu encontro. Mostro - lhe a minha preocupação que descansava aos meus pés. Ele a pega e a examina:



- Eita, chefa! O que é isso aqui?? - demonstrou - se bastante confuso.



- Eu não sei!! Não te parece estranho?? - faço uma pergunta retórica pois já sabia a resposta por suas expressões. - Encontrei em frente a minha cabana.



- Ai você resolveu me procurar?! - de um olhar preocupado passou para um olhar de vanglorização acompanhado de um sorriso convencido. - Nossa, Índia. Não sabia que você me achava uma pessoa tão confiável assi...



- Será que você pode levar a sério?? - coloco as mãos na cintura e o olho bem nos olhos.



- Bom... chefa! Se você não abrir nunca saberemos o que é que tem aí!



- passa pra cá, Jandir. - pego a caixa brutalmente, cansada de tentar adivinhar o que continha dentro dela. - Vamos para algum lugar tranquilo!




Caminhamos até o outro lado da praia, nos certificamos de que não havia ninguém por lá e que era seguro abri-la, pois não sabíamos o que encontraríamos. Após um olhar de confirmação, resolvemos deixar de lado a preocupação. Desvendamos, finalmente, o mistério daquela caixa. Quase não conseguimos enxergar com a abundância daquele minério que tanto temos em nossa ilha, mas aquilo era impressionante. Entre pensamentos confusos nos perguntamos de onde viria tal maravilhosidade. Nunca havia visto algo assim aqui, feito de ouro e com dois diamantes mais brilhantes que o próprio dourado dele. Eu o segurei com toda leveza que existia em meu corpo. Era tão frágil e poderoso ao mesmo tempo que sentia - me agora como uma Deusa selvagem.



Sua flecha alcançava a velocidade da luz. Sua mira era precisa. Seu manuseio era deliciosamente inteligível. Vejo - me como uma águia liberta voando rumo ao meu alvo argel.



Para acrescentar a bela surpresa que estávamos sendo concedidos, pequenos brilhos começaram um pequeno ritual a nossa volta. Nadavam ao vento, misturando - se uns com os outros até se transformarem num possível remetente.

"Lady Vanellope"





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