Capítulo 4

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" Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar... "


      A areia clara da praia reflete o calor do astro reluzente que já ocupa o ponto mais alto do céu.

      O mormaço escaldante do ambiente me causa fraqueza, tontura e a horrível sensação de estar sendo observado pelo próprio Diabo.

      Raramente consigo sentir a brisa refrescante que tanto se faz presente em meus sonhos. 

      Sonhos estes, que sempre tendem a se tornar terríveis pesadelos, o que me ocasionam não só um esgotamento físico, como também psicológico.

      É como se eles agora fizessem parte de minha realidade.

      Uma inexorável realidade, que há um breve período atrás, eu juraria que seria diferente.

      Ajudaria Brian em seus negócios na terra firme, conheceria o novo continente que tanto falam a respeito e quando finalmente voltasse a minha gloriosa pátria, realizaria um dos meus mais profanos desejos.

      Pediria meu amor em casamento.

      Veria seu belo sorriso carregado de surpresa, seus magníficos olhos castanhos emocionados e brilhando mais do que nunca ao ouvir as mais simples palavras, repletas do mais puro e verdadeiro sentimento.

      E estar aqui, perdido em algum lugar do oceano, sozinho e com apenas a companhia da morte em seu horrendo estado de putrefação, é algo em que jamais em meus poucos vinte e quatro anos de existência, eu conseguiria imaginar que seria o meu fim.

      Uma morte rápida seria mais prazerosa.

      Não me importaria nem um pouco em morrer pela ponta de uma espada, ou por um tiro em meu peito, ou até quem sabe, afogado como muitos que estavam presentes naquela maldita embarcação.

      Mas quando você é escolhido, não há o que se possa fazer.

      Estará preso a esta sina para uma eternidade que se extingue vagarosamente como se esta, fosse um humilde caracol que caminha em meio a uma horta, aproveitando as gotículas de orvalho que caíam durante a noite e as saborosas folhas de uma verdura.

      Sinto um estranho pressentimento preencher meu corpo no momento exato em que uma gaivota cruza o céu, olho instantaneamente para a vegetação a minhas costas que estremece devido ao pouso do que parece ser apenas pássaros.

      Na escuridão da mata vejo uma silhueta surgir.

      Emergindo detrás de uma árvore ela segue em minha direção.

      Estremeço ao notar seu corpo emoldurado e os longos cabelos que atingem até o meio de suas costas.

      Seu rosto é iluminado por um fraco feixe de luz que transpõe algumas folhas, revelando assim duas órbitas vazias de um rosto esquelético e negro como a escuridão de um céu sem estrelas.

      Seus passos, nem parecem tocar o chão. Um andar calmo que se transfigura em uma corrida rumo a mim. Estagnado no lugar. É assim que me encontro enquanto observo uma besta com uma fome insaciável vindo em minha direção.

      Fecho os olhos no ápice do impacto. Imaginando que está finalmente será a minha libertação.

      Espero.

      Um breve momento se passa quando forço minhas pálpebras a se abrir e tudo o que eu vejo em minha frente, são os resquícios de uma loucura que se expande em minha mente.

      As gaivotas gorjeiam ao longe, pequenos pássaros pulam de um galho a outro no alto da árvore e em meio a densa vegetação, o vazio se faz presente.

      Minha mente fica a vagar pela obscuridade, até que uma forte agulhada em minha cabeça me traga de volta a superfície desta realidade.

      Uma brisa passageira passa por meu corpo, chicoteando meus fios loiros. 

      O que está a acontecer comigo...?

      Observo a mancha de sangue já seca em minha camisa, noto um pedaço de couro marrom saltando do bolso e retiro o objeto, revelando o meu diário.

      Suas páginas se encontram amareladas e engrunhidas, muitas das quais eu já havia descrito meus dias estão borradas e até mesmo rasgadas.

      Escrever sempre foi uma rota de fuga para mim, o único lugar no qual em me permitia se perder em meio as letras, descrevendo tudo o que amava e construindo meus sonhos em meio a páginas em branco.

      Ela sempre esteve presente em minha vida, desde a minha infância onde minha mãe pacientemente me ensinava como fazer cada curva das letras, como sentir a fina ponta da pena deslizar suavemente pelo papel e como observar o poder em que a escrita podia trazer consigo.

      Um poder no qual poucos podem ter.

      Escrever não é algo que qualquer pessoa possa fazer.

      Escrever requer determinação e coragem em expor seus sentimentos em humilde papel.

      E é isto o que devo fazer!

      Escrever para minha amada, mesmo tendo a certeza de que ela jamais conseguirá as ler, mas que de algum modo, ela possa sentir a minha presença aonde quer que ela esteja.

      A presença de uma pessoa qualquer, que já foi feliz por tudo que possuía, mas que agora se encontra perdido e a chorar.

      Perguntando tristemente a si mesmo:

      " O que há de tão sagrado no sal? "

      Ele está em nossas lágrimas e no mar... 




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Hello my loves! Hoje eu trago a vocês o quarto capítulo da nossa história, espero que aproveitem com muito carinho...Para agilizar o processo, irei postar o próximo capítulo nesta quarta-feira (Dia dos Namorados ❤), será o nosso penúltimo capítulo... :( Fiquem de olho e obrigada por tudo!!❤ A big kiss to everyone!! ❤

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