Capítulo 5

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Cartas


     " Cristian Peterson, 1719

     Não saber quando o sofrimento irá acabar é uma dor que poucos podem suportar sobre si.

     É aceitar a morte como uma libertação, mas não saber quando ela irá consagrá-lo com sua presença, nem ao menos se ela realmente irá lhe dar essa honra.

     Porém, isto é para àqueles que acreditam que ela existe.

     Eu acredito, pois somente um ser como ela seria capaz de findar essa horrenda maldição.

    O rugido do mar me traz tranquilidade enquanto tento em vão, organizar tudo o que desejo escrever nestas folhas.

     Com ela ao meu lado eu saberia o que fazer.

     Sua alegria , seu sorriso, seu olhar me transmitiam algo tão forte, que nem o ser mais supremo poderia definir em uma única palavra.

     Uma eterna amizade.

    Uma paixão avassaladora.

     Um amor verdadeiro.

     Condensados em dois corpos com uma sintonia inexplicavelmente perfeita, mas que quando um se afasta, o outro sente os efeitos colaterais se expandindo por cada órgão do corpo.

     É dilacerante!

     É ver uma podridão funesta se aproximando vagarosamente e você não ter o que fazer, não ter para onde correr, não ter para onde ir... "




     " Cristian Peterson, 1719

     Ser o único sobrevivente de um naufrágio deveria ser algo concebido como uma graça.

     Mas levar a morte de tantos, por mais que você não seja a causa do desastre, é algo que nos sufoca, que nos destrói por dentro.

     E eu, com certeza sou a prova viva desta constatação.

    Ilusões, visões, podem chamar do que quiserem, já não me importo mais.

    O importante é dizer-lhes que elas estão aqui!

    Caminhando sobre o oceano, em meio a escuridão da floresta, ou até mesmo ao meu lado.

    Minha sanidade está sendo colocada à prova.

     E o pior é saber que aquela presença maligna me seduz de uma forma que somente uma única pessoa foi capaz de fazer .

     Se isto dói em meu peito?

     Imagino que saiba a resposta.

     É uma dor que se alastra pelo meu íntimo e se expande para a minha doce e cruel realidade.

     Eu estou a sofrer enquanto o ar entra e sai de meus pulmões!

     A morrer por ilusões de minha própria amada!

     Eu estou a falecer no esquecimento..."



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