Capítulo 4: Súcubo e íncubo em fuga

25 1 0
                                    

Dois dias se passaram. Mariah cuidou do funeral de Robert, mesmo sem um corpo para enterrar. O dinheiro da família proporcionava menos burocracia para as coisas, desde que fossem para assuntos relacionados à luta contra os demônios. Robert morreu pelas mãos de um deles. Não havia como essa morte passar pelo protocolo da polícia.

O enterro foi em São Paulo mesmo e no período da manhã. Nada de viajarem para os Estados Unidos para que Robert fosse simbolicamente enterrado ao lado dos familiares, o que Débora achou um absurdo e típico da tia. No entanto, não focou seus sentimentos nessa indignação ou em qualquer outro sentimento semelhante. O tio vivia com elas, então eram família dele também. Sentir raiva não adiantaria nada naquele momento. Junto dela estavam apenas um padre, Mariah, Rodrigo e três advogados da família que trabalhavam no Brasil. Débora foi a que mais se manteve próxima enquanto o caixão vazio era colocado no fundo da cova. Isso até Rodrigo se colocar ao seu lado e apoiar uma das mãos sobre o ombro dela. O rapaz a entendia; era como se Robert fosse um segundo pai para ambos. Débora nunca conheceu o pai e nunca havia se interessado por ele. Não até aquele momento. No entanto, guardou aquilo no canto de sua memória para uma outra ocasião. Não queria começar nova discussão com a tia, ainda mais por uma terceira coisa rondar sua mente. Naquele momento, ela olhava para os lados e se perguntava por Aratz. Dois dias se passaram; ela o havia deixado em seu quarto como solicitada e ele desapareceu.

Assim que retornaram à mansão, Mariah trancou-se na biblioteca e Débora foi para seu quarto. Em seu coração ela sofria muito pela morte do tio, mas não queria ficar com aquelas roupas pretas que estava usando. Pensou se o tio gostaria de vê-la apenas em roupas pretas e concluiu que um não seria a resposta mais óbvia. Então tratou de vestir uma camiseta e shorts, vindo a deitar-se na cama em seguida, olhando para o teto. Pensamentos, muitos pensamentos vinham em sua cabeça; pensava em tudo o que vinha acontecendo em sua vida; no que ela havia se tornado. Ali ela ficou durante longos quinze minutos até que alguém bateu à porta.

– Quem é? – ela perguntou sem se mover.

– Sou eu – respondeu Rodrigo. – Posso entrar?

– Entre.

Rodrigo abriu a porta vagarosamente, analisando o ambiente antes de entrar. Fechou a porta e ficou ali encostado enquanto observava Débora deitada na cama, olhando para ele com uma naturalidade que ela não conseguia passar. Assim, ela se virou para o outro lado e encolheu-se, segurando o choro e não esperando que Rodrigo fosse agir da forma como viria a agir.

O rapaz apressou-se em direção a ela, deitando-se com o corpo colado nas costas dela, abraçando-a pela cintura e mergulhando o rosto nos cabelos cheirosos da garota. Aquele não parecia ser um bom momento para sentir prazer no perfume dela, mas ele não resistiu.

– Rodrigo? – ela questionou depois de dar um gemidinho de susto.

– Não fuja de mim, por favor – ele disse entre os fios castanhos. – Eu quero cuidar de você. Deixe-me fazer isso. Por que as coisas não podem ser como eram antes?

A garota segurou com força a mão que a envolvia e as lágrimas voltaram a emoldurar sua face.

– Eu fiquei tão contente quando nos reencontramos, Rodrigo. Ficamos dois anos e meio separados. Mas, ao mesmo tempo, fiquei triste. Uma batalha dentro de mim. Eu não queria envolver você nessa luta. E eu nem fazia ideia de que fosse ficar cada vez pior – ela disse.

– Mas se não fosse a circunstância do emprego, talvez eu não tivesse a reencontrado. O tempo que ficamos separados nos distanciou um pouco em nossa amizade. E parece que essa distância ainda não foi vencida – ele fez uma pausa. – E esse demônio maldito do Aratz. Você fica na companhia dele de forma tão natural.

Prisioneiro delaWhere stories live. Discover now